Câmbio: preço à deriva dos ventos externos ante inocuidade efetiva do BC de agir!

Vitimado em grande parte por sua própria estratégia impulsionada no câmbio focando “câmbio alto e juro baixo” sem ter logrado sucesso, o BC se vê à margem de poder influenciar na formação do preço da moeda americana no mercado brasileiro, restringindo-se a intervenções profiláticas de suprimento de liquidez no mercado de câmbio à vista e na liquidez externa dos bancos nas suas demandas por linhas de crédito, com fornecimento direto em leilões de linhas de financiamento e/ou leilões de compra de títulos soberanos nominados em dólares em poder das instituições financeiras.

Desta forma, o preço da moeda americana consolidado no “novo câmbio” que se situa no em torno de R$ 5,00, que foi sinalizado como preço alvo por parte da autoridade monetária em inúmeras oportunidades, flutua sob a influência direta do comportamento da moeda americana no mercado internacional e não necessariamente em relação aos fluxos cambiais para o país, relegando à plano inferior aspecto importante como existência de reservas cambiais em níveis de conforto para enfrentar o momento conturbado presente no momento no cenário global.

O BC, na realidade, tem quase nada a fazer, após ter feito ou induzido a elevação do preço da moeda ao novo patamar focando uma estratégia ousada de dinamizar a atividade econômica através a superação das deficiências estruturais e conjunturais do país por meio de uma taxa cambial elevada, que poderia criar uma “competitividade e atração maior do país”, para os inúmeros vetores de impulsão da atividade econômica.

Para consolidar sua apocalíptica projeção só falta agora consolidá-la com a venda prognosticada à época de que poderia vender reservas cambiais a R$ 5,00! Já há setores relevantes sugerindo a venda de reservas para o enfrentamento da crise do coronavírus.

Ao que tem sido observado para que o em torno de R$ 5,00 é o limite até para os especuladores que se valeram fortemente do anseio propagado pelo governo e tornaram efetiva a conquista, se bem que é inegável que o “pulo final” teve a repercussão efetiva da crise do coronavírus, mas como se pode observar pelo IBC-Br, a dinâmica da atividade econômica brasileira já vinha capenga, portanto nem tudo pode ser atribuído à crise endêmica atual, já patinávamos com o insucesso da estratégia adotada para busca da retomada da atividade econômica.

Neste cenário chama atenção a revisão para melhor realizada pelo BC relativa ao déficit em transações correntes reduzindo a projeção anterior de US$ 57,7 Bi para US$ 41,0 Bi. Seria muito bom que esta revisão fosse assertiva, contudo, consideramos que os IDP´s que estavam projetados em US$ 80,0 Bi e foram revistos para US$ 60,0 Bi pode ser menor ainda dado o quadro que sugere PIB negativo para o ano, assim como a melhora do saldo da balança comercial otimizado de US$ 32,0 Bi para US$ 33,5 Bi pode encontrar dificuldades, pois o “câmbio alto” não estimula as exportações e os preços das commodities estão cadentes.

Neste ambiente nefasto atual não há como se construir projeções minimamente assertivas, pois não há fundamentos próprios da economia brasileira que possam lastreá-las e o cenário externo é de total humor mutante diário, bipolar mesmo, reagindo a todas e quaisquer fatos de curtíssimo prazo.

Então, prevalece o “random walk”, o preço de hoje será o de ontem consideradas as influências diretas do dia de hoje, mas não permitem projeções.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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