Desde o início das intervenções do BC no mercado de câmbio, em agosto, temos apontado e sido críticos da oferta de dólares à vista combinada com o mesmo volume de oferta de swaps cambiais reversos, por entendermos um contra senso, visto que a causa determinante objetiva que requisitava a ação por parte da autoridade monetária era e é a queda substantiva do fluxo cambial positivo para o país.
O país convive com situações atípicas para o seu contexto habitual, qual seja ambiente externo fortemente defensivo que desfavorece os emergentes em decorrência dos conflitos comerciais entre China e Estados Unidos, sem perda de vista de conflitos geopolíticos, e, ambiente novo internamente com o país convivendo com inflação baixa e que permite em consequência juro SELIC baixo e com viés de maior queda, num cenário de atividade econômica fragilizada, o que, no conjunto lhe retira a atratividade para os recursos estrangeiros de qualidade e, principalmente, os especulativos que ao longo de ano encontraram por aqui alta fonte de rentabilidade.
Os recursos estrangeiros, seja para conta capital seja para conta de investimentos no mercado financeiro, encontram desestímulo na fraca atividade econômica e na perda de atratividade do juro interno neutralizado pela baixa margem em relação ao juro externo, e mais, por este fato inviabilizar totalmente a montagem de operações de “carry trade” que forjavam os capitais especulativos que vinham com a arbitragem dos juros buscarem rentabilidade no nosso mercado financeiro.
E isto acontece mesmo o país tendo um CDS excelente, a despeito da crise fiscal com a qual vem convivendo desde governos anteriores.
Os números estatísticos recentes do BC deixaram bastante transparentes os números do setor externo brasileiro.
E, face ao ambiente conturbado no comércio exterior o Brasil também sofreu reflexos no comportamento no volume de suas exportações que teve redução expressiva no confronto comparativo mesmo período de 2019 e 2018.
O diagnóstico simples e objetivo no cenário cambial brasileiro é de queda substantiva do fluxo positivo, embora se saiba que isto incomoda mas não cria nenhum risco de crise cambial, visto que o país detém soberbas reservas cambiais.
Então, o que se esperava era tão somente a intervenção do BC no mercado de câmbio à vista suplementando a carência de fluxo cambial e preservando a liquidez do mesmo.
Tão somente isto, mantendo as demais ações contumazes no mercado como oferta de rolagens de swaps cambiais tradicionais e das linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, atendendo a demanda.
Contudo, a conjugação da oferta de dólares à vista no mercado à vista combinada com oferta de swaps cambiais reversos continua causando estranheza e deixa evidente que provoca o aumento da liquidez no mercado à vista, mas, indiscutivelmente contração da liquidez no mercado futuro, pelo efeito compra de sua ação com os swaps cambiais reversos, culminando com pressão altista do preço da moeda americana no mercado futuro, que como todos sabem, é quem dita a taxa do mercado à vista no Brasil.
Este movimento combinado acaba por ancorar o preço elevado do dólar e os fundos nacionais e estrangeiros, estes aqui ou no exterior, que se desapontaram com o corte de tão somente 0,25% do FED no juro americano, perceberam que o preço elevado está ancorado e voltaram a operar apostando na perda do Real, provocando desconforto para o mercado brasileiro, mas agindo com a tranquilidade dos que sabem que o país não corre o risco de crise cambial face ao substantivo volume de reservas cambiais.
E, naturalmente, entendeu que o movimento intervencionista do BC no mercado futuro dá suporte a ancoragem do preço elevado do dólar, quando muito ocorrendo pequenos movimentos de volatilidade sem sustentar o viés de baixa.
Esperava-se algo diferente, simples como parece sugerir o entrave atual, mas o BC já anunciou para hoje a repetência do que vem praticando nos meses anteriores, e então, não há expectativas novas, devemos ter “mais do mesmo” ao persistir com “mais do mesmo”.
Não há perspectivas favoráveis para se pressupor melhora do fluxo cambial para o Brasil no curto prazo, e isto envolve até o final do ano ou mais, e seguindo esta rotina muito provavelmente o Boletim FOCUS trará a consolidação da projeção do dólar a R$ 4,15 para o final do ano.
No nosso entendimento, o BC deveria atuar somente com oferta no mercado de câmbio à vista, como não o fez até o momento e que tudo sugere ser a atitude correta e objetiva, e, se ocorrer alguma disfuncionalidade, então agir corretivamente para contorná-la em seus impactos.
Esta mudança de estratégia de intervenção poderia atenuar o viés de depreciação do real permitindo uma melhor formação do preço e evitaria algum repasse inflacionário, mas não daria solução para a questão que envolve o ATÉ QUANDO O BC TERÁ QUE MANTER A INTERVENÇÃO?
Este ponto de interrogação permanece aberto e sem que se vislumbre a perspectiva!!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO