A demanda abrupta contumaz em situações de extrema fragilização da economia brasileira, desta vez não ocorre e há razões para fundamentar este comportamento.
Desta vez, o BC não está “correndo” atrás do crescimento da demanda descontrolada promovida por todos que têm passivos expostos em moeda estrangeira.
O mercado de câmbio revela uma tranquilidade atípica para tempos incertos, mas o que ocorre é que o fato do BC ter colocado no mercado futuro contratos de “swaps cambiais” em montante substantivo, mais de US$ 100,0 Bi, evita movimentos desordenados dos devedores em moedas estrangeiras e permite que tenha calma podendo, se esta for a decisão, retirar os recursos do país de forma tranquila e gradual.
Temos ouvido muitas críticas em torno da colocação pelo BC dos contratos de swaps cambiais, ao custo até agora de R$ 90,0 Bi, mas embora aleguem que são recursos de contribuintes colocados em benefício de um núcleo específico de devedores ao exterior, questionamos como teria sido e como estaria sendo se não houvesse a oferta de “hedge” por parte do BC.
Ao longo da colocação deste expressivo volume ocorreram sugestões e pressões no sentido de que o BC interrompesse as colocações e/ou rolagens, como se fosse extremamente fácil e sem consequências para a formação do preço da moeda americana.
Naturalmente a redução do volume de oferta e/ou rolagem sem impactos na formação do preço só é possível com a melhora substancial do fluxo líquido de recursos em moeda estrangeira, seja comercial ou financeiro, ou pela queda da demanda de “hedge” consequente de saídas de recursos no país, que então exercerão pressão sobre o mercado à vista.
Caberia então à autoridade monetária realizar vendas de divisas no mercado à vista para gerar liquidez, o que tem sido evitado e transfigurado como financiamento de linhas em moedas estrangeiras aos bancos, que assim praticam a estratégia de atuar com “posições vendidas”, atraídos por ganho de arbitragem. Atualmente, os bancos registram montante em torno de US$ 18,0 Bi em “posições vendidas”, não totalmente financiadas pelo BC.
O fluxo cambial está positivo em US$ 10,7 Bi, tendo sido utilizado pelos bancos que ainda abriram “posições vendidas” de US$ 18,0 Bi como necessidade complementar.
Mas é preciso considerar que pelos últimos números fornecidos pelo BC relativos ao fluxo cambial houve ingressos de US$ 13,0 Bi de exportações a realizar já contabilizados no mesmo e há US$ 17,0 Bi de importações com produtos ingressados e na condição de à pagar.
Desta forma, há uma propensão forte do fluxo cambial se consolidar negativo este ano.
É importante considerar que a ausência de “hedge” poderia ter determinado a saída de recursos estrangeiros do país desde quando começou a oferta da proteção. Então, o BC poderia ter sido forçado a vender reservas e isto ao longo do tempo poderia ter tido um custo maior do que os R$ 89,9 Bi contabilizados até o momento, já que não podemos perder de vista que o BC está ganhando a variação cambial sobre o estoque das reservas cambiais.
O mercado de câmbio está sob o estado de atenção, por isso observa mais e torna efetivo menos.
A manifestação da Moody´s sobre as medidas propostas pelo governo atenuou um pouco as tensões imediatas, visto que um segundo rebaixamento com perda de grau de investimento do país o desqualificará e fundos relevantes terão que deixar o país, pois assim determinam seus regulamentos.
Mas, o Brasil não pode se acomodar com a manifestação da Moody´s, que pode ser rapidamente revertida se houver entraves políticos para sancionar as medidas, e ainda há a FITCH que está observando tudo.
Assim sendo não há tranquilidade para o governo, mas sim a necessidade de viabilizar soluções com impacto imediato para cobrir o rombo no orçamento apresentado, e, na realidade, todos esperavam que houvesse corte efetivo na estrutura de ministérios e em gastos mais consistentes, pois ficou a impressão de que “cortará fumaça” efetivamente e o objetivo atingível concretamente, desde que aprovado pelo Congresso, é o aumento de tributação, especificamente da CPMF que é um imposto em cascata, já que a elevação de outros tributos tem provocado arrecadação menor pela perda acentuada de atividade econômica do país.
O fato dos passivos em moeda estrangeira estarem protegidos por “hedge” dá tempo aos devedores de observar o que acontecerá, mas não quer dizer que interrompa a tendência de saída de recursos do país caso a piora da economia já deteriorada se acentue e gere maiores incertezas quanto a liquidez do governo.
Portanto, o câmbio está aparentando calmaria devido aos passivos em moeda estrangeira estarem com “hedge”, mas há fatores que podem determinar que se acentue a demanda, mesmo que gradualmente como é a nossa visão, e o BC deve estar apto a gerar liquidez no mercado a vista, podendo ter que ir além da estratégia das “posições vendidas” dos bancos.
Isto coloca em perspectiva um cenário menos confortável se houver evidente desalinho dos anseios do governo com as resultantes, e é preciso ter atenção para a possibilidade de instalação de movimentos especulativos em torno do real caso o BC seja levado a vender dólares a vista para o mercado reduzindo as reservas cambiais.
A nosso ver, a tendência do preço da moeda americana é de alta, consolidando-se de forma gradual, mas muito condicionada a sucessão de resultados postos à frente, não devendo nem ser descartada eventual alta do juro americano que não acreditamos venha a ocorrer.
Mas é relevante que alguns setores que analisam as atitudes do BC avaliem de forma correta a atitude certa do BC com a oferta de swaps cambiais, cujo estoque ancora neste momento a aparente calma que prevalece no mercado de câmbio.