Ninguém, em sã consciência, poderia imaginar o COPOM confrontando com as expectativas forjadas a partir do mercado financeiro até a última segunda feira, quando se comenta que a Presidenta Dilma convocou o Presidente do BC, Alexandre Tombini, para uma conversa a dois.
Para corroborar este “papo sobre a realidade da economia brasileira”, na terça-feira o FMI divulgou seu mais recente estudo sobre crescimento mundial, e, não poupou o Brasil de suas críticas e projeções altamente negativas para este ano e o próximo, indo ao extremo de considerar-nos culpado pelo crescimento baixo da América Latina, quiçá mundial.
Tão logo “posta a mercado” a incisiva análise do FMI, o BC, por seu Presidente, acusou o “tranco” que o fato causou ao afirmar da relevância da mesma, para posteriormente divulgar nota de própria autoria valorizando ainda mais o fato e, de imediato, impactando nas expectativas, até então serenas, do mercado financeiro de que a taxa de juro SELIC seria elevada em 0,5% a.a. ao final da reunião com encerramento na quarta-feira, ontem.
Tem sido objeto de nossos artigos a critica à tendência de aumento da taxa de juro SELIC, num ambiente em que praticamente não há pressão de demanda nem de consumo e nem de crédito, pontuando o fato de que esta linha atendia as expectativas do mercado financeiro, altamente rentista, mas com impactos relevantes negativos na já amplamente descontrolada política fiscal do governo.
Temos destacado o nosso ponto de vista de que a inflação presente na economia brasileira está numa fase de insensibilidade a qualquer aumento da taxa de juro, entendendo que a mesma é inercial.
Por outro lado ressaltamos que a elevação seria mais um desestimulo ao setor produtivo da economia brasileira já extremamente debilitado pela retração/recessão presente.
Chegamos mesmo a sugerir que o BC pudesse ser ousado bastante ao ponto de reduzir a taxa ao invés de elevá-la confrontando o consenso do mercado financeiro.
Naturalmente, a instituição não chegou a este grau de ousadia, mas a decisão pela manutenção da taxa SELIC em 14,25% não pode ser desconsiderada como uma guinada no contumaz.
O mercado financeiro ainda acreditava numa elevação mais discreta, algo como 0,25%, após a manifestação do Presidente Tombini ontem, porém até neste ponto foi frustrado.
Será inevitável a saraivada de criticas, principalmente dos analistas ligados às instituições financeiras que integram o mercado financeiro, contrapondo-se aos elogios que poderão advir dos setores produtivos.
Desta forma, “quebra-se” relativamente a repetência da mesma terapia sempre que a inflação se mostra aquecida, deixando evidente que as suas efetivas causas passam a ser consideradas. Muitos haverão de enfatizar que a inflação para ser contida enseja necessariamente cortes nos gastos do governo, o que é verdadeiro, mas não se deve esperar esta atitude mais enfática por parte do governo, que está relativamente “aprisionado” pelo quadro político que lhe concede frágil base de sustentação no Congresso Nacional.
Evidentemente que a manutenção do juro SELIC acarretará reflexos na formação do preço da moeda americana no mercado de câmbio interno, e, desta forma novos parâmetros mais elevados serão galgados pelo dólar, e não poderemos afirmar que não sejam realistas e compatíveis com o cenário presente e a sustentação da tendência de alta em linha com o cenário prospectivo.
A atividade econômica está baixíssima e então os reflexos desta alta do dólar serão amortizados pelos efeitos da retração/recessão substantiva com que convive o país.
Mas na ponta a alta do preço do dólar e a não alta do juro não podem ser desconsiderados como estimulo ao setor produtivo industrial, que poderá entender o recado e amenizar o elevado grau de negativismo e buscar recuperação, ganhando competitividade frente ao produto importado e no mercado externo.
É preciso buscar alternativas novas, a repetência do mesmo não retirará o país do “atoleiro” em que se meteu, e este parece ser o recado contido na decisão do COPOM e na reação que o mercado financeiro tende a revelar hoje, juros em queda e dólar em alta.
O país precisa efetivamente buscar alternativas para suas aparentes ou reais inviabilidades de curto/médio prazo, pois é considerado, neste momento, o “patinho feio” da economia global e, em consequência tem baixíssima atratividade para recursos externos direcionados a conta capital e tende a ter reflexos de retração no ingresso de capitais especulativos dado ao aumento do seu conceito de risco.
Precisa enfrentar seus problemas frontalmente, abandonar os resquícios, ainda existentes, do contumaz olhar “caolho” do Ministro Mantega que via como causa das nossas mazelas fatores externos, agindo como se por aqui estivesse tudo certo.
Desde o inicio das projeções iniciais para este ano de 2016 destacamos ser improvável convergência tão forte na inflação e ressaltamos a ineficácia da elevação do juro devido ser inercial, e que a contribuição para a contenção viria da retração/recessão da economia, mas que não deveríamos esperar algo menor do que 9% no ano. Da mesma forma, ressaltamos ser absolutamente impossível dólar a R$ 4,20 ao final do ano, projetando-o em R$ 5,00.
Na área externa corremos o risco de saída mais acentuada de recursos estrangeiros, pois estamos entre os emergentes mais vulneráveis, assim como corremos o risco de ser mais penalizados pelas agências de rating e perdermos a capacidade de ter no país recursos relevantes de fundos com cláusulas restritivas em seus regulamentos.
Em suma, o Brasil é o grande desafio do Brasil, havendo a impositiva necessidade de buscar caminhos alternativos para estimular a economia amplamente desanimada, num ambiente em que o governo não dispõe de recursos para ancorar grandes projetos.
Pode ser, que a decisão do COPOM seja o inicio de uma nova estratégia focando mais o setor produtivo da economia e menos os interesses do mercado financeiro.
Não se deve descartar a possibilidade do BC diminuir os volumes de rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos, promovendo desta forma sustentabilidade a alta que o preço da moeda americana revelar como tendência, aliviando o peso do custo da política fiscal.