A afirmação do Presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, de que não falta dólar no mercado à vista é uma meia verdade mal explicada, passando uma impressão contrária à realidade presente, sem destacar que a autoridade monetária tem suprido o mercado à vista com dólares de forma indireta com participação dos bancos, para que não ocorra a falta dada a insuficiência de fluxo cambial favorável.
Evidentemente não falta dólar no mercado à vista considerando que o Banco Central do Brasil está suprindo o mercado com o montante faltante através o repasse de linhas de financiamento em moeda estrangeira com utilização das reservas cambiais brasileiras, combinando venda à vista de divisas aos bancos e recompra futura do mesmo montante, e com isto ancorando o montante de “posições vendidas” assumidas pelos bancos autorizados a operar em câmbio para que promovam a geração de liquidez insuficiente a partir dos fluxos normais do mercado.
Então, entenda-se que não faltam dólares no mercado à vista se considerarmos que o Banco Central do Brasil, via bancos, está suprindo com dólares das reservas cambiais a liquidez que não esta sendo proporcionada como consequência dos insuficientes fluxos de recursos para o país, via concessão de linhas de financiamentos ao bancos.
O fato do BC não estar vendendo dólares diretamente ao mercado de câmbio à vista “mascara” a insuficiência de liquidez autogerada pelo próprio fluxo de negócios, porém é ine-gável que a autoridade monetária está “cobrindo” a falta de dólares no mercado à vista, utilizando os bancos com “posições vendidas” para tal fim, amparando-os com a concessão de linhas de financiamento.
E é possível até se saber o quanto está faltando. Como o BC não vem atuando diretamente no mercado à vista com leilões diretos de compra ou de venda, a falta de liquidez que vem sendo suprida pela autoridade monetária por meios indiretos é exatamente o montante de posição “vendida” consolidada pelos bancos autorizados a operar em câmbio.
Até o ultimo dia 8 este montante estava em torno de US$ 9,7 Bi, total da posição “vendida” consolidada dos bancos, que estava ancorada em linhas de financiamentos em moeda estrangeira adquiridas do BC no montante de US$ 13,386 Bi. O excedente ocorreu em virtude de neste mês até o dia 8 o fluxo ter se revelado positivo em US$ 2,5 Bi e o BC mantido a sua oferta semanal de linha de financiamento, o que permitiu aos bancos armazenar US$ 3,671 Bi em linhas para expandir suas posições “vendidas”.
Sabidamente e os números disponíveis evidenciam isto com muita clareza, os fluxos de recursos estrangeiros líquidos têm se revelado negativos, principalmente no segmento financeiro, porém é compreensível não ser oportuno para o Presidente do BC abordar conversa mais minuciosa a respeito deste tema e nem expor detalhamento sobre como esta sendo gerada a liquidez no mercado de câmbio à vista. Não é conveniente que se dê destaque aos pontos de fragilidade do país neste momento.
Certamente o que estamos presenciando em termos de apreciação do real frente ao dólar, após a fala da Vice Presidente do FED, Janet Yellen, tem exageros notórios ao atingir percentual de 3 a 4 vezes maiores do que para outras moedas emergentes.
Nem mesmo se adicionarmos como fator positivo em perspectiva o anúncio de ambicioso programa econômico anunciado pela China, que visa garantir crescimento sustentável, mas que precisa ser melhor analisado, visto que pode ser benéfico para o setor de commodities, mas extremamente negativo para os nossos manufaturados.
Porém, é uma intenção que consolidada pode provocar efeitos no médio e longo prazos, e o problema brasileiro de melhora de fluxos de recursos é de curtíssimo prazo.
Há que se considerar também as adversidades que poderão surgir da parceria comercial que está sendo costurada entre Estados Unidos e Europa, que deve afetar negativamente o Brasil.
Há claramente um excesso de otimismo quanto à percepção de direcionamento de fluxos de recursos para o país em razão da eventual postergação pelo FED do desmonte do seu programa , que como salientamos, acreditamos possa ser bastante discreto , sendo, contudo, favorável para a contração da intensidade das saídas que já vinham ocorrendo, o que naturalmente poderá retirar pressão altista do preço da moeda americana.
No nosso ponto de vista, para que fluxos de recursos estrangeiros voltem a se potencializar para o Brasil será necessário que o governo haja focando recuperar fundamentos do país que foram fragilizados perante os investidores estrangeiros, que hoje priorizam interesse por outras economias emergentes com fundamentos mais sólidos. O fator taxa de juro elevada não desperta atração decisiva quando falta o respaldo de bons fundamentos econômicos.
O mercado sinalizou possível ingresso de parte dos recursos externos relativos ao bônus do campo de Libra, que deve ser completo até o dia 27 deste mês, o que teria melhorado o nível de oferta ontem
Portanto, continuamos com o entendimento de que o “tombo” ocorrido no preço da moeda americana no nosso mercado à vista como reação imediata à fala de Janet Yellen, sem correspondência simétrica em outras moedas emergentes, possa vir a ser corrigido, restabelecendo-se o alinhamento de alta, com o preço ficando no entorno de R$ 2,30.
E neste contexto de preço estamos considerando como efetiva a rolagem total do lote de US$ 10,11 Bi de “swaps cambiais” vincendo em 2 de dezembro, caso contrário poderá superar este patamar.
Na realidade faltam dólares à vista no fluxo externo para o país, e esta insuficiência está sendo suprida pelo Banco Central do Brasil, com uma estratégia de “by pass through” bancos que ficam com suas posições “vendidas” ancoradas nas linhas de financiamento concedidas pela autoridade monetária e proporcionam liquidez ao mercado.