Um exagero do BC focando o curto prazo que pode ter consequências fortes no médio prazo, já que num ambiente de fluxo cambial desfavorável provoca uma deformação acentuada do preço da moeda americana em prol da contenção das pressões inflacionárias, mas que pode acentuar a saída de recursos do país e inibir os ingressos.
O real já estava apreciado cotado a R$ 2,03, se considerarmos o contexto atual e em perspectiva do comportamento do fluxo cambial para o país que é o fundamento mais técnico advindo do próprio mercado, e que já era estimulante a que devedores em moeda estrangeira incrementassem suas remessas e, na contrapartida, provocando efeito amplamente inibidor às exportações brasileiras; aos ingressos de valores represados pelos exportadores de negócios já liquidados no exterior; aos pagamentos antecipados a exportações e até mesmo aos investimentos em renda variável e até os direcionados à formação bruta de capital.
O intervencionismo do governo no mercado de câmbio apreciando o real num cenário de fluxo cambial adverso representa um risco, pois aprecia o real num contexto que tecnicamente deveria estar depreciando-o.
Tecnicamente, com o preço da moeda administrada e já irrealisticamente em R$ 2,03, não havia necessidade de rolagem da posição de “swaps cambiais” vincendos na virada do mês. Contudo, o BC promoveu a rolagem de 37.000 contratos e com isto fez o preço do dólar literalmente “derreter” ao entorno de R$ 2,00, com propensão a romper este piso.
Aos bancos, que estão vendidos mais de US$ 8,0 Bi e precisarão pagar ao BC parte das vendas que realizaram nas operações conjugadas realizadas em dezembro, o dólar depreciado é interessante para que cubram suas posições a preços da moeda americana bastante conveniente realizando ganho de variação cambial.
Mas o que fica muito evidente é que a medida, embora possa ter repercussões sérias sobre o fluxo cambial para o país determinando pressão altista no dólar no médio prazo, é movida pelo interesse e necessidade premente do governo em utilizar o preço da moeda americana como antidoto principal no enfrentamento das pressões inflacionárias que parecem firmes na tendência de alta, já que não há a intenção de elevar a taxa de juro, pois iria contra as afirmativas das autoridades, e, nem de medidas prudenciais, que poderiam afetar o consumo ancorado no crédito, que é a espinha dorsal acreditada como fomentador do crescimento.
E desta vez, como não podemos atribuir a fatores externos até porque o fluxo cambial está negativo, fica claro que o preço da moeda americana é artificial e monitorado e administrado pelo BC com foco direto no controle inflacionário, mesmo que em detrimento de tudo o mais da economia brasileira.
Dólar excessivamente depreciado é um incentivo para que a indústria continue não investindo, dando margem a que o processo de desindustrialização se acentue e como consequência, exportaremos menos e importaremos mais.
Este contexto em que contribuímos para a geração de empregos nos países fornecedores, pode determinar focos de desemprego no Brasil a partir da indústria, que seria um sinal ruim neste quadro em que o contexto para o ano de 2013 se configura altamente complexo, bastante diferente das projeções formuladas ao final do ano passado.
No nosso entendimento, o momento atual ainda permite a administração por parte do BC forçando a apreciação do real, mas nos parece inevitável que as forças naturais do mercado, como o debacle do fluxo cambial, irão determinar reação opositora a este comportamento da autoridade, razão pela qual não há como considerar-se sustentável em perspectiva o preço da moeda americana atual.
Tudo sugere que teremos ainda neste semestre, quem sabe ao final do 1º trimestre, volatilidade que imporá intervenções contínuas da autoridade monetária, que será pressionada a ofertar moeda estrangeira efetiva, através leilões de venda no mercado a vista para equilibrar a liquidez.
O ano de 2013, embora somente no início, se configura com uma complexidade imprevista para o Brasil com o aquecimento consistente da inflação, e, isto pode nos colocar mais próximo de similaridade a 2012 do que a recuperação almejada por todos.