Há um considerável volume de dúvidas e incertezas em torno das questões que são consideradas fundamentais para que o Brasil do novo governo ganhe torque para dinamizar sua atividade econômica.
Chega-se ao final do 2º mês do novo governo, e apesar dos transtornos havidos com as questões de saúde do Presidente, houve avanço na questão preponderante e desafiadora para que o país possa buscar a superação da expressiva crise fiscal com a qual convive e que é a grande “trava” para que seja retomado o alinhamento com o desenvolvimento, ou seja, foi apresentada a proposta da Reforma da Previdência, mas este é tão somente o primeiro passo de uma, suposta, longa trajetória.
Dois meses já é muito para um país que tem pressa e precisa reencontrar a trilha da sua recuperação o mais rápido possível, e, tudo fica mais preocupante quando se admite com clareza que a principal e fundamental ação do governo, a Reforma da Previdência, demandará tempo maior do que o esperado, afetando as expectativas, ao mesmo tempo em que, cada vez mais, ficam evidentes que haverá forte pressão obstrutiva aos avanços fundamentais no ambiente do Congresso, por pressões corporativas e ideológicas.
É incontestável que há notória desarticulação na ação política do governo, o que se espera seja corrigida rapidamente, num momento em que preponderam de forma acentuada as críticas à Reforma da Previdência, ancoradas e consistente propagação de fakes News que tumultuam os entendimentos da população a respeito da realidade dos propósitos.
Tudo começa pós-carnaval, mas a expectativa mais rigorosa sugere que definição da matéria somente no 2º semestre e neste momento não se tem ideia concreta que quanto poderá ser a diluição e desidratação da propositura, o que mantém o cenário prospectivo conceitualmente BINÁRIO.
Ocorre em paralelo uma perda importante de foco no entorno da relevante matéria, consequente da perturbadora insistência de fustigar o governo com assuntos de menor importância, atribuindo-os letras garrafais e sugerindo maior importância do que realmente os tem e criando muitos ruídos.
O fato é que este ambiente de incertezas e dúvidas, ao qual se agregam estas perturbações desnecessárias, impacta e trava as decisões imprescindíveis do governo e dos setores produtivos com foco na dinamização da retomada da atividade econômica.
Fica então este clima enfadonho que motiva volatilidade em torno do intervalo do preço de R$ 3,70 a R$ 3,75, e tudo fica contumaz com o mais do mesmo diariamente.
O fluxo cambial financeiro na última semana foi negativo em US$ 1,805 Bi, estando positivo no mês em US$ 2,678 Bi e no ano em US$ 3,230 Bi, mantendo a evidência de que os investidores estrangeiros continuam retraídos em relação ao Brasil.
Há convicção de que os investidores estrangeiros se manterão reticentes em relação a investimentos no mercado financeiro brasileiro até que haja maior clareza sobre as possibilidades de aprovação e com que conteúdo a Reforma da Previdência, não se esperando postura diferente até que haja convicção.
Então, não há como se atribuir a este ou aquele evento interno ou externo movimentos fundamentados, pois não são revestidos de sustentabilidade para afetar efetivamente a formação do preço do dólar no nosso mercado, já que o país tem uma situação neste quesito com contas externas equilibradas, soberbas reservas cambiais e déficit em transações correntes com viés de alta, mas sem intranquilizar. Como temos salientado, está presente o “random walk”, a taxa de hoje é igual a de ontem mais a volatilidade positiva ou negativa provocada pelo fato novo de hoje, sem contudo dar sustentabilidade ao afastamento o intervalo tido como de equilíbrio do preço.
Atribuir a Brexit, USA-CHINA e suas discussões, FED e suas manifestações, fofocas políticas nacionais, etc… neste momento têm pouco impacto crível, pois as causas do marasmo são potencialmente internas e conhecidas e não há como superá-las de imediato, mas servem para justificar movimentos, embora não razoavelmente coerentes.
Notícias recentes indicam que CHINA e USA avançam nos acertos e que isto pode determinar aumento nas compras de soja americana, carne e aves pela CHINA, o que corrobora com o que temos enfatizado que não há como pontuarmos favoravelmente na Bovespa estes avanços, pois são contrários aos interesses do Brasil e das empresas brasileiras.
ENFIM, ACREDITAMOS COM GRANDE CONVICÇÃO QUE ESTA FASE DE VOLATILIDADE SISTÊMICA EM TORNO DO PREÇO DO DÓLAR NO EIXO ENTRE R$ 3,70 a R$ 3,75, SERÁ LONGO E DURADOURO NO NOSSO MERCADO.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO