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Câmbio: Não há como não considerar os desafios de curto prazo!

Há percalços na trajetória do câmbio no Brasil, em especial ao longo do 2º semestre deste ano e não adianta buscarmos argumentos para tentar amenizar este quadro prospectivo de desconforto inevitável.

A baixa volatilidade que vem prevalecendo tende a desaparecer e teremos sim volatilidade com viés de apreciação do preço da moeda americana.

O setor externo é o grande desafio à política monetária do governo e dependendo da menor ou maior perturbação que causar poderá até vir a exigir do BC alguma medida em torno da SELIC, que já foi anunciada com manutenção elevada por tempo adequado pela autoridade monetária, mas não limitante a 11% aa.

Como temos ressaltado com muita convicção os fluxos de recursos externos para o país tendem ao negativo, num ambiente em que devem prevalecer as saídas de recursos e não somente isto, mas também a retração dos ingressos de todas as naturezas, inclusive atingindo os IED´s.

Esta contração forte de fluxos terão vários vetores de influência.

 Período eleitoral, independente das tendências para este ou aquele candidato, mas como medida prudencial por parte dos investidores externos em renda variável e fixa, em especial dos recursos tido como especulativos, tende a impulsionar as saídas de recursos do país, da mesma forma que os ingressos tendem a forte retração.

Recursos aqui alocados em renda fixa e variável podem ser motivados a saída do país por mudança na política monetária americana, hoje significativamente mais próxima do que até recentemente face aos dados da economia americana, como ressaltou o Presidente do FED de Dallas, Richard Fisher, mesmo considerando a ocorrência de indicadores pontuais menos favoráveis.

A questão do superávit primário brasileiro com pouca possibilidade de atender a meta estabelecida, conforme o próprio BC se manifestou, é algo inibidor para fluxos mais estáveis de recursos para renda fixa e variável e está muito no foco das agências de rating que poderão começar a insinuar revisão da nota de crédito brasileira.

O crescimento baixo e a inflação alta devem impactar nos fluxos de IED´s neste 2º semestre, que devem retroceder.

As captações de recursos externos por empresas brasileiras denotam ter sido antecipadas no 1º semestre e devem ter baixa expressividade neste 2º semestre.

Por outro lado, pouco ou nada pode ser esperado da balança comercial brasileira, fortemente tendente a negativa e que em julho já revelou alguma “magia” para revelar-se positiva em US$ 1,575 Bi, como consequência de uma venda pontual de plataforma de petróleo para Cingapura no valor de US$ 866,0 M, sem ter saído do país, e embarques de petróleo, com uma alta de 276%, e maior desde dezembro de 2010, no montante de US$ 2,6 Bi. Apesar disto, o saldo anual ainda permanece negativo em US$ 916,0 M.

Há, portanto, razões internas e externas que sugerem um ambiente com intensificação de saídas e retração dos ingressos, que promoverão o incremento do fluxo cambial negativo.

Então, nos parece ilusório imaginar que não teremos que enfrentar um período de “ressaca” de fluxos cambiais externos, que já temos preconizado desde o 1º semestre e que só não ocorreu pontualmente naquele período dada a ocorrência de fluxo de capitais especulativos, forjados em operações de “carry trade”, que aproveitaram a perspectiva criada pelo FED de que a mudança da política americana não seria tão breve quanto se esperava à época.

O mercado de câmbio aqui, com intervenção do BC no mercado futuro, e no exterior procura conviver com a perspectiva de mudanças da política americana, mas recentemente por ocasião do anuncio do crescimento do PIB no 2º trimestre deixou evidente o quanto poderá se sensibilizar quando a mudança se tornar efetiva.

O Boletim FOCUS parece bastante comedido no trato dos indicadores pertinentes ao setor externo, mantendo o preço do dólar para o final do ano em R$ 2,35, o déficit em transações correntes em US$ 81,45 Bi, saldo de balança comercial em US$ 2,0 Bi e fluxo de IED´s em US$ 60,0 Bi. Todos nos parecem fora do ponto, mas o FOCUS não tem uma tradição de acerto quando confrontadas suas projeções com os fechamentos dos anos. Contudo, nos indicadores que não envolvem a atividade do setor externo vem se mostrando mais próximo da realidade, sinalizando discreta redução na projeção para o IPCA-2014 em 6,39%, queda do PIB para 0,86% e produção industrial em -1,53.

Muito embora o preço da moeda americana tenha arrefecido o ímpeto de alta da semana passada, não se pode descartar que esta seja a tendência efetiva e que não fundamentos que sugiram que o país possa ultrapassar este semestre sem conviver com volatilidade mais acentuada e viés de alta no preço da moeda americana.

 

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