A pandemia do coronavírus impacta de forma desastrosa na população e na economia global, mas no Brasil há um crescente dissenso político que afeta a imprescindível coesão em torno das ações focadas na causa maior e que fomentam a discórdias políticas e jurídicas, que desaguam na economia.
Triste Brasil, por vezes parece acéfalo e faz emergir um ambiente de insegurança e incerteza que agrava ainda mais as perspectivas já amplamente comprometidas pela pandemia.
O dólar havia conquistado uma trajetória corretiva de expurgo da exacerbação contida no seu preço atual no mercado brasileiro, mas na última sexta, mais por razões perturbadoras na área política intestina do próprio governo, que tem sequência hoje, e que de forma silenciosa turbinam as preocupações já presentes, incrementando as dúvidas e incertezas para muito além das consequências da pandemia.
Nem mesmo a discreta fala do Ministro da Economia com senadores acerca do desconforto de ter o país uma Dívida Pública de R$ 4,0 Trilhões e contraditoriamente um excessivo estoque de reservas cambiais em torno de quase R$ 2,0 Trilhões, numa manifesta e tentadora motivação em se desfazer de parte das mesmas para ancorar os dispêndios relevantes que estão sendo realizados no enfrentamento da pandemia, foi capaz que assegurar o viés de depreciação do dólar no nosso mercado.
Não nos surpreenderá se esta estratégia for utilizada em algum momento, afinal parece que faz parte das intenções do Ministro da Economia bem antes da crise da pandemia, quando, com o melhor estilo de “trader” salientou ao defender o “câmbio alto/juro baixo” que vender reservas a R$ 5,00 seria excelente para o governo. Agora, tem certamente uma motivação até maior, mas a fala parece que passou ao largo das preocupações do mercado.
O dólar, pela manhã, se valorizava discretamente contra as moedas fortes, mas de forma expressiva frente às principais moedas emergentes latinas, e isto pode estar encobrindo repercussões de natureza política.
Esta deverá ser uma semana de muitos confrontos internos de natureza política, perturbações inconvenientes quando os problemas atuais em torno da pandemia clamam por esforço coeso a todos os níveis.
O Boletim FOCUS “ousa” em projeções neste ambiente incerto e inseguro.
Atribui projeção de IPCA em 2,52% num momento em que se assistem inúmeras remarcações de preço na ponta do varejo, fato até que permitiu ao inerte PROCON ações de intensificação com sucesso em grandes supermercados, e que adicionalmente aos efeitos do dólar com preço elevado podem dar uma contribuição de até 0,30% no IPCA de abril.
O IGP-M um índice financeiro que reajustas inúmeras operações no mercado financeiro e os alugueres, já vem demonstrando os efeitos nefastos consequentes do preço do dólar aviltado.
Na semana passada o discurso do Presidente do BC havia sido assertivo e havia impactado, e precisa ser repetido e enfatizado, e o BC precisa ser mais atuante de forma indutora no mercado a vista, exagerando na oferta de liquidez, e, hoje dá sequência aos leilões de compra de títulos soberanos em poder das instituições financeiras nacionais focando liquidez externa às mesmas, porém de forma mais segura tecnicamente do que a pura oferta de linhas de financiamentos em moedas estrangeiras.
A volatilidade é algo inexpugnável dos mercados neste momento e ainda será duradouro, mas o BC deve atuar de forma assertiva e contundente para inibir a exacerbação do preço do ativo dólar no nosso mercado, considerando que temos reservas cambiais que nos escudam diferentemente de outros países emergentes, e isto é um fator relevante neste momento.
Mas sua atuação precisa ser como destacamos assertiva e contundente, com autoridade e sem a complacência de trader.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO