Análise do Mercado – 08/02/2011

Há em curso um movimento ainda discreto, mas que deve ser considerado em perspectiva, de retorno dos investimentos nos mercados dos países emergentes, principalmente de renda variável, para os mercados dos países desenvolvidos…

Há em curso um movimento ainda discreto, mas que deve ser considerado em perspectiva, de retorno dos investimentos nos mercados dos países emergentes, principalmente de renda variável, para os mercados dos países desenvolvidos, estimulados pelos ainda discretos sinais de retomada consistente de recuperação da atividade econômica destes países.

E este fato pode fustigar o otimismo em relação a nossa BOVESPA, ainda mais que, por inevitável, a economia brasileira precisará desaquecer o ritmo de atividade para que as causas das pressões inflacionárias possam ser sensibilizadas pelas medidas prudenciais e elevações do juro adotadas pelo governo brasileiro.

A SERASA apurou com seu Indicador da Demanda do Consumidor por Crédito que, em janeiro de 2011, por razões sazonais, a demanda foi menor 6,7% em relação a dezembro 2010. A quantidade de pessoas que procurou crédito cresceu 12,9% em janeiro de 2011, quando comparada a janeiro de 2010, mas foi a menor taxa de expansão anual nos últimos 6 meses.

A inflação continua demonstrando sua força. O IPCA de janeiro veio forte com alta de 0,83% em janeiro, informou o IBGE. É a maior taxa desde abril de 2005 quando registrou 0,87%. Nos últimos 12 meses atingiu 5,99% acima dos 12 meses imediatamente anteriores quando acumulava 5,91%.

Embora ligeiramente acima das projeções, a inflação pelo IPCA era esperada elevada, até porque uma parcela substantiva de itens nesta fase do ano é reajustada pelo IGP-M do ano findo, que superou os 11%, o que é uma distorção significativa no país.

Urge que o governo anuncie atitudes focando o rigor fiscal imprescindível para repor “a casa em ordem”, com o anúncio efetivo e crível corte orçamentário, preferencialmente não envolvendo verbas destinadas ao PAC, o que, segundo se percebe no mercado, fragilizaria a convicção sobre a eficácia da medida, pois grande parte pensa, mas não diz, que seria cortar “fumaça” se envolver verbas do PAC. Consensualmente, um corte da ordem de R$ 60,0 Bi seria bem recebido e provocaria repercussões imediatas nas expectativas.

Se sinais primários de recuperação da atividade econômica dos países desenvolvidos são capazes de alterar as decisões dos investidores em renda variável, devemos considerar que, se os Estados Unidos resolverem elevar sua taxa de juro, hoje criticada por ser tão baixa por inúmeros países, inclusive enfaticamente pelo Brasil, poderá ocorrer também retração dos investidores estrangeiros em renda fixa, principalmente porque os países emergentes começam a se preocupar com as pressões inflacionárias e, no caso brasileiro, política fiscal em 2010 muito fragilizada, requerendo que em 2011 seja imposto um rigor fortíssimo.

A China, preocupada com a inflação, anunciou hoje mais uma alta de 0,25% no juro, 2ª alta em pouco mais de um mês. Agora 3% para os depósitos e 6,06% para os empréstimos, a partir de 9 do corrente.

Portanto, há com o que se preocupar em perspectiva quanto à possibilidade de mudanças sobre as projeções de fluxos de recursos externos para o país. Não devemos ser pessimistas, mas é necessário que sejamos cautelosos.

Geithner, Secretário do Tesouro americano que nos visita, sugeriu que “apertemos” a China, porém, os chineses são os grandes compradores das nossas “commodities” e se alterarem a relação paritária do Yuan com o dólar, seguramente buscarão efeito compensatório nos preços que nos pagam.

Assim, os juros baixos americanos alavancam o fluxo de recursos para os emergentes, com destaque para o Brasil, e a China é nossa grande parceira comercial que se mexer no valor do Yuan forçará o ajuste no preço das nossas “commodities” para baixo, a despeito das cotações em bolsa.

Portanto, esta é uma “interferência” indigesta para o governo brasileiro, para passar da crítica verbal a ato concreto, principalmente para um país, como o Brasil, com déficit em transações correntes em tendência de crescimento, já sendo projetado em pouco menos de US$ 70,0 Bi para este ano.

No câmbio, o BC diversifica e intensifica a sua ação intervencionista, mas há quase uma insensibilidade ao fato e a taxa permanece na linha da estabilidade. Uma discreta alta em 4 dias seguidos, mas sabidamente não sustentável. Na ponta de suas intervenções vai construindo um estoque de “swaps cambiais reversos” em poder do mercado e isto é sempre um risco de desencadeamento de especulação apreciando o real, movimento contrário aos objetivos de todo empenho da autoridade monetária.

Esperávamos um BC com leilões de compra a termo a prazos mais longos, e, focando modernizar o mercado de câmbio físico, permitindo que as empresas pudessem ter acesso com operações “forward” e mesmo “a termo”, quando cabíveis e sempre amparadas em lastro efetivo para evitar a presença do especulador. Contas em moedas estrangeiras para empresas captadoras de recursos externos e/ou com atividade de comércio exterior, junto aos bancos autorizados a operar em câmbio, com suas movimentações condicionadas as efetivações dos registros das operações de câmbio dentro das normas.

O mercado de câmbio físico, por suas instituições autorizadas, precisa compartilhar mais com o BC o acúmulo e a guarda das reservas brasileiras, e ganhar volume para gerar uma formação mais equilibrada do preço da moeda estrangeira “spot”, “forward” e “a termo”.

O Brasil precisa de um mercado de câmbio físico mais amplo, moderno e abrangente em sua diversidade operacional e estrutural.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress