É inegável que a fase mais aguda da crise na economia brasileira foi arrefecida, temos sinais positivos no desempenho da indústria, nas exportações, discretos na recuperação do emprego que é magnânimo, assim como em algumas modalidades de crédito, mas é inegável que tudo ocorre sem muito vigor e falta de uniformidade entre setores da economia, que provoca geração de indicadores dispersos e não permitem tendência efetiva.
A indústria vem sendo puxada pelo crescimento pontual das vendas da indústria automobilística, embora com índice crescente em relação ao ano passado. Todavia, quando se confronta trimestre contra trimestre deste ano se nota que a dinâmica vem se reduzindo pois tivemos nos 3 trimestres antecedentes +1,4%, +1,1%, +0,9% e em setembro isolado ficou em apenas em 0,2% frente a agosto, conforme análise do IEDI. Ainda segundo a mesma fonte, os bens de capital que vinham em ótimo desempenho desaceleraram no último trimestre.
O segmento de serviços recuou 0,6% no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior.
As exportações vêm sendo destaque e tem gerado um superávit da balança comercial da ordem de US$ 60,0 Bi, mas é inegável que a inércia da economia inibe os investimentos e deprime as importações.
E há outras tantas evidências que deixam transparente a fragilidade dos movimentos atuais e apontam que é temeroso considerá-los efetivas tendências.
Por isso é sensato mais acuidade e equilíbrio e menos entusiasmo como se estivesse tudo no caminho da solução.
Há riscos e desafios enormes à frente.
O governo Temer está muito fragilizado e à mercê de acordos fisiológicos com os políticos e convivendo com um ambiente hostil predominante no país em torno de corrupção e deterioração de valores morais. Há perturbações de toda natureza.
O governo Temer embora alardeie não conseguiu estancar o gasto demasiado e vem replicando problemas na política fiscal, que podem abalar ainda mais o conceito do Brasil.
Temos inflação baixa! É crível algo em torno de 3% a 4% quando há números extrapolando o imaginável como aumento dos combustíveis, relevante num país que transporta tudo sobre rodas, aumento do gás caseiro, medicamentos, energia elétrica, etc… em percentuais acima de 50%? Certamente não!
Em algum momento a “fatura” vai ser apresentada. Estamos vivendo esta ilusão presente, nada tem efetiva sustentabilidade.
Os bens de consumo alimentares vêm tendo o preço contido ou até deprimido por uma engenhosa estratégia a partir do preço do dólar administrado pelo BC.
Manter o preço do dólar deprimido de forma estratégica pelo BC é elemento pontual para segurar os preços dos produtos agrícolas exportáveis no mercado interno. Isto o BC faz de forma eficiente, bem ao estilo do Ministro Meirelles quando estava na Presidência do BC, tendo os bancos como seus aliados ao operarem com posições vendidas no câmbio, que os faz agentes contra a valorização da moeda americana ao aumentar a margem de ganhos com a captação consequente de reais.
Isto se complementa com a queda do juro SELIC que na ordem das coisas tem pouco impacto nas taxas de crédito ao consumidor brasileiro que são absolutamente descoladas, mas de toda forma alivia os encargos do governo no financiamento da dívida pública atrelada a esta taxa de juro.
O Brasil é atraente para os investimentos especulativos e então temos a Bolsa com grande valorização, mas muito sensível às nuances em torno das ações do governo e evidências de suas fragilidades, o que denota que a política está influenciando a decisão que deveria ser econômica.
Para estes capitais espertos deixarem o país basta termos ruídos em torno da inviabilidade das reformas e/ou das eleições e/ou de perda de discretas vitalidades que a economia esteja apresentando, ou se os Estados Unidos elevarem o juro com o Brasil perdendo atratividade por estar praticando uma taxa muito baixa de juros e/ou acentuar o seu protecionismo, e então há um risco de reversão firme do cenário atual.
O cenário brasileiro com a percepção de fraqueza política do governo, extremamente subjugado por um Congresso fisiologista e duro nas negociações das reformas imperiosas, tem neste aspecto um relevante risco, além de dificuldades notórias de contenção dos gastos, economia com melhoras discretas mas não tão entusiasmantes quanto os discursos governamentais e orquestrados por parte interessada do mercado financeiro, etc. etc. sugere que tivéssemos uma relação paritária do real com a moeda americana mais depreciada.
As posições divulgadas pelo BC revelam que a posição de câmbio dos bancos esta “vendida” em US$ 13,189 Bi, ao mesmo tempo que temos um superávit comercial em torno de US$ 60,0 Bi e uma posição de câmbio de exportações a fechar de US$ 21,190 Bi contra US$ 10,014 Bi de importações a fechar ao final de outubro a ser consolidada. Mas revela que as operações financeiras retiraram do país US$ 36,308 Bi restando um saldo de US$ 8,579 Bi líquidos com câmbio contratado, observando-se que há um acréscimo líquido a ser agregado de US$ 11,176 Bi, o que permite considerar-se em perspectiva um saldo a ser evidenciado de US$ 19,755 Bi.
É perceptível que, se as importações estivessem normais o saldo não teria esta dimensão e ofuscaria o expressivo saldo da balança comercial.
O Brasil tem reservas cambiais de US$ 380,0 Bi e se deduzirmos os US$ 13,0 Bi de posição vendida dos bancos serão líquidas US$ 367,0 Bi, o que é bom, mas não resolve grande parte dos problemas atuais que se revelam como riscos desarticuladores para o país que ainda carece de sustentabilidade para o que se insinua como melhora.
Os riscos presentes no país e do exterior, atualmente, e com reconhecida capacidade impactante no câmbio, não sancionam o preço atual do dólar no país e muito menos permitem que se considere normal o seu preço atual como acontece no momento.
O anseio de prognosticar sucessos ainda bastante incipientes têm levado o governo a extravagantes manifestações e abordagens, mas a realidade ainda é merecedora de muita atenção e sensatez nas análises prospectivas, pois a vulnerabilidade de tudo que está presente é grande e não há efetivas tendências sustentáveis com fundamentos.
SENSATEZ é a palavra chave para o momento! Os fundamentos da nossa economia ainda estão muito fragilizados e incertos.