A “torcida” vem se demonstrando forte para que as contas externas brasileiras encontrem, no ambiente adverso que o país atravessa resultados melhores em 2016 e 2017. Os autores das projeções insinuam a busca da reversão do pessimismo para algo mais tênue, mas acabam por ir ao excesso de otimismo.
Só se vê contextos favoráveis, parece que “apagaram” todos os fatores deletérios presentes na economia brasileira, que a tem feito receber severas críticas e projeções menos otimistas de agências de rating, como a Fitch que a vê enfraquecida nos próximos dois anos, do FMI que não omitiu seu negativismo em relação ao país, do IIF que prevê volumosas saídas de recursos externos dos países emergentes liderados por Brasil, África do Sul e Turquia, e, por jornais/revistas altamente considerados como Financial Times e Washington Post, que o colocam como epicentro das mazelas da economia mundial neste ano.
Ocorre sem dúvida uma contenção na projeção da taxa cambial US$/R$ combinada com uma exacerbada projeção de saldo de balança comercial, afora o entendimento de que o Brasil “é um país barato” porque o dólar teve expressiva valorização, menosprezando que a tendência de desvalorização do real frente à moeda americana deve persistir este ano, e, isto pode representar um custo que não vem sendo considerado, até pela dificuldade e encarecimento das operações de proteção “hedge”.
O governo, mais especificamente o BC, vem sendo severamente criticado pelo mercado financeiro pelo fato de ter dado uma guinada forte e intempestiva na sua última decisão no ambiente do COPOM, ao manter a taxa de juro SELIC quando era esperado mais do mesmo, ou seja, a sistêmica elevação toda vez que a inflação que revela aquecida. Como salientamos, houve manifestações consideráveis em torno do Brasil que mereciam consideração, mas inegavelmente houve flagrante interferência da Presidenta Dilma na decisão.
A despeito das circunstâncias não entendemos que o BC/Copom tenha errado, já que entendemos que a inflação presente é predominantemente inercial e que há baixa demanda por crédito e consumo que como tendência deve se acentuar ao longo deste ano, já que é notório que o desemprego se acentuará afetando renda e consumo e, em perspectiva, inibindo o consumo daqueles que permanecerão empregados.
Porém, a reação imediata esperada era a alta do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio interno, mas isto vem tendo o BC, valendo-se do baixo volume, buscando administrar e manter o preço em patamar até incompatível com a realidade do país.
Esperávamos mesmo que o BC, visando poupar a sua política fiscal, viesse a reduzir a rolagem de contratos de swaps cambiais, dando assim suporte a uma taxa de câmbio mais elevada, a ponto de motivar a indústria com as duas frentes, menor juro e maior taxa cambial.
A maior taxa cambial focaria no nosso entender o incentivo à indústria nacional no mercado interno e externo e motivando investimentos, evitando assim a proliferação mais intensa da tendência a desempregar fortemente.
Seria uma estratégia um pouco diferente à praticada pelo então Ministro Levy de trabalhar com uma taxa cambial maior, mas elevando o juro que é um fator contracionista do investimento.
Há certo euforismo com os resultados das contas externas brasileiras ocorrido em 2015, naturalmente decorrente de fatores que não ensejam comemorações, pois são a evidência da recessão, que tudo leva a crer poderá se agravar mais ainda este ano.
A ideia de contas externas no azul já em 2016 e 2017 pode ser a sinalização mais clara que o entendimento implícito é que o país piorará ainda mais o seu quadro recessivo, e isto na ponta, o que não vem sendo avaliado com acuidade, o fará menos atrativo para os IED´s (IDP´s) que, a rigor, surpreenderam em 2015, com ênfase para o resultado de dezembro projetado pelo BC em US$ 6,1 Bi e acabou registrando US$ 15,2 Bi.
Entretanto, é importante observar que a despeito da taxa de juro elevada e da bolsa com preços debilitados a atratividade do país foi afetada, com uma queda de 2015/2014 de investimentos em carteira voltados à renda fixa de US$ 27,0 Bi para US$ 16,0 Bi, e para a bolsa de US$ 10,8 Bi para US$ 6,5 Bi.
Saldos de balança comercial entre US$ 35,0 Bi e US$ 50,0 Bi estão absolutamente fora do contexto brasileiro amplamente dependente da CHINA, que atravessa momento extremamente nebuloso e provoca queda nos preços internacionais das commodities.
O Brasil perdeu a grande oportunidade de zerar contas externas quando conviveu com o “boom” das commodities, mas preferiu imaginar-se rico e queimou divisas de forma intensa importando quinquilharias e estimulando viagens internacionais gerando empregos em Miami, Estados Unidos, e, naturalmente, gastando sempre muito sem investir na infraestrutura caótica do país.
Agora será mais difícil, o comércio exterior é uma opção de duas vias, e, para o Brasil que tem pauta exportadora limitada fica menos favorável reconquistar grandes saldos na balança comercial como naquela oportunidade. O mundo também está em outro ritmo, e, afinal, todos querem vender ao exterior para compensar a perda de atividade econômica.
Se repetirmos o resultado de balança comercial do ano passado já terá sido uma conquista, naturalmente com volumes menores de negócios, mas é bastante factível que não tenhamos nos IED´s as mesmas razões para comemorar.
Há desafios à frente que não estão sendo mensurados e nem considerados, mas que poderão causar fortes impactos nas contas externas.
Por isso, entendemos que o BC tem que aumentar o foco na preservação das reservas cambiais, diminuindo o comprometimento implícito com os contratos de swaps cambiais que a elas estão ancoradas para credibilidade, já que o contexto sugere que ou mantenha o financiamento das posições vendidas dos bancos, atualmente em 60,9% dos US$ 20,0 Bi, ou supra o mercado de forma direta, já que são baixas as perspectivas de que o fluxo cambial ganhe dimensão para cobrir diretamente.
No nosso ponto de vista, continuamos vendo um cenário em perspectiva bastante difícil para as contas externas do Brasil, a despeito da reversão por fatores altamente negativos ocorrida em 2015, pois para ser diferente teríamos que projetar uma recessão muito mais drástica para a economia brasileira e um mercado externo em “lua de mel” para comprar as exportações brasileiras.
Nossa projeção para o preço da moeda americana continua sendo de R$ 5,00 para o final do ano e entendemos que o final do 1º trimestre será um divisor para as projeções, pois evidenciará de forma mais clara o “status” da economia brasileira.