Temos de uma forma bastante explicita expostos os números preocupantes das nossas contas externas, fluxos adversos, necessidade de financiamento externo, “posições vendidas” dos bancos ancorando a insuficiência de ingressos, etc., e, em alguns momentos de forma mais sútil destacando que “os números falam e precisamos ouvir”, num sinal de alerta para a deterioração crescente e persistente.
A despeito dos números “made in Brazil” serem crescentemente ruins, grande parte das análises ainda persistiam em continuar focando comportamento do dólar no mercado externo e atribuindo ao fator FED e o seu programa de incentivo monetário, as nuances do comportamento do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
Inúmeras vezes destacamos que o Brasil tem problemas tipicamente seus que impediam sinergia com o comportamento da moeda americana no exterior. Nossa realidade tinha efetivamente peso suficiente para impor ao preço dólar no nosso mercado bem acima do que vinha sendo praticado em patamar bastante irreal.
Mais de uma vez mencionamos o risco de perdermos a classificação conceitual de “investment grade” e que consequências poderiam advir deste fato se consumado, visto que os fundos de investimentos estrangeiros mais expressivos têm regras subordinantes que os impedem de investir em países sem este conceito, e, portanto poderíamos na ocorrência de uma revisão para pior ter saídas abruptas de capitais investidos no país.
Mas, ao que parece tudo isto era menor ante a perspectiva de que pudesse haver um fluxo de recursos pelo país decorrentes da postergação do inicio da redução do programa do FED e a possível renovada atratividade do Brasil ancorada na retomada da elevação da SELIC.
O BC, tendo bancos como aliados interessados, atuava induzindo tranquilamente a apreciação do real e tudo parecia normal com o preço a R$ 2,17, com muitos “almejando” um R$ 2,15, sem qualquer percepção dos fundamentos ruins presentes e bem evidenciados.
O resultado fiscal de setembro fez “cair a ficha” e trouxe à percepção de que o real induzido à apreciação desvaloriza as reservas cambiais, que sendo ativo financeiro impacta aumentando a divida liquida publica e contribuindo para o déficit.
Da mesma forma, deixou evidente que os US$ 4,0 Bi de bônus do campo de Libra perderam dimensão ante o déficit fiscal apurado em setembro.
“Caiu então a ficha” e na reação visando resgatar o desempenho fiscal cada vez pior, o governo além de ter permitido ajuste no preço do dólar desde a virada do mês de outubro para novembro, que agora ganha força motriz própria, que provavelmente precisará ser contida para não ir além dos prognósticos iniciais, deu inicio ao anuncio de vários cortes a desonerações concedidas, inclusive reduzindo os repasses para o BNDES e os seus créditos subsidiados.
A deterioração da politica fiscal ficou escancarada e a consciência de que as dificuldades para alinhar a inflação em rota da meta serão muito mais intensas do que vem sendo expostas nas manifestações atuais dos membros do governo tornou-se mais perceptível.
E, então parece que houve o despertar do mercado financeiro à percepção da dura realidade que circunda a economia brasileira, e tudo começou a se ajustar para pior, em linha com o quadro sugestivo.
A ação por parte do governo precisa ser intensa , rápida e eficaz visto que o quadro da politica fiscal vem sendo observado pelas agências de rating e isto pode custar ao país a perda da classificação de “investment grade”, o que será muito preocupante num ambiente já desgastado de contas externas bastante desfavoráveis.
Cada vez há menor expectativa de ingressos de recursos e acentuam-se os riscos de saídas, seja o contido na eventual perda do “investment grade”, seja na decisão do FED de dar inicio a redução do programa de incentivo monetário.
Temos reservas cambiais, mas se o governo as utilizar passando a suprir a liquidez do mercado, que neste momento está sendo provida pelos bancos através “posições vendidas” suportadas pelas linhas de financiamento fornecidas pelas autoridades monetárias que assim substituem a ação que deveria estar sendo realizada pelo BC, há o risco de promover o aquecimento de movimento especulativo contra o real, pois deixaria evidente a insuficiência de fluxos para o país por perda de atratividade.