B3 e dólar, sensor da perspectiva passa pelo fluxo cambial de investidor externo!

Temos exteriorizado nosso ponto de vista ressaltando postura de precaução em relação a sustentabilidade de movimentos de alta na Bovespa e depreciação do preço do dólar frente ao real.

E continuamos com o mesmo entendimento, considerando, como já colocado, que o sensor em relação às perspectivas para ambos os ativos tem como fator determinante o comportamento do fluxo cambial de natureza financeira doravante, visto que ao longo do mês de janeiro foi decepcionante em relação às projeções realizadas.

Os movimentos que têm ocorrido internamente decorrem na Bovespa na sua quase totalidade de ações dos investidores nacionais, enquanto que no dólar houve um movimento de oportunidade induzindo uma precipitada apreciação do real frente ao dólar, no nosso entender, orquestrada pelos detentores de posições “vendidas” no mercado futuro, valendo-se da ocorrência concomitante de leilão de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra pelo BC e, em ambos houve inegavelmente colaboração efetiva da “irradiação” da nova postura do FED americano que reverteu as expectativas de elevação do juro e até deixou, na margem, a possibilidade de uma redução, o que é favorável às economias emergentes.

Porém, no caso do Brasil, economia emergente, há algumas travas imperiosas que tem determinado, até o momento, postura reticente dos investidores estrangeiros, denotando que aguardam a materialização das anunciadas, porém ainda não apresentadas, reformas da previdência e tributária, relevantes e fundamentais para atenuar a crise fiscal e reanimar as perspectivas de retomada da atividade econômica do país e suas consequências positivas.

Por isso, consideramos que somente com a mudança de postura dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil poder-se-á considerar sustentável a dinâmica positiva da Bovespa e apreciação do real frente ao dólar.

Por enquanto, o quadro da economia real continua o mesmo, com agravantes negativos em torno da Bovespa como o que ocorreu com as barragens da Vale, e o fluxo cambial para o Brasil contrariando a pior expectativa se revela negativo e os bancos estão operando com posições vendidas de totalizam US$ 26,0 Bi, com somente US$ 12,250 Bi de lastro de financiamentos de linhas em moeda estrangeira com recompra concedido pelo BC.

Há otimismos, muitas projeções positivas sendo algumas até bastante exacerbadas, mas a realidade é que há travas impactando negativamente no fluxo de recursos estrangeiros para aplicações no Brasil, e, que podem mitigar os riscos Brasil no momento decorrente das incertezas ou podem determinar retardamento maior para que aconteçam como previstos.

É oportuna a atitude do governo, segundo noticiado, de realizar uma “roadshow” para apresentação do detalhamento da reforma da previdência a inúmeros setores de influência, com o intuito de promover o melhor entendimento possível.

Superada a eleição para as Presidências do Senado e Câmara e empossados os novos membros, há agora expectativa sobre a criação da base de apoio político do governo, relevante e fundamental para impulsionar suas propostas de reformas.

Contudo, não se pode descartar impactante reação corporativista contrária, ao mesmo tempo de posturas ideológicas contestadoras, e tudo isto tem consequências que podem retardar as decisões em torno da aprovação das reformas, o que pode ocasionar a contenção por parte dos investidores estrangeiros do direcionamento de seus recursos para o Brasil.

O Boletim FOCUS acentua projeções otimizadas, embora possam ser consideradas prematuras face às incertezas ainda presente, mas que atestam que não há preocupação com a inflação já que reduz a projeção do IPCA de 4,00% para 3,94%; para o dólar de R$ 3,75 para R$ 3,70 e da SELIC de 7,0% para 6,50%.

Esta semana haverá reunião do COPOM e não se espera nenhuma novidade, mas no horizonte já não se descarta até a redução desta taxa na medida em que o IPCA se revele cada vez mais cadente.

Por enquanto, consideramos inadequado e insustentável o preço do dólar que foi depreciado em demasia sem fundamentos concretos, entendendo que deva retornar ao preço próximo de R$ 3,70 a R$ 3,75, mas adequado para o momento, só retornando a parâmetros mais baixos com a intensificação do fluxo cambial. Vale destacar que os estrangeiros compraram mais US$ 8,5 Bi no mercado futuro.

Sobre a Bovespa acreditamos que esteja absolutamente dependente do fluxo de investidores externos, muito provavelmente passando a comportamento volátil até que haja a percepção de melhora do fluxo dos investidores.

O contexto Brasil em perspectiva é bastante favorável nas projeções de uma forma geral, mas para que se tornem efetivas ainda há um percurso não fácil a ser percorrido e dependente, também, da postura dos investidores estrangeiros.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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