O efeito imediato com a introdução de incremento de liquidez no mercado à vista e manutenção no mercado de derivativos/futuro é a contenção da pressão altista pela reversão de expectativas, que indicavam como inevitável a venda de divisas pelo BC no mercado à vista, e que, em tese, seria o gatilho detonador de uma especulação maior sobre o real ante um sinal claro de fragilidade do país na captação de recursos externos, insuficientes para financiar seu crescente déficit em transações correntes.
Ação contínua deve ser a persistência da massificação da oferta de liquidez pelo BC tanto no mercado à vista quanto no mercado de derivativos/futuro, que visará tirar do especulador o domínio sobre a formação do preço da moeda americana através da criação fictícia de demanda acentuada no mercado de derivativos/futuro.
A confirmar que a demanda no mercado de derivativos/futuro de dólar vinha sendo manipulada pelos especuladores está a resistência oposta a queda do preço, que se decorresse de empresas em busca de “hedge” seguramente seria arrefecida, em face à convicção de que a tendência agora é de queda do preço da moeda americana.
Claro estava que não era razoável admitir-se demanda intensa por hedge por parte das empresas com o preço da moeda americana acima de R$ 2,30.
Haverá resistência para ceder parte do lucro e até realizar algum prejuízo por parte dos especuladores, que, contudo, não encontrarão interessados em comprar proteção neste patamar de taxa cambial para reverter seus posicionamentos e, por isso, buscarão protelar ao máximo o ajuste de preço para baixo.
Inibida a pressão altista, com a continuidade da oferta de liquidez, o BC procurará quebrar a resistência dos especuladores e colocar o preço da moeda americana em linha de ajuste, direcionado gradualmente ao preço de R$ 2,30, provavelmente não menos do que isto.
O BC poderia ter realizado este movimento de oferta de liquidez nos dois segmentos do mercado de câmbio logo no início do mês, evitando que a taxa fosse aviltada, enfim, que ocorresse o “overshooting”, levando o preço a R$ 2,42 com viés de alta e que sugestionou opiniões de que o preço da moeda americana pudesse chegar a R$ 2,50 ou até R$ 2,70.
Ter insistido somente com a liquidez no mercado de derivativos/futuro com “swaps cambiais” não conseguiu sensibilizar o preço, visto que a demanda por “hedge” não era decorrente de busca por empresas, mas sim, forjada por movimentos especulativos. Parece não ter sido uma boa opção estratégica.
Como temos destacado, as ações de intervenção no mercado de câmbio dependem mais do jeito do que da força, por isso, não tem boa receptividade a ideia que tem sido colocada de se tributar os posicionamentos comprados no mercado de derivativos/futuro de dólar.
Será um jogo de paciência e persistência por parte da autoridade monetária, mas são promissoras as perspectivas de sucesso na busca do ajuste do preço da moeda americana.
Evidentemente que esta tende a ser uma solução temporária para um problema efetivo com o qual convive o país, que vê os fluxos líquidos de ingressos de recursos externos cadentes e insuficientes.
Mas esta estratégia poderá dar um desafogo no curto/médio prazos até que o país encontre uma forma para reconquistar atratividade perante os investidores estrangeiros.
A visão de desconfiança sobre a política econômica brasileira, seus problemas na condução da política fiscal, déficit expressivo em transações correntes, baixo crescimento e inflação alta deve persistir e continuar requisitando ações e modificações por parte do governo.
Porém, os ruídos em torno do câmbio têm uma capacidade de disseminação muito grande e rápida na economia, por ser uma espécie de termômetro que acusa que há febre na economia, por isso, nos parece extremamente relevante que sejam contornadas as exacerbações fundadas em ações especulativas.
Ademais, o seu preço distorcido acaba por agregar mais pressão inflacionária, num momento em que o BC/governo vem envidando esforços a partir da elevação da taxa de juros Selic para conter a inflação.
Ontem, o BC ofertou US$ 4 bi em linhas de financiamento aos bancos a prazo até abril de 2014, que consideramos bastante adequados. Consta que colocou US$ 3,6 bi, já que este dado não é divulgado pela autoridade e mais US$ 2 bi em instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais”.
Para hoje, já antecipou ontem um leilão de 20.000 contratos de “swaps cambiais”, algo em torno de US$ 1 bi.
Espera-se que mantenha constante a oferta de liquidez, tanto no mercado derivativos/futuro quanto de linhas de financiamentos, para os bancos lastrearem suas posições vendidas e gerarem liquidez para o mercado de câmbio à vista.
A continuidade da oferta de liquidez deve promover, após conter a alta, o abater da taxa cambial gradualmente e deixar os bancos com liquidez suficiente para atender a demanda que deve ocorrer com a intensificação de saída de recursos no momento em que o FED anunciar mudanças no programa de incentivo monetário.
Vamos ver se os especuladores, que se valeram de presumível falta de liquidez para elevar o preço da moeda americana, resistem a estratégia da autoridade monetária de promover a massificação da liquidez.