Ficou evidente que os membros do FOMC ainda vislumbram o término do programa de incentivo monetário nos próximos meses tendo neste momento mais incertezas do que certezas.
Entre inúmeros fatores que podem determinar a tomada de decisão sobre o inicio da redução do programa desponta a taxa de emprego, que parece ser o dado fundamental, já que o consumo que é responsável por 70% do PIB americano está diretamente vinculado à renda que é consequente do emprego.
“Próximos meses” é tão incerto que sugere que os mercados retomem o alinhamento de ajuste que havia se insinuado até que a fala de Janet Yellen, que deverá suceder Ben Bernanke na Presidência do FED, promoveu um certo relaxamento nesta expectativa de curto prazo e levou os mercados globais a um euforismo exacerbado.
Agora, o que se presencia é a retomada de ambiente de cautela e isto conduz a novo ajuste nos inúmeros segmentos do mercado internacional, e isto passa necessariamente pelo Brasil, que convive com fluxo de recursos externos insuficientes para suprir seu mercado de câmbio à vista e ao mesmo tempo fazer face ao financiamento do expressivo déficit em transações correntes, que se projeta como provável em torno de US$ 80,0 Bi.
Desta forma, o que se espera é que a saída de recursos que havia se acentuado precocemente num movimento de antecipação à futura decisão do FED americano, e que foi atenuado a semana passada com a fala de Janet Yellen, seja retomado.
O Brasil registrou expressiva apreciação do real num curtíssimo espaço de tempo, que já havíamos considerado exacerbada, mas que o mercado justificava pela perspectiva que se colocava de ingressos de recursos para o país, quando no nosso ponto de vista o que deveria acontecer era tão somente a redução da intensidade de saída e não o incremento dos ingressos.
Com o contexto exposto na Ata do FOMC as expectativas voltam a ser as antecedentes à fala de Janet Yellen, portanto os ajustes do mercado internacional devem ser retomados considerando a hipótese do inicio da redução no curto prazo.
O Brasil, segundo levantamento realizado pelo Barclays Bank e divulgado pelo Valor na terça-feira passada, é o emergente com maior saque em fundos neste ano com retiradas liquidas de US$ 9,1 Bi até o inicio de novembro, sendo US$ 5,7 Bi de fundos de ações e US$ 3,4 Bi de fundos de títulos da divida. O “second by far” é a Russia com retiradas totais de US$ 3,4 Bi.
Recentemente, como matéria do Valor, em evento em Pequim o Brasil foi incluído numa lista como “os cinco países frágeis” ao lado de Indonésia, India, Turquia e Africa do Sul. O Diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Awazu, contestou a inclusão do Brasil nesse clube com base em indicadores de solvência externa, como o volume de US$ 380,0 Bi em reservas internacionais e uma razão divida externa/PIB de 14%.
Contudo, dados como o divulgado pelo Barclays Bank acentuam as observações internacionais sobre o Brasil, assim como a insuficiência de fluxos para o país para fazer face ao financiamento do déficit em transações correntes, que já está levando o BC a suprir a liquidez do mercado à vista, ainda que de forma estratégica utilizando os bancos para o repasse ao mercado com base em posições “vendidas” ancoradas em linhas de financiamentos concedidas pela própria autoridade monetária.
Além disto, o país já vem sendo observado pelas agencias internacionais de “rating” devido a deterioração da politica fiscal. A “solução” encontrada por mudança dos critérios legais desobrigando o governo federal pelos déficits estaduais e municipais não deverá levar as agencias a mudar fundamentalmente suas análises a respeito do país.
A perspectiva é que se acentuem as saídas dando sequência ao movimento antecedente à fala de Janet Yellen, e, como consequência ocorrerá naturalmente a depreciação do real, portanto com a taxa do dólar retomando os R$ 2,30, com alguma pressão pontual que poderá colocá-la acima deste patamar.