O Brasil terá um ingresso pontual de US$ 4,0 Bi do bônus do leilão do campo de Libra no princípio de dezembro, via mercado, como assegurou o Ministro Mantega, mas é muito provável que, no momento, pelo fato de estar com o real apreciado, possa estar sendo preterido pelos investidores especulativos no direcionamento de recursos para o Brasil, considerando que há um risco de variação cambial considerável presente que neutraliza a atratividade da rentabilidade proporcionada pelo juro brasileiro, que tem um viés acentuado para atingir 10% aa.
Não é uma soma tão relevante tendo em vista a nossa NFE (necessidade de financiamento externo) atual e, como salientamos, a retração provocada pelo real apreciado pode estar tirando a oportunidade de aumento de fluxos especulativos em volume maior do que a cifra do bônus.
O dólar continua sendo cotado entre R$ 2,16 a R$ 2,18 e as projeções para final do ano continuam prevalecentes em R$ 2,30, o que sugere uma variação até lá de 6% a 10%.
O BC não assumiu uma posição clara sobre a rolagem dos contratos de “swaps cambiais” de US$ 8,87 Bi vincendos em 1º de novembro, tendo iniciado com o discreto montante de US$ 1,0 Bi com prazos longos. No nosso entender deveria fazê-lo rolando somente 50% da posição vincenda mediante oferta com prazo curtíssimo, preferencialmente 1º de dezembro tendo em vista que coincidiria com o ingresso dos US$ 4,0 Bi no mercado à vista.
Com isto, certamente teria resposta de depreciação do real, sem grande impacto inflacionário pela gradualidade e sem muitos ruídos, mas conduzindo o preço para níveis mais próximos dos fundamentos e com chance de conquistar uma melhora de fluxo com potencial de reverter a tendência de repetição de fluxo negativo.
O comportamento da formação do preço do dólar continuou volátil pela indefinição do BC quanto à rolagem do substantivo lote vincendo em 1º de novembro, que teve um início com oferta de lote muito pequeno, e que no todo tem capacidade de influenciar na cotação do dólar para menos ou para mais.
Mantida a incerteza e o suspense por parte do BC em torno da atitude operacional que adotará, a volatilidade deverá continuar presente e até se intensificar.
Não acreditamos que a perspectiva do ingresso de US$ 4,0 Bi em dezembro já tenha repercutido na formação do preço da moeda americana, pois até dezembro, mantida a taxa cambial deprimida, o país poderá, como destacamos, perder fluxo de montante muito mais expressivo do que este ingresso previsto.
O Brasil já recebeu este ano algo como US$ 20,0 Bi direcionados para renda fixa, principalmente nos meses mais recentes quando houve a desoneração do IOF e não conseguiu até o momento reverter o fluxo cambial negativo
É imperativo que não se perca de vista o fato do Brasil estar registrando neste ano expressivo déficit em transações correntes, e que tem enorme tendência de não conseguir o volume de recursos externos suficientes para financiá-lo, e que já está praticando estratégia própria para tempos adversos, como bancos com “posições vendidas”, concessão de linhas de financiamento e colocação massiva de “swaps cambiais”.
Se o BC preterir fluxos externos possíveis, de imediato, com o estímulo do real apreciado, mesmo que predominantemente recursos especulativos, focando combater a inflação com esta conduta colocando o preço do dólar como coadjuvante de politica monetária de rigor, terá um cenário de curto prazo perseverando ruim para o câmbio, que poderá ter mudanças bruscas.
E, adiante, logo ao início de janeiro já estará sobre a mesa o questionamento das questões fiscais dos Estados Unidos, que têm potencial inibidor para fluxos para os emergentes, o que envolve o Brasil, e o assunto FED e o “tapering” ( redução do programa de incentivo) também poderá estar na pauta já no 1º trimestre em 2014 , com potencial não só de inibir os fluxos para o Brasil, mas principalmente o de estimular a saída de recursos, o que é pior.
Assim, também não há cenário para que vislumbre um contexto favorável no médio prazo.
O próximo ano será propenso a problemas mais intensos de fluxos de recursos para os emergentes, o que inclui o Brasil, e a tendência é de valorização da moeda americana.
E, certamente, não dará para continuar a suprir a demanda do mercado com as “posições vendidas” dos bancos, ancoradas em linhas de financiamento (venda a vista e recompra a prazo) concedidas pelo próprio BC, combinadas com a colocação substantiva de “swaps cambiais”.
O pior dos equívocos pode ser a indefinição ou priorizar a utilização do preço do dólar para ajudar no combate da inflação, e depois por carência de fluxo ocorrer uma alta tão intensa que impacte inflacionariamente anulando os efeitos positivos eventualmente obtidos.