As notícias oficiais dadas ontem pelo Banco Central do Brasil indicam que o saldo do fluxo cambial até o dia 18, presumivelmente data base 16, estava negativo em US$ 1,313 Bi e que até o dia 21 já havia evoluído para negativo US$ 1,729 Bi e que os bancos estavam com suas posições no mercado de câmbio à vista “vendidas” em US$ 8,03 Bi no dia 21 último.
Como temos dito, são, até agora, US$ 8,03 Bi a serem “cobertos” pelos bancos, que terão que entregar nos meses de fevereiro e março montante próximo de US$ 5,0 Bi relativos às liquidações das vendas realizadas ao BC nas operações conjugadas que dezembro último.
Em tempos de fluxo favorável poderia ser visualizado como um montante não expressivo, mas com a crescente evidência que o viés do fluxo cambial negativo pode tornar-se sustentável, cria uma perspectiva pouco confortável em termos de cobertura e será inevitável que provocará pressão altista na formação do preço, criando dificuldades para a “administração do preço da moeda americana” que vem sendo realizada pelo BC.
O mercado neste momento ainda “está nas mãos” do BC, que mesmo num dia de anúncio de fluxo cambial negativo consegue “monitorar“ o preço da moeda americana e desvalorizá-la apreciando o real.
Parece-nos que erros cometidos nas projeções para 2012 baseados no cenário de 2011 voltam a ser cometidos em relação as projeções para 2013 ancoradas no comportamento de 2012.
É evidente e os números compilados por órgãos especializados têm dado indicativos numéricos que os investidores têm direcionado recursos para outros países emergentes mais atrativos e menos onerosos e que o Brasil tem sido preterido. Portanto, previsões otimistas realizadas por alguns departamentos econômicos em relação às perspectivas para IED´s podem ser contrariadas pela realidade, da mesma forma que percebemos que as projeções para o déficit em transações correntes podem estar subestimadas. O Boletim FOCUS parece mais próximo em suas projeções à realidade ao indicar perspectiva do déficit ser maior do que os IED´s.
É importante considerarmos que o Brasil passou a ser analisado pelos investidores estrangeiros muito mais por suas fragilidades, do que por suas virtudes e, mais recentemente surgiram economias emergentes que concorrem fortemente conosco na preferencia dos investidores e que detém vantagens relativas.
O BC também divulgou dados do setor externo no ano de 2012.
As despesas de turistas brasileiros no exterior, mesmo num ano de baixo crescimento da nossa economia como 2012 e com taxa média da moeda americana bem superior a de 2011, bateram recordes. Foram US$ 22,2 Bi, numero efetivamente elevado.
O governo precisa corrigir a assimetria de tributar com IOF de 6% os gastos com cartão de crédito normal no exterior e não tributar os cartões de crédito carregados localmente com valores em dólares e gastos no exterior. Afinal, no fundo trata-se teoricamente da mesma coisa, com tratamentos diferentes do ponto de vista fiscal e, não há uma razoável justificativa para o fato. Precisa alinhar esta assimetria, ou cobra nas duas situações ou isenta ambas. Neste momento nos parece adequado que tributasse a ponta que está isenta.
Há uma enorme disparidade entre os gastos de brasileiros no exterior, US$ 22,2 Bi, e os gastos dos estrangeiros no Brasil, US$ 6,6 Bi. Quase US$ 16,0 Bi desfavoráveis, quase a totalidade do saldo de nossa balança comercial, para termos uma visão comparativa de dimensionamento e expressividade do valor.
Há uma grande “janela” para melhorar os IED´s neste ano de 2013. O governo deveria contatar investidores estrangeiros com potencial de promover com recursos externos e não do BNDES, que tem um custo expressivo ao Tesouro e que é pago por todos nós, o desenvolvimento dos projetos direcionados à restauração e modernidade das relevantes deficiências da nossa infraestrutura que minam a competitividade do país.
Enfim, continuamos observando com muita cautela o comportamento do fluxo de recursos estrangeiros para o país e, não identificamos motivos efetivos para afastar perspectivas pouco otimistas para este ano de 2013.
Isto coloca em risco a manutenção eficaz do preço do dólar, através administração do BC, a serviço da contenção das pressões inflacionárias, que o BC deixa evidente na ata mais recente da reunião do COPOM ser algo preocupante no curto prazo.
No nosso entender este nível de taxa entre R$ 2,03 a R$ 2,05 não é sustentável quando se observa as perspectivas para o fluxo cambial para o Brasil neste ano e, para que não ocorra uma mudança gradual, porém relevante, o BC terá que ter muita atividade intervencionista no mercado ao longo do ano.
Nosso foco está centrado neste 1º trimestre, quando já poderemos ter sinais de pressão altista ao seu final.