Consumada a perda do grau de investimento pelo Brasil, ainda que somente pela agência de rating S&P, ocorreu a enorme quantidade de projeções colocando o preço da moeda americana entre R$ 4,00 a R$ 5,00 e houve então, o ganho das manchetes e a quase certeza de que o preço estaria neste intervalo de imediato.
Houve até sinais do mercado de câmbio induzindo a isto, mas que, naturalmente, não se sustentaram, porque desta vez o contexto está diferente e a evolução do preço deve ocorrer de forma gradual.
E por quê?
Parece que o enorme volume de contratos de swaps cambiais colocados pelo BC no mercado que se constitui “hedge” para os detentores de passivos em moedas estrangeiras, assim como os contratos a termo realizados na CETIP, foram esquecidos.
Ora, se grande parte do passivo em moeda estrangeira dos detentores de exposição em moedas estrangeiros está protegida porque precipitações.
Mas isto não quer dizer que estes recursos não deixarão o país. Certamente uma boa parcela irá embora, mas desta vez de forma gradual e a demanda, diferente das ocorrências antecedentes em quadros desfavoráveis para o Brasil, crescerá de forma ordenada no mercado à vista, ou seja, exigindo que neste exista liquidez suficiente.
O Brasil tem reservas cambiais de US$ 370,0 Bi, das quais cedeu na forma de financiamentos diretos ou com contratos a termo uma parcela para que os bancos gerassem a liquidez que deveria gerar vendendo divisas ao mercado, outra parcela os bancos vêm obtendo de linhas externas com seus banqueiros externos.
O esforço tem sido manter as reservas cambiais intactas e atender a necessidade de liquidez do mercado à vista de forma indireta utilizando os bancos, que assim constituem “posições vendidas” e que tem como razão motivacional o ganho em arbitragens com cupons cambiais.
O BC evidentemente já percebeu que a obtenção complementar de financiamentos externos pelos bancos para suporte das posições vendidas, face à perda pelo país do grau de investimento, poderá sofrer retração na oferta e encarecimento dos custos.
Agiu rápido e fez oferta de contratos a termo (venda conjugada com compra) em moeda estrangeira aos bancos, que permite outra formatação contábil e não dá evidência direta nas posições vendidas dos bancos.
Como já salientamos, o BC precisará operar “cirurgicamente” nas suas intervenções no mercado de câmbio à vista que tende a gradualmente exigir maior volume de liquidez, o que certamente impactará no preço da moeda americana.
Os fluxos cambiais para o país deverão se acentuar negativos, mesmo o comercial que atualmente se configura positivo, mas já agrega US$ 13,0 Bi de pagamentos recebidos de exportações a realizar (pagamentos antecipados) e tem estoque de US$ 17,0 Bi de importações a ser saldado.
Com a perspectiva de fluxos cambiais negativos não haverá como os bancos liquidarem os financiamentos e nem os contratos a termo com o BC, que tenderão a ser rolados, a menos que obtenham linhas externas suficientes, o que nos parece inviável porque mesmo que consigam os custos tenderiam a se configurarem desinteressantes.
Então, teríamos uma redução do volume de contratos de swaps cambiais ofertados pelo BC e uma crescente demanda por financiamentos do BC aos bancos para atender a demanda do mercado à vista.
Ocorre que há limites técnicos que os bancos devem observar para não afetar negativamente seus balanços, e não podemos descartar que em algum momento a estratégia das posições vendidas com ganho nas arbitragens perder atratividade.
O surgimento de um novo contexto contrapondo-se a estratégia atual poderia via a exigir do BC venda direta de divisas ao mercado à vista, e este é um ponto relevante.
O país está fragilizado na sua economia e se tiver que utilizar diretamente suas reservas cambiais para atender a demanda do mercado à vista, poderá ficar vulnerável a ocorrência de ataques especulativos. Por isso é tão relevante para o BC não realizar vendas diretas ao mercado de câmbio à vista, fato por vezes conclamado por setores com baixo conhecimento das engrenagens do mercado cambial.
Os efeitos da perda do grau de investimento ainda não começaram a se materializar, mas evoluirão gradualmente e o quadro em torno do Brasil tende ao agravamento com reflexos na sua economia já bastante deteriorada. Dificuldades maiores afetarão o contexto interno e o externo, gerando maior inflação, ainda que a recessão atue com intensidade no sentido opostos, desemprego, perda de renda e queda de consumo, inadimplência, recessão crescente, etc… e com a baixa atratividade externa e saída de recursos a alta do preço da moeda americana gradualmente.
Desastroso seria um novo rebaixamento de grau de investimento por uma segunda agência de rating, ou mesmo, a alta do juro pelo FED americano, fatos que poderão estimular saídas de recursos estrangeiros do país de forma intensa e mais rápida do que imagina atualmente.
Os esforços aparentes do governo em equilibrar o Orçamento apresentado de forma absolutamente equivocada para aprovação com um déficit de R$ 30,0 Bi, tendem a causar efeito próximo de zero no quadro atual, e a elevação de tributos deixará mais evidente a presença da curva de LAFFER na nossa economia (quanto mais se eleva tributação menos se arrecada) e conduzirá ao agravamento da recessão e seus efeitos deletérios.
O preço da moeda americana tende desta vez a ser elevada gradualmente de forma irreversível, simplesmente porque grande parte do passivo exposto estar protegido por “hedge”.
Não nos iludamos com a aparente calmaria em torno do preço do dólar, certamente subirá!
O BOLETIM FOCUS que registra os indicadores medianos de uma centena de instituições financeiras continua evidenciando projeções assimétricas com a realidade.
Projeta o dólar ao final deste ano em R$ 3,70, algo bastante distante das perspectivas e a inflação em 9,28% quando alguns Estados já registram 10%. A intensificação da queda do PIB para 2,55%, da produção industrial para 6,20% parecem em linha com a realidade. A inflação de 5,56% para 2016 nos parece reduzida em demasia, embora os impactos da recessão não devam ser desconsiderados há perspectivas presentes de inflação mais alta este ano, e a taxa cambial de R$ 3,80 para o dólar ao final de 2016 não é crível face ao “status quo” do país e as perspectivas negativas para o setor externo. A queda do PIB 2016 em 0,5% é um indicativo na direção certa mas pode estar subestimado e a produção industrial crescendo 0,50% em 2016 é improvável com a projeção do PIB em queda.