Projeções otimistas e até exacerbadas, mas, ao que tudo indica, ainda carentes de maior convicção.
Tudo e todos, pelo menos internamente “apostam” em tendência de forte correção com alta na Bovespa e apreciação do real frente ao dólar.
Mas a percepção é que esta visão otimista está precipitada e menosprezando desafios internos que sustentam dúvidas e incertezas, além de não avaliar adequadamente a dimensão do embate que terá de ser enfrentando pelo governo junto ao Congresso Nacional, em parte, mas pelos setores corporativistas e ideológicos, por mais que as propostas das reformas previdenciária e tributária estejam alinhadas com o bom senso e a coerência.
Isto parece não estar ocorrendo com o investidor externo que se mantém reticente a respeito das oportunidades que possam existir no curto e no médio prazo no mercado brasileiro. Céticos, parecem seguros na postura de observar antes de agir e aguardar que os fatos prognosticados em tese no momento, venham a se consolidar como fatos consumados.
Isto se reflete no fluxo cambial de recursos financeiros que vem apresentando baixíssimo volume e desapontando as melhores expectativas.
Tudo leva a crer que ainda transcorrerá um considerável período de debates e embates em torno das propostas, e, não se espera tempos harmoniosos.
Esta trava, como temos assim designado este entrave, acaba por determinar um hiato no comportamento dos mercados de ações e de dólar no país, a despeito da postura mais recente do FED americano que beneficia as economias emergentes e o fato de ter sido empossado o novo Congresso, que acabou por eleger Presidentes do Senado e da Câmara mais identificados com o governo.
E os estrangeiros “emitem” sinais de retardamento de ingressos efetivos, e, denotam acreditar que o preço do dólar vai ser apreciado frente ao real, visto que continuaram “comprando” dólares no mercado futuro quando o preço deu este pouco fundamentado recuo para o entorno de R$ 3,65. Esta postura é um claro sinal que acreditam que o preço pode retomar o patamar anterior, convicção da qual também comungamos, ou seja voltar ao patamar de R$ 3,70/R$ 3,75 ou até um pouco mais se a demora em torno das discussões das reformas for protelada por mais tempo.
Acreditamos, que à margem do evento pontual em torno da Vale, a Bovespa perca o ímpeto altista até que o fluxo de investimentos estrangeiro se consolide de forma contundente como esperado pelos analistas, sem o que perderá a forte convicção de alta imediata que vem sendo propagada.
Podemos ter um cenário característico como “andar de lado” com volatilidade natural decorrente do giro e das operações de “day trade”.
Contudo, no câmbio se não melhorar o fluxo a tendência é de apreciação do dólar frente ao real retornando ao parâmetro de R$ 3,70/R$ 3,75 ou pouco mais, até que o fluxo demonstre recuperação.
Este será naturalmente um período de transição para que mudem cenários e perspectivas em torno do país, a partir do sucesso ou insucesso da reforma da previdência e o alento decorrente para a crise fiscal.
Será absolutamente necessária a sensatez na condução dos negócios no mercado financeiro, até que, tornados efetivos o que neste momento são meros anseios, ocorram então movimentos concretos em pequena ou grande monta dos investidores, em especial os estrangeiros, e se possa vislumbrar tendências sustentáveis.
Não nos parece ainda o momento de acreditarmos em dólar a R$ 3,20/3,30 e Bovespa a 125 mil pontos. Ambas as projeções nos parecem mais torcidas do que possibilidades efetivas, sendo necessário muita prudência e sensatez neste momento, havendo até a possibilidade para alguns desapontamentos.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO