Análise do Mercado – 14/10/2011

O PIB está em franco retrocesso e esta realidade passa agora da simples percepção para a evidência dos números, e, já há um sentimento que prognostica o crescimento em 2011 abaixo de 3%, o que não nos surpreenderá, e a despeito do…

O PIB está em franco retrocesso e esta realidade passa agora da simples percepção para a evidência dos números, e, já há um sentimento que prognostica o crescimento em 2011 abaixo de 3%, o que não nos surpreenderá, e a despeito do emprego ainda demonstrar-se aquecido será inevitável que haverá uma reversão neste comportamento.

Tivemos também oportunidade de enfatizar as perspectivas de perda de atividade por parte da China, já que sendo fundamentalmente uma “processadora” de insumos importados em produtos industriais acabados exportáveis, não conseguiria manter o ritmo num cenário global com prevalência da tendência de recessão, e ainda, considerando que o seu consumo interno representa tão somente 35% do seu PIB.

Está cada vez mais evidente que a crise é mais grave do que vinha sendo considerada e será mais longa do que o esperado. Claro também nos parece, como já temos salientado, que Estados Unidos e Europa não superarão a crise sem transitarem pela recessão.

A “Proxy” do PIB elaborada pelo Banco Central do Brasil representado pelo indicador IBC-BR, apontou uma retração de 0,53% em agosto, permitindo exercícios que sugerem que podemos não ter crescimento no PIB do 3º trimestre, e, ressalte-se, este dado vem em linha com outros indicadores recentes envolvendo vendas no varejo, produção industrial, etc.

O que temos presenciado é um BC/COPOM trabalhando firme com a dura realidade, admitindo o agravamento do quadro, enquanto o Ministério da Fazenda continua “plantando” esperanças que estão distantes com crescimento do PIB absolutamente fora do ponto para 2011, preço do dólar a R$ 2,00 para o início de 2012, etc. É compreensível, pois o BC/COPOM tem um compromisso com a política monetária, enquanto o Ministério da Fazenda precisa manter estimuladas as perspectivas para que o otimismo na economia não seja fortemente afetado, induzindo a continuidade de investimentos, etc.

Por isso, não se deve descartar que o COPOM possa efetuar um corte mais incisivo na taxa SELIC, algo entre 0,75% e 1,0%, convencido de que os efeitos da crise atingirão as pressões inflacionárias atuais de forma contundente. Um dólar a R$ 1,70 estimula esta hipótese.

O COPOM precisa ser proativo nas suas decisões focando os interesses mais imediatos, e aos que o criticarem, falando em decisão política, bom lembrar aos saudosistas que as pressões inflacionárias presentes decorrem do retardamento havido por razões políticas na elevação da taxa SELIC no ano passado.

O mercado de câmbio tende a conduzir o preço da moeda americana ao entorno de R$ 1,70, como temos prognosticado desde muitas semanas atrás, uma vez sanado o impasse no mercado de derivativos que era o fator, absolutamente interno, da pressão altista ocorrida, e reacomodadas as posições dos principais “players”, estrangeiros em posição praticamente neutra e bancos com uma posição de relativa aposta na apreciação do real, sem exageros, a formação do preço ficou mais à mercê do conceito efetivo de flutuante.

É preciso ter cuidado para não haver empolgação com o resultado do fluxo cambial da 1ª semana de outubro. A boa performance de US$ 3,4 positivos teve a contribuição da continuidade de ingressos de exportações já liquidadas e estocadas no exterior que revelavam saldo de US$ 5,2 Bi na virada do mês e de fechamentos muito concentrados em “commodities”, Vale US$ 700,0 M, Bunge US$ 612,0 M e Petrobrás. O saldo do estoque de exportações liquidadas está próximo do esgotamento, e este fato deve repercutir no decorrer do mês. O saldo financeiro foi realizado basicamente no 1º dia útil do mês.

Continuamos com o prognóstico que o fluxo cambial tenda ao equilíbrio ou até a tornar-se negativo.

Os bancos, ao fim da semana passada, estavam “comprados” em torno US$ 4,7 Bi, como o BC não vem realizando leilões de “compra” não há como reduzi-las a não ser com a demanda do mercado, por isso estão “vendidos” no mercado de dólar futuro no derivativos, protegendo-as já que a tendência presente é de apreciação do real.

Por acreditarem nesta tendência, mantêm posição vendida no mercado de cupom cambial-DDI de US$ 4,6 Bi. Os estrangeiros estão vendidos em “cupom cambial” em US$ 3,9 Bi, mas estão protegendo a ponta do dólar estando comprados no futuro de dólar em US$ 4,1 Bi.

Assim, sem turbulências ou atipicidades decorrentes do mercado de derivativos, que está neutralizado pelo IOF em seu lado especulativo, o câmbio deve ser efetivamente flutuante.

Acreditamos que quando retornar a R$ 1,70 pode haver um aumento da demanda, provocando volatilidade.

O preço da moeda americana chegando a R$ 1,70 em concomitância com a reunião do COPOM pode ser mais um fator indutor a um corte da taxa SELIC mais agressivo.

No exterior, já se propaga o sentimento da insuficiência do Fundo europeu aprovado para resgate, mas o caminho para a evolução de medidas parece bastante clara, capitalização dos bancos para que tenham capacidade de suportar as perdas decorrentes da “moratória organizada” da Grécia, e provavelmente de outros países em situação fiscal frágil.

As agências de “rating” estão massificando as reclassificações das notas conceituais de países e bancos europeus, deixando evidente que, ao contrário de 2008, se errarem será por excesso e não por omissão.

Continuamos entendendo como praticamente inevitável a recessão na Europa, já que até a economia da Alemanha já dá sinais nesta direção.

 

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