A percepção predominante é de um segundo semestre com agravamento do quadro econômico do Brasil, já com um cenário de forte deterioração, restando tão somente um frágil controle para que a inflação não sancione com sustentabilidade a superação do teto máximo da meta e ausência de consolidação de um novo quadro de desemprego, que, contudo, já não revela o mesmo dinamismo de outrora.
Não precisa ser resultado opinativo, os números falam por si.
Atividade econômica fortemente cadente e que evidencia perda preocupante de níveis de investimentos, fator básico para que possa ocorrer a reversão já que a diretriz de consumo atrelado a crédito já configura exaustão, havendo agora endividamento e sinais de queda da renda, que até recentemente era consequência de aumentos superiores à produtividade, um dos inúmeros fatores impulsionadores da inflação.
A baixa performance de atividade industrial e expressiva fragilização dos investimentos poderão voltar a reativar as importações, que tem revelado expressiva queda.
A situação fiscal fortalece, como consequência do baixo crescimento e gastos do governo, perspectivas de não consolidação da meta revisada de 1,9% para este ano, e isto não foge à percepção das agências de rating.
Fragilizada tendência de que ocorra intensificação de fluxos cambiais para o Brasil, porém havendo fundamentos sólidos para que se espere considerável saída de recursos do país, em especial daqueles considerados especulativos, face ao crescente ambiente de incertezas internas e, também, pelo fato de terem consolidado expressivos ganhos.
O fluxo cambial líquido financeiro já está negativo, a despeito do expressivo montante de ingressos havidos por este segmento em concomitância com os ingressos, e doravante este fluxo adverso deve se acentuar, com a queda dos ingressos e intensificação das saídas.
Ao observarmos as projeções contidas no Boletim FOCUS divulgado hoje pelo BC, com data de 11 de julho passado, expressando as medianas das opiniões das instituições financeiras, percebemos que, mais uma vez, reduz a projeção do PIB para o ano de 1,07% para 1,05%; da mesma forma eleva o retrocesso da produção industrial de negativos 0,67% para negativos 0,90%, e eleva a projeção do IPCA de 6,46% para 6,48%, evitando coloca-lo em patamar acima de 6,50%.
Mas o aspecto que chama a atenção é o fato de ter reduzido a projeção do preço do dólar ao final do ano de R$ 2,40 para R$ 2,39, ao mesmo tempo em que eleva a projeção do déficit em transações correntes de US$ 80,0 Bi para US$ 80,75 Bi e reduz a projeção de saldo da balança comercial de US$ 2,70 para US$ 2,01 Bi. Falta coerência nesta redução do preço do dólar projetado para o final do ano e as mudanças no déficit em transações correntes e saldo da balança comercial.
Predomina no mercado o entendimento de que o déficit em transações correntes tende a aproximar-se dos US$ 85,0 Bi e que a balança comercial, salvo algum registro inesperado, tende a ficar próximo de zero, havendo alguma incerteza, até porque se espera recuo neste 2º semestre, se os IED´s atingirão os US$ 60,0 Bi. Além disto, o mercado financeiro sabe das incertezas presentes no campo econômico e político e que tendem a acentuar a saída dos capitais especulativos.
Por enquanto, o BC vem conseguindo administrar o preço da moeda americana, contando com a parceria dos bancos que desta forma evitam postar no Boletim Focus as projeções dos principais analistas manifestadas à margem da coleta de dados por parte do BC, mas há fatores consistentes que tendem a pressionar o preço da moeda americana no nosso mercado, e, nem sempre será eficaz a intervenção da autoridade monetária.
Na há duvida que o preço da moeda americana no nosso mercado está absolutamente assimétrico em relação à realidade do país.
O fato de o país ter reservas cambiais é um fator positivo, mas na realidade a propensão do BC vir a utilizá-las de forma objetiva, venda à vista ao mercado via leilões, são bastante baixas, até porque teria grande dificuldade de reposição no curto médio/prazo que se configuram desfavoráveis para o país. Com esta evidência presente, valer-se das reservas cambiais de forma direta poderia suscitar movimentos especulativos sobre o real, o que é preciso evitar a todo custo.
A saída tende a ser a de continuar incentivando os bancos a elevarem suas posições vendidas, com financiamentos diretos do BC com o uso para empréstimo das reservas cambiais o que permite que a autoridade monetária não se desfaça do estoque, ou, financiamentos de bancos estrangeiros.
Para que isto seja possível, a despeito do ambiente desconfortável de fluxos externos, é relevante que esteja presente a oportunidade dos bancos ganharem com arbitragens entre o custo do financiamento e a renda do cupom cambial.
Por enquanto, a saída é uma incógnita, visto que isto não se resolve diretamente com a oferta de swaps cambiais.