Em nosso “post” de ontem expusemos o nosso entendimento sobre a forma de intervenção que vem sendo praticada pelo Banco Central do Brasil, e que, pela expressividade dos montantes surte curiosidade sobre o não impacto retroativo na formação do preço da moeda americana, mantendo-a elevada.
Quanto se observa tantas ofertas de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra aos bancos, e agora mais as compras de títulos soberanos em poder dos bancos com revenda futura, nada mais do que “swaps” efetivos, troca temporárias de divisas de divisas efetivas lastreadas em contratos e/ou títulos para “oxigenar” a liquidez de curto/médio prazos das instituições bancárias brasileiras com nomenclaturas nem sempre assertivas, naturalmente, leigamente, pode se considerar que a autoridade monetária esteja tendo atitude firme e forte para incrementar a liquidez no mercado à vista.
Porém, quando se desloca a atenção para os fatores que realmente impactam na formação do preço a partir do mercado à vista, observamos que o fluxo cambial está positivo, não havendo efetiva pressão neste segmento a ponto do BC ter feito oferta ontem e só ter colocado metade.
Pressões se existem ocorrem no mercado futuro de dólar, que é impulsionado não somente pela demanda de “hedge” cambial efetivo, mas em grande parte por movimento especulativo instalado de forma consistente desde que o governo alardeou o “câmbio alto” e juro baixo, sem estabelecer o que seja conceitualmente “câmbio alto”, acabando, em parte, sendo vitimado pela própria metáfora.
Ocorre que o “câmbio alto” acabou ficando alto demais e perturbador, pois inexoravelmente aponta para inflação, que está leniente face a inércia da atividade econômica e se reproduz baixa pelo IPCA, mas que aponta perigosa evolução do IGP-M que reajusta uma boa parcela de preços da economia.
Um pouco ante da “crise do coronavírus” já havia sinais de retrocesso nas projeções da atividade econômica ante ao claro insucesso da estratégia do “câmbio alto” como fomentador do soerguimento da atividade econômica e o desapontamento quanto aos investimentos que se imaginava com o “juro alto” e a atratividade nula aos investidores estrangeiros, e mais, passou a ganhar destaque como causa o travamento das Reformas tributárias e administrativas, além do crescimento dos ruídos na cena política.
Com a presença efetiva da “crise do coronavírus” no país a visão interna e, principalmente, a externa passou a ser mais rigorosa em relação do país, e o CDS brilhante de 92,9 ponto em 17/2 rapidamente saltou para 301,7 em 17/3, e naturalmente a repercussão nas facilidades de crédito externo e custos para o Brasil repercutiram de imediato.
Como destacamos, data base 13, os bancos brasileiros autorizados a operar em câmbio registravam posições “vendidas” (a descoberto) de US$ 37,0 Bi ancoradas em financiamentos em moeda estrangeira com recompra do BC de US$ 9,2 Bi e o restante por linhas externas de curto/médio prazos dos banqueiros estrangeiros, algo em torno de US$ 28,0 Bi.
A mudança abrupta da perspectiva para o Brasil, bem pontuada pelo CDS, deixou evidente que a rolagem daquelas linhas de curto/médio prazos externas seriam, como devem ter sido, aviltadas com custos maiores e maior rigor de concessão.
Então, o BC passou a ofertar ao mercado as linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra não com foco em intervenção na formação do preço da moeda americana no mercado de câmbio, mas para viabilizar aos bancos a troca de linhas externas por linhas concedidas pelo BC. E assim tem sido.
Adicionalmente para incrementar também a liquidez dos bancos decidiu realizar operações de compra de títulos soberanos nominados em dólares nas carteiras dos mesmos com revenda futura.
O FED sempre atento e não pela primeira vez, para facilitar este momento de aperto, resolveu ofertar swaps para alguns países, inclusive o Brasil que foi aquinhoado com uma linha de US$ 60 Bi por 6 meses.
Esta facilidade do FED facilitará para o Brasil a compra de títulos soberanos nominados em dólares em poder dos bancos, pois poderá fazer operações conjugadas, como compra/revenda dos títulos soberanos com os bancos e swaps com o FED gerando caixa em dólares para tal fim.
E o câmbio onde fica nesta história?
O que se observa é que com estas acomodações e redução da saída de recursos do país a dinâmica propulsora da alta perde propulsão e deve começar a dar sinais de exaustão do movimento de alta.
Queremos acreditar que para o câmbio teria sido melhor a taxa SELIC ter sido mantida inalterada, e é até possível que isto possa ter passado na cabeça dos integrantes do COPOM, mas teria sido ousada contra as expectativas dos agentes do mercado financeiro, que, entretanto, esperavam mais.
Ocorre que se houvesse mantido a taxa SELIC inalterada e tendo havido redução da taxa de juro americana, haveria interessante “gap” estimulador as arbitragens de taxas de juros (carry trade) e isto fomentaria demanda por reais que conduziria o preço do dólar a depreciação.
Mas, esta não é uma hipótese fora do contexto, visto que o juro futuro se revelou reacionário ontem e pode abrir esta possibilidade, que então, será a efetiva causa de eventual apreciação do real.
A acompanhar!!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO