A economia americana sinaliza que pode estar se recuperando num ritmo melhor do que as expectativas, o que pode sugerir que as mudanças na política monetária por parte do FED venham a ocorrer bem antes do que o previsto e, inquestionavelmente, esta perspectiva pode impactar nos países emergentes que receberam montantes expressivos de investimentos externos em renda fixa e variável ao longo do período de elevada liquidez no mercado internacional, promovida em especial pelos QE´s implementados pela autoridade monetária americana, cujo término está previsto para outubro próximo.
O crescimento forte do PIB no 2º trimestre no ritmo de 4% anualizado, acima dos 2,9% previstos, agregando o fato de o consumo pessoal ter crescido 2,5% no mesmo período ante projeção de 1,9%, são dados que revelam que a economia americana retoma sua vitalidade após ter encolhido 2,1% (dado revisado) no 1º trimestre.
Acrescente-se ainda o fato dos dados da ADP indicarem a criação de 218.000 novos postos de trabalho no setor privado não agrícola no mês de julho. Neste quesito a economia americana tem gerado no todo média no ano de 197.000 novos empregos, acima 16,7% da geração no mesmo período do ano passado. Em um ano a taxa de desemprego cedeu de 7,6% para 6,1%, nível que era esperado somente para o final deste ano.
Hoje se encerra a reunião do FOMC/FED que deve emitir nota pós-encerramento e que eventualmente poderá não envolver os dados divulgados hoje, mas o fato é que esta reunião não prevê entrevista da Presidente Janet Yellen, que só ocorrerá na do mês de setembro. Contudo, é bastante provável que em abordagem fora de pauta a Presidente possa a vir se manifestar a respeito, hoje ou nos próximos dias.
O Brasil já dá evidências que terá fluxo cambial negativo no 2º semestre, com a intensificação de saídas de capitais especulativos que são arredios ao ambiente com incertezas e estas são inevitáveis em período eleitoral, independente das tendências, e agora mais ainda, como são recursos oriundos de operações de “carry trade”, com o fortalecimento da possibilidade da ocorrência de mudanças na política monetária americana. Este será um fator de pressão de demanda no mercado de câmbio à vista.
Eventual sinalização de mudança da política monetária americana pelo FED num período mais imediato poderá também estimular a migração de capitais não especulativos alocados no país para o mercado americano, e este poderá ser um movimento a mais, além do que já era esperado para este 2º semestre, a exercer pressão de demanda no mercado de câmbio à vista.
Por outro lado, tudo indica que o país terá neste 2º semestre como atitude dos investidores ante incertezas presentes, agregado também o fator do país apresentar baixo crescimento e inflação alta e haver dúvidas sobre a possibilidade do governo cumprir a meta do superávit fiscal, recuo no direcionamento de investimentos para o Brasil, considerando-se ainda que grande parte das captações externas por parte das empresas foram antecipadas e realizadas ao longo do primeiro semestre.
Este cenário prospectivo que reúne grande possibilidade de tornar-se real – ingressos em retração e saídas em expansão – imporia forte pressão de demanda sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, num ambiente em que os bancos já estão dando suporte à liquidez com a formação de posições vendidas em torno de US$ 20,0 Bi, que são lastreadas por endividamento dos mesmos no curto prazo, num contexto que não sugere melhora de fluxos cambiais no curto prazo.
O país tem reservas cambiais em torno de US$ 380,0 Bi, razão pela qual o governo brasileiro refuta continuadamente as insinuações de organismos internacionais que o colocam num grupo de cinco países mais vulneráveis. Contudo é altamente relevante que o país consiga manter este nível de reservas, principalmente porque o contexto do setor externo é adverso no curto prazo.
A questão é sobre qual será a fonte geradora da liquidez ao mercado de câmbio à vista: bancos ou o BC.
Se forem os bancos, o BC terá o papel de supri-los com oferta de “swaps cambiais” para que protejam suas posições vendidas, que serão suportadas pelo endividamento crescente de curto prazo com empréstimos gerados por bancos estrangeiros ou mesmo pelo BC com a utilização das reservas cambiais. Não haveria, a rigor, necessidade de expansão do volume de contratos de “swaps cambiais”, pois as saídas que ocorrerem seguramente estavam protegidas e o “hedge” foi liquidado.
Poderá ser também o BC, caso os bancos demonstrem desconforto em elevar seus endividamentos de curto prazo para lastrear as posições vendidas, mas esta é uma alternativa que embora pareça óbvia deverá, até onde possível, ser evitada pela autoridade monetária, pois ao dar maior evidência de que há insuficiência de fluxos para o país e que o mercado por si só não esta resolvendo, pode ensejar que movimentos especulativos sejam tentados sobre o real.
Ocorre que pressões sobre o real implicariam em apreciação da moeda americana e grande possibilidade de incremento nas pressões inflacionárias. Por isso, temos enfatizado que o setor externo pode ser o grande desafio para a política monetária.
O BC divulgou hoje os números do fluxo cambial até o dia 25 último.
Os dados confirmam a acentuada tendência a consolidação de fluxo cambial negativo no 2º semestre, estando neste mês de julho até o dia 25 negativo em US$ 4,680 Bi, sendo que o fluxo comercial está negativo em US$ 783,0 Bi e o financeiro em expressivos US$ 3,897 Bi.
Relevante observar que a despeito do país ter tido ingressos de recursos no ano até o dia 25 último de US$ 410,278 Bi brutos, o saldo do fluxo cambial no ano já está negativo em US$ 534,0 M com total propensão a forte expansão ao longo deste 2º semestre, que como ressaltamos deve ter intensificado o volume de saídas de recursos externos e retração de ingressos.
Os bancos acumulam até o dia 25 último posições vendidas no montante de US$ 18,426 Bi, valor lastreado com endividamento no curto prazo, que efetivamente corresponde a insuficiência de fluxos para o Brasil que vem se acumulando desde 2012 até o presente e que corresponde a 4,85% das reservas cambiais brasileiras.
A tendência do preço da moeda americana é de apreciação, mesmo com a intervenção do BC, situação que já estava no radar para acontecer neste 2º semestre, mas que pode se acentuar mais com os novos dados da economia americana divulgados hoje.