Parece extremamente sensato aguardar-se que o MF e o BCB adotem algumas medidas de natureza interna focando alterar fatores de influência na formação da taxa cambial. Notoriamente, o MF sempre foi um defensor, pelo menos na retórica…
Na ponta contrária, o BCB atuava mesclando política monetária com política cambial, levando a ocorrência de apreciação sistêmica do real, ancorando, contudo, o argumento para o fato atribuindo-o ao “fluxo cambial”. Ocorre que na prática o BCB sempre esterilizou o excedente do fluxo cambial na sua totalidade, e mais, indo além e com isto levando os bancos autorizados a operar em câmbio a constituir “posições vendidas”, situação fortemente indutora a apreciação do real. Este é um detalhe técnico, pouco observado pela grande maioria, e que proporciona aos bancos captação de reais a custo baratíssimo, mas os induz a apreciar o real, que interessa para o BCB no controle da inflação.
Esta dinâmica de atuação do BCB acabou por criar “um viés tendencioso a apreciação do real” e que acabava por fomentar também especulações nos mercados derivativos na mesma direção, pois a crença é de que se a autoridade atua com este propósito não há como ir contra.
Como se vê, o Brasil, bem antes do que se observa nos Estados Unidos, já vem utilizando a mistura de política monetária com política cambial, só que com objetivo aposto, aqui desejamos o real apreciado frente ao dólar e naturalmente ante todas as moedas fortes, para utilizarmos como instrumento de contenção das pressões inflacionárias e estimulante as importações para evitar pressões do hiato do produto internamente, porém, altamente negativa para os setores exportadores não agrícolas, que buscaram encontrar compensação no fortalecimento do mercado consumidor interno.
Portanto, a causa primária da apreciação do real está aqui mesmo no Brasil, e a estratégia de mescla de monetária com cambial precisa ser desmontada, pois não é justo e nem correto atribuir-se este cenário presente em torno da moeda nacional somente a fatores externos.
A predominância deste tipo de atuação do BCB se continuar, será um contraditório ante as medidas adotadas pelo MF e por ele mesmo, BCB.
Para que ocorra o alinhamento único de propósitos entre MF e BCB é fundamental que este altere a sua dinâmica. O 1º passo seria interromper os seus leilões de compra até que os bancos autorizados a operar em câmbio estejam com suas posições niveladas e/ou compradas, para posteriormente limitar-se a esterilizar tão somente os excedentes ou pouco menos, deixando os bancos nivelados ou discretamente comprados.
Adotar o PTAX na sua formulação para início em janeiro, de imediato, neutralizando as manipulações já conhecidas.
Por outro lado, acreditamos que neste momento o BCB deveria alterar os limites de exposição dos bancos a operações envolvendo variação cambial, reduzindo assim o espaço operacional dos bancos a operações indutoras a apreciação do real.
Enfim, antes de “jogar a toalha” e ter que chegar ao extremo de mudar o seu sistema cambial, hoje dito flutuante, é preciso eliminar os fatores que deturpam a formação do preço da moeda americana no país, inclusive os que o próprio BCB é praticante.
Muito embora possa parecer, por vezes, que o governo não tenha identificação das causas da apreciação excessiva do real no mercado de câmbio brasileiro, certamente sabe bem a respeito das mesmas, o que não quer dizer que não fique à mercê dos especuladores quando as normas são muito amplas e estimulantes a especulação.
O que está em andamento é uma depuração de vetores de influência na formação do preço e há muitos, o Brasil liberou-se em demasia ao conviver com um cenário macroeconômico mais favorável, mas ainda convive com inúmeras fragilidades, como a taxa de juro elevadíssima e reservas cambiais constituídas a partir do aumento da Dívida Interna dada a ausência de poupança fiscal, e que quando ganham destaque como no momento atual, referendam inquestionavelmente o quanto é prematuro pensar-se em real conversível.
A realidade evidencia, mais uma vez, que o real é uma moeda para especulação, puramente isto, pois o Brasil proporciona rentabilidade aos especuladores, muito acima do que se poderia considerar razoável para um país “investment grade”.
Difícil imaginar o país enfrentar a inflação sem utilizar o real apreciado, mas como as verdades ganharam destaque, certo é que a solução está na contenção forte dos gastos públicos, aumento da poupança fiscal e redução de juro.
Mas esta é uma solução para médio e longo prazo e a solução aqui implícita deve ser imediata.
Na reunião preparatória para a reunião do G-20 em novembro, ocorrida neste final de semana em Seul, os Estados Unidos apresentou sua idéia sobre maiores controles dos saldos em contas correntes, que parece muito especifica para resolver seus próprios problemas, por isso os sinais são de que nem ele mesmo acredita em sua proposta, e visa mais diretamente na contra ponta a China, Alemanha, Japão. Como era de se esperar cada um dos países parece mais focado nos seus próprios interesses, mas ficaram de avaliar a questão da relação paritária entre as moedas.
O grande destaque mesmo do evento foram as ausências do MF Mantega e do Presidente do BC Meirelles. O entendimento generalizado em Seul é que o Brasil quer um caminho independente.
Alan Beattie, editor do Financial Times, destacou: Se um Fórum não pode persuadir o Brasil de que tem credibilidade, ele terá problemas para convencer os demais.
Afinal, o Ministro Mantega “deu um grito de alerta” que mereceu destaque no Financial Times e, o mínimo que se esperava era o seu comparecimento para ratificar seu posicionamento.
Seguramente o momento político constitui-se em fator aconselhador do não comparecimento, visto que pode vir a assumir implementações ou compromissos que não conseguirá colocar em prática posteriormente.
O Boletim FOCUS divulgado hoje acentua a percepção de aumento da inflação elevando o IPCA para 2010 para 5,27%, porém continua sancionando SELIC para 2010 em 10,75% e mantém a projeção do US$ para final do ano insensível a R$ 1,70. Acreditamos que para 2011 as projeções são extremamente prematuras, visto que teremos novo governo e será fundamental conhecermos as novas diretrizes.