Incertezas são as mesmas e, digamos crescentes e preocupantes e pouco se percebe que possa eliminá-las ou aprofundá-las, o Brasil cada vez mais deixa de ser um país para principiantes, cada vez mais se exaurem quaisquer fundamentos que possam nortear as perspectivas econômicas, que assim mantém o risco de piora, pois há uma inércia na gestão da economia e da saúde, com o quadro agravante.
Temos salientado que não há tendências, o ambiente não as permite, sufocado pelo péssimo sentimento prospectivo que o circunda, e num cenário sem perspectiva alteram-se as adjetivações às causas, sem que haja mudança nas essências e intensifica-se a percepção desconfortante de que o que está ruim pode ficar pior.
Certeza, somente a que vem sendo proporcionada pelo setor agro, confirmando sua firme performance nas exportações, ancoradas pela demanda externa e pelo dólar em patamar estimulante, e que poderá atenuar a forte queda do PIB brasileiro neste ano de 2020.
O saldo positivo da 1ª semana de maio de US$ 2,475 Bi positivo da balança comercial é a expressão inequívoca e isto colabora muito para os segmentos envolvidos na cadeia produtiva e de logística, mas, no mais, a falta de alinhamento perdura e com ela o desalento se faz crescente.
Teorias as mais diversas, tais como a costumeira “nossa economia vai ter comportamento em V”, mas na realidade ninguém consegue “ver luz ao final do túnel, sequer o final do túnel”, a percepção é que estamos num voo cego e não sabemos quantas turbulências haveremos de enfrentar até quando houver possibilidade de retomada das atividades de forma ordenada.
O preço do dólar com preço alto, antigo desejo do Ministro Guedes, mas, acreditamos, nem tanto neste ambiente “veio para ficar” e está muito distante para projeções de recrudescimento no curto/médio prazo, pois vai demorar, quem sabe uma década, para o reordenamento da crise fiscal, um dos fatores, se bem que o país precisa retomar a atratividade e credibilidade aos capitais estrangeiros para os investimentos em sua infraestrutura, mas que carecerão de marcos regulatórios confiáveis, sem riscos de judicialização, e esta perspectiva não nos parece factível no curto/médio prazo.
A capacidade de consumo interno demandará anos para ser restabelecida face aos danos a que a população está sendo acometida, e assim, as exportações poderão ser a “porta de saída” para a retomada da atividade econômica, ancoradas pelo “legado do câmbio alto” que deverá ser quase irreversível.
A Bovespa como um todo deverá continuar volátil, porém deverão existir alguns papéis de exportadores beneficiados pela situação que poderão preponderar e despertarem atratividade.
No mais, por ora é muito provável que continuará o “mais do mesmo” até que a crise se agrave intensamente e torne imperativa a convergência das dissonâncias presentes, para que não ocorra o fracasso generalizado consequente da dicotomia atual, em que não haverá nem vencedores e nem vencidos e o grande perdedor seja o país.
Por isso, precisa ser rápida a convergência, visto que no Brasil, o “cobertor é curtíssimo”!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO