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Desvalorização do yuan vs dólar. Preocupações brasileiras são válidas?

A decisão do governo chinês de desvalorizar sua moeda em quase 2% não deve receber a conotação de guerra cambial, tendo em vista que muito além da busca de recuperação de sua competitividade no mercado exportador mundial, que registrou retração expressiva de 8%, a estratégia promoveu uma mudança relevante na definição do preço da moeda, com a autoridade monetária chinesa passando a se basear para o “fixing” da taxa em cotações colhidas dos “primary dealers” que atuam no mercado interno, correspondentes à taxa de fechamento do câmbio interbancário anterior.

Desta forma, a taxa de câmbio se tornará mais orientada pelo mercado buscando a viabilização de sua introdução mais forte no sistema financeiro global, ampliando a possibilidade de sua introdução na cesta de moedas que compõe o SDR, direitos especiais de saques do FMI. Atualmente integram o SDR o dólar americano, o euro, a libra e o yen e a pretensão chinesa de agregar o yuan a este grupo seleto objetiva tornar a moeda chinesa candidata a ser ativo de reservas internacionais.

Foi, a rigor, um movimento técnico e que pode desencadear uma reforma financeira de maior dimensão na China.

A China tem efetivos problemas não declarados claramente na sua atividade econômica e está buscando mudar pontos relevantes para que não sofra uma queda mais acentuada na dinâmica de crescimento do seu PIB.

Realiza de forma sútil uma flexibilização da sua politica monetária, não exatamente como os QE´s americano e europeu, mas focando da mesma forma impulsionar a retomada de ritmo de sua economia.

No Brasil houve repercussões e uma infinidade de ilações em torno do fato, com impactos nas cotações da moeda americana e no comportamento das ações das empresas exportadoras, considerando que a China é grande parceira comercial do Brasil.

Precipitação?

Acreditamos que sim, afinal o real tem sido severamente depreciado por razões do ajuste ao represamento ocorrido nos últimos anos do seu preço frente ao dólar e agora liberado pelo governo e, também, como consequência da deterioração de sua economia como um todo, com destaque para a questão fiscal, e que no conjunto tem provocado a fragilidade da moeda nacional e a baixa atratividade do capital externo produtivo pelo país.

Que impacto efetivo representa 2% de desvalorização no yuan frente ao dólar para o Brasil?

O preço na formulação passada vinha sendo bancada pela autoridade monetária chinesa e a resultante era a artificialização do preço do yuan, que num prazo em torno de um ano custou à China algo próximo de US$ 350,0 Bi de queda nas reservas cambiais do país.

No mesmo período o real foi desvalorizado frente ao dólar em percentual extremamente mais relevante, muito mais mesmo, e o que vem acontecendo é a queda das exportações e das importações, fator determinante do superávit que vem alcançando na balança comercial.

A grande massa de exportações brasileiras para a China é de produtos agrícolas (commodities) com preços cotados em bolsas, e, se as reformulações que estão sendo insinuadas pelo governo chinês trouxerem os resultados objetivados, a retomada da economia chinesa impactará nos preços das commodities em decorrência do aumento da demanda.

Este é um ponto relevante que não vem sendo objeto de abordagem nas considerações.

Então, acreditamos que os 2% de desvalorização do yuan frente ao dólar “não faz muita diferença” para o Brasil, principalmente depois que as cotações real/dólar assumiram maior realidade na sua definição.

Este é um tema que requer observação da causa/efeito e não juízos precipitados.

 

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