Análise do Mercado – 23/01/2013

Inflação evidenciando-se alta e aquecida, tendo na contra ponta um fluxo cambial fragilizado e negativo, cria um ambiente bastante complexo e difícil para Banco Central do Brasil poder utilizar com tranquilidade sua ação “administrativa” na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.

O IPCA-15 do IBGE acelerou para 0,88% em janeiro após 0,69% em dezembro e 0,65% no mesmo período em 2012. Ocorreu alta em cinco dos nove grupos de despesa, desaceleração em três e estabilidade em um. Destaque para o grupo alimentação e bebidas (peso de 24% no índice) que acelerou de 0,97% em dezembro para 1,45% em janeiro, e, para o grupo despesas pessoais (peso 10,27% no índice) que acelerou de 1,10% em dezembro para 1,80% em janeiro.

Outra evidência deste quadro preocupante da inflação foi dada pelo IPC-S da FGV que na terceira quadrissemana de janeiro apontou 1,03%, que já se revela como tendência consistente, visto que fechou dezembro com 0,66%; na primeira semana de janeiro registrou 0,77% e na segunda 0,89%.

Os dados sobre o fluxo cambial não tem sido animadores, ficando muito aquém dos números de janeiro de 2012, muito embora o governo tenha flexionado a incidência para os empréstimos externos para 1 ano e tenha ampliado o prazo máximo para os Pagamentos Antecipados de Exportação de 360 dias para 5 anos.

Se este quadro não evidenciar mudança no decorrer deste 1º trimestre, vai agregar mais pressão sobre o preço da moeda americana, tendo em vista que os bancos estão com posições “vendidas” de quase US$ 7,3 Bi no mercado de câmbio à vista e tem vincendas em fevereiro e março operações de vendas ao BC da ordem de quase US$ 5,0 Bi. Ao todo, pouco mais de US$ 12,0 Bi de dólares efetivos, como demanda em perspectiva.

Hoje o mercado de juro da BM&FBovespa reagiu com alta face aos indicadores inflacionários divulgados, numa clara demonstração que entendem que o câmbio, por si só e pela fragilização do fluxo cambial, não será suficiente para conter as pressões inflacionárias, e os “players” começam a “pensar” na hipótese de, em ultima instância, ocorrer elevação do juro SELIC.

Os exportadores “viraram o ano” com estoque de US$ 17,9 Bi, correspondente a diferença entre os embarques físicos e o câmbio contratado, mas, muito provavelmente, estão postergando os ingressos e correspondente contratação do câmbio objetivando uma taxa cambial melhor.

Por outro lado, os importadores fecharam o ano de 2012 com um saldo a liquidar, diferença entre os embarques físicos e o câmbio contratado, da ordem de US$ 6,5 Bi, que, presume-se estão liquidando-o aproveitando que o governo está administrando a taxa cambial num piso baixo e bastante interessante.

Os números divulgados pelo BC relativos a 2012 apontaram um volume acima das estimativas para os IED´s e abaixo para o déficit em transações correntes.
 
Todavia, a expectativa do mercado para 2013 é que tenhamos um déficit em transações correntes acima do volume de IED´s.

Para a balança comercial espera-se um resultado menor do que 2013, algo como US$ 15,0 Bi, com viés de baixa.

Embora o IIF Instituto de Finanças Internacionais, que reúne as maiores instituições financeiras globais, tenha a perspectiva de que ocorrerá um aumento de fluxo de capitais privados para os países emergentes consequente da redução do direcionamento para as economias avançadas, que ainda revelam crescimento lento e baixas taxas de juros, não acreditamos que o Brasil será um receptor destes investimentos de forma privilegiada.

Há inúmeros emergentes com grau de atratividade muito maior do que o Brasil, os números mais recentes tem deixado evidente esta realidade.
 
São menos onerosos, revelam crescimento elevado como tendência, inflação em parâmetros confortáveis, etc. No confronto, cada vez mais, o Brasil revela-se um país “caro” para o investidor, cresce pouco e tem um quadro complexo para a retomada do crescimento, além de enfrentar pressões inflacionárias.

Nossa convicção é de que o dólar sofrerá forte pressão de alta de preço a partir do contexto do mercado, o que dificultará a administração por parte do BC, que poderá ser levado a ter que ofertar dólares à vista ao mercado, utilizando nossas reservas cambiais.

Este parâmetro atual de preço do dólar, no nosso entender, é enganoso e não revela compatibilidade com o contexto e a perspectiva para o mercado de câmbio e o fluxo cambial, decorrendo unicamente da intervenção do BC, mas que, em perspectiva, não nos parece sustentável a ponto de sobrepor-se as forças do próprio mercado.

Até porque, a ponta altamente colaborativa para apreciação do real, o mercado de derivativos continua com as restrições colocadas pelo BC e MF, que neutralizou a manipulação da formação do preço pelos especuladores.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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