De repente o dólar beirando R$ 3,20 e certo euforismo, tudo sendo atribuído ao “Brasil Novo” do governo ainda transitório, que, a rigor, não conta ainda com grandes iniciativas a não ser ter estabelecido a politica do “gasto contido”, sempre vista com relativa desconfiança, num momento em que o país estabeleceu o déficit fiscal para este ano em estrondoso R$ 170,0 Bi, mas não adotou nenhuma medida efetiva adicional que permita que se anteveja correção de rumo e recuperação de trajetória.
E o pior, já há ruídos projetando expressivo déficit fiscal para 2017, salvo se, como tudo indica, houver a velha e tradicional prática de elevar tributos e não cortar decisivamente gastos.
Olhemos o contexto em torno do dólar.
O BC tem no mercado ainda US$ 62,0 Bi em contratos de swaps cambiais, com uma parcela vincenda em setembro de US$ 9,0 Bi, mas poderia “numa grande canetada” ofertar swaps cambiais reversos ao mercado, que parece tão entusiasmado quando não se vê tanto fluxo, e colocar o preço da moeda americana em parâmetros mais equânimes com o quadro econômico e fiscal do país.
Admitamos, com este nível de preço o BC realiza expressivo ganho sobre os estoques de swaps cambiais e “ajuda” a politica fiscal deteriorada do Governo.
Há também o fator altamente contributivo da taxa do real apreciado em beneficio da contenção inflacionária.
E como a balança comercial ainda gera expressivo saldo positivo pode postergar uma atitude mais forte e beneficiar-se da situação momentânea.
Contudo, é necessário observar que a despeito da performance da balança comercial o “caixa” (fluxo cambial) está negativo no ano em US$ 4,978 Bi, resultante de positivo liquido no fluxo comercial de US$ 24,2 Bi contra negativo liquido no fluxo financeiro de US$ 29,2 Bi.
É evidente que o comércio exterior do lado exportador brasileiro não ficará insensível a tamanha apreciação do real e tende a perder dinâmica, ocorrendo a aceleração do movimento importador de bens e produtos finais.
Não se pode subestimar a importância do preço da moeda americana ajustada a realidade do país como fator impulsionador da atividade exportadora da indústria, sendo, portanto esta taxa atual fortemente desincentivadora.
É um cenário muito complexo que pode determinar que não feche a equação, pois o real apreciado ao ajudar a queda da inflação desejada pelo BC para este ano em 6,9% pode afastar o país do PIB de 3,3% almejado.
O cenário externo está conturbado com a queda da atividade mundial e o fato novo relevante em torno do Reino Unido em sua relação com a União Europeia, não havendo ainda clareza sobre todas as repercussões econômicas e financeiras em torno deste cenário.
O Brasil está à margem e assistindo o desenrolar dos fatos, mas como país emergente em momento desfavorável não deve imaginar que seja tão atraente quanto à Rússia e outros países neste momento para refúgio de capitais estrangeiros.
Na medida em que for sendo materializada a consequência deste novo cenário europeu, o Brasil poderá saber se os reflexos serão positivos ou negativos e se o país atrairá ou não capitais estrangeiros e ganhara ou perderá no comércio exterior.
Há ainda os Estados Unidos sempre preocupantes com sua postura duvidosa sobre a decisão de elevar ou não o juro, fato que se consumado impactará nos países emergentes e o Brasil deverá estar à frente dado a sua situação pouco favorável no momento.
O Governo e o BC que o integra emite sinais buscando construir expectativas otimistas, porém neste momento, pouco de concreto foi feito efetivamente, e o país continua desempregando e naturalmente afetando a renda e o consumo, que cada vez é mais básico.
Não se nota fluxos intensos de recursos para o país, e o BC poderá gradualmente, até para incentivar a indústria com taxa mais equilibrada do dólar, colocar swaps cambiais reversos e assim antecipar a liquidação do estoque de US$ 62,0 Bi.
Afinal, se o BC disse que deseja que o mercado seja efetivamente flutuante deveria retirar esta intervenção o mais rapidamente possível, passando a atender a demanda efetiva no mercado a vista com a redução das reservas cambiais, já ditas pelo Presidente do BC, excessivas e com custo de carregamento elevado.
É preciso cuidados em torno do preço da moeda americana, não há fatos concretos para a dimensão da apreciação do real, mas há muitos para reconduzi-lo de forma rápida ao preço anterior.