A ata da mais recente reunião do BC/COPOM evidencia a percepção de que a atividade econômica brasileira ganha tração e que isto provoca a queda da ociosidade do setor produtivo, e, como consequência pode haver pressão inflacionária, que a rigor não é desejável antes que a recuperação ganhe sustentabilidade, mas, evidentemente, o fato deve intensificar a atenção sobre o comportamento do câmbio.
Até então, o câmbio, embora seja propagador rápido de sua disfuncionalidade nos preços relativos da economia, vinha tendo mitigado seus possíveis efeitos dada a incapacidade de repasse para os preços com a atividade econômica inerte, porém agora urge que seja expurgada esta disfunção, até certo ponto permitida e incentivada pelo BC com sua intervenção no mercado de câmbio com leilões neutros, que dá resistência à disfunção.
O BC não adotou a suspensão, como seria razoável, dos leilões neutros passando-os a tão somente leilões de moeda à vista, mas adotou outra estratégia e promoveu ontem e hoje dois leilões de linhas em moeda estrangeira com recompra no montante de US$ 1,25 Bi cada, certamente por ter, também, a convicção de que os fluxos cambiais positivos estão na iminência de ocorrência para o Brasil.
Como o leilão ocorre às 10 horas e a Ptax é a taxa de referência este fato sustenta discretamente o preço, mas que naturalmente cederá gradualmente.
Com isto é dado ao mercado um impulso a mais para que fortaleça a probabilidade de fechamento do ano com a taxa cambial em R$ 4,00, o que já estava, em conformidade com o nosso ponto de vista, delineado, contrariando a projeção do FOCUS que a coloca em R$ 4,15.
Urge que o Brasil tenha a taxa cambial ajustada em linha com o seu “status quo” na questão cambial e que os movimentos mutantes decorram de fatores intrínsecos de influência normais e fundamentados.
O país tem soberbas reservas cambiais que o deixam imune a crises cambiais, estratégias operacionais adequadas e goza de excepcional conceito de risco com um CDS em torno de 97 pontos, portanto não há porquê confundir-se em linha com outros emergentes.
A reação pró Brasil e a retomada do otimismo estão, por enquanto, alavancadas pela segura perspectiva de que a economia intensificará a tração e, naturalmente, haverá a recuperação do todo, gradualmente, e o retorno dos investidores estrangeiros de qualidade, não mais especulativos.
Evidente que o embate sino-americano influencia o comportamento do mercado global e é inevitável que ocorram repercussões no Brasil, mas o momento brasileiro não se limita a este fato, que, por vezes, pode não ser tão favorável no comércio internacional ao sinalizar entendimento entre os conflitantes.
Por isso, não nos parece adequado “atribuir-se tudo com uma única visão que decorra dos sinais emitidos pelo embate sino-americano”, relegando a plano secundário a mudança rápida e amplamente positiva das percepções no em torno do Brasil.
O viés para fechamento do ano em R$ 4,00 perdura sustentável.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO