Análise do Mercado – 18/10/2011

Os gestores das economias americana e europeias procuram fomentar “ilusões” com a valorização de perspectivas de soluções de curtíssimo prazo, quando, em realidade, sabem que o caminho para a recuperação das atividades e…

Os gestores das economias americana e europeias procuram fomentar “ilusões” com a valorização de perspectivas de soluções de curtíssimo prazo, quando, em realidade, sabem que o caminho para a recuperação das atividades e superação do “status quo” presente é de longo prazo, não havendo “milagres”, mas sim uma árdua trajetória que poderá passar por períodos de recessão e rigores de gestão.

Bastou a Primeira Ministra da Alemanha, Angela Merkel e o seu Ministro das Finanças declararem que não se deveria esperar soluções definitivas para o problema europeu na próxima reunião do dia 23 e todo o “bom humor” fragilizou-se, a despeito de não ter dito algo novo, já que, em sã consciência, é inimaginável solução rápida para a Europa como um todo e também para a sua zona do euro.

Como temos salientado, a questão da Europa não se restringe a parte financeira, que é séria, mas envolve todo o contexto da desorganização instalada e da criação de uma zona com moeda única, sem o rigor da disciplina monitorada, que levou países periféricos a descontroles de gestão fiscal decorrentes da imaturidade combinada com irresponsabilidade para integrarem a zona do euro. Mas não foram só estes, afinal, ao que parece, só restou a Alemanha, a grande economia da região, sem riscos imediatos, mas que também revela perda de dinamismo de sua economia, que já apresenta um viés de recessão.

Consequência natural é a volatilidade, a mutação constante de perspectivas e, no fundo, uma avaliação inconclusa e que assim deve continuar sobre quem está pior, Estados Unidos ou Europa.

Contudo, o fato é que ambas as economias estão ruins e isto é ruim para toda a economia global, e certamente será inevitável que os preços dos ativos que ainda permanecem aviltados sofram ajuste numa visão prospectiva, e as “commodities” deverão ter impacto redutor nos preços, pois a demanda deverá fragilizar-se.

Outra realidade que ganha consistência em números é o fato dos países emergentes já não estarem tão vigorosos nesta fase da crise quanto estavam em 2008/2009.  O quadro está mudando com certa rapidez de percepção, a China desacelera de forma lenta e tem inflação aquecida, enquanto o Brasil desacelera de forma rápida e tem inflação aquecida mas, por desacelerar rápido, pode ter neste fato um indutor ao recrudescimento das pressões inflacionárias.

Temos salientado com frequência que não adianta ficar olhando para o “retrovisor”, o que foi não serve de referência para o momento, o que enseja que o foco seja o prospectivo, o que precisa ser feito para vencer os desafios à frente.

Em contextos econômicos desajustados os dados gerados não tem sustentabilidade, por isso devem ser considerados de forma muito relativa e não ensejar otimismos incabíveis como tem ocorrido.

Nestes momentos, perdem significância certos modelos matemáticos e ganha destaque o “feeling” dos dirigentes, o diagnóstico sobre o que está por vir, sem “fantasias” e com muito realismo.

Hoje começa a reunião do COPOM que definirá amanhã a nova taxa SELIC e, entendemos que pode ocorrer uma decisão de corte mais incisivo do que o mercado financeiro está esperando, afinal temos uma taxa de juro ainda muito elevada.

A opinião generalizada enseja um corte de 0,5% sobre o argumento de que a inflação está aquecida, que não conseguiremos ficar em 2011 dentro do pico alto da meta e que em 2012 ficaremos acima do centro da meta, etc.

Evidentemente, se o preço do dólar estivesse em R$ 1,70 haveria mais condições para o COPOM praticar a ousadia de um corte forte, e até nos questionamos se a alta de ontem não foi orquestrada para não gerar esta condição favorável ao COPOM.

O cenário externo azedou, mas o nosso mercado de câmbio está com o seu mercado de derivativos “trancado” para os movimentos especulativos que repercutem mais o cenário externo do que o mercado à vista, que neste momento está sem a influência do mercado de derivativos.

O mercado de câmbio à vista, nas circunstâncias atuais, tende a repercutir o conceito flutuante, ou seja, oferta e procura no seu próprio ambiente, e os volumes de giro no interbancário têm sido baixos, não ensejando conclusão de que o movimento esteja intenso.

Ademais, os bancos viraram a 1ª semana do mês com posições “compradas” no mercado à vista acima de US$ 4,0 Bi, contrapostas a posições “vendidas” no futuro de dólar ontem de US$ 3,77 Bi, que os protege, e mais US$ 4,58 Bi em posições “vendidas” em “cupom cambial-DDI”, que demonstra que operam com a convicção de que ainda há espaço para uma apreciação do real, que, temos prognosticado, até R$ 1,70.

Por outro lado, os estrangeiros estão comportados, com uma posição em “cupom cambial-DDI” “vendida” em US$ 3,93 Bi, tendo a “perna em dólar” protegida por uma posição “comprada” em “dólar futuro” de US$ 4,08 Bi. Absolutamente quietos.

No nosso entendimento, os “players” do mercado de câmbio inibiram a tendência de apreciação do real de forma pontual, para procurar inibir o COPOM de um corte mais agressivo da taxa SELIC.

Mas a despeito deste movimento pontual, continuamos acreditando que o dólar tende à depreciação até o entorno de R$ 1,70, e, o BC/COPOM, supomos, também deve ter esta percepção.

 

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