O mercado financeiro convive com relativa ansiedade sobre o anúncio pelo governo do corte orçamentário, que se espera até o final desta semana, e, também sobre a fala do Diretor de Política Econômica do BC por ocasião da divulgação do Boletim…
O mercado financeiro convive com relativa ansiedade sobre o anúncio pelo governo do corte orçamentário, que se espera até o final desta semana, e, também sobre a fala do Diretor de Política Econômica do BC por ocasião da divulgação do Boletim Regional do órgão, amanhã, quando poderá trazer informações mais precisas e atuais sobre as operações de crédito no país, viabilizando uma avaliação dos impactos efetivos das medidas macroprudenciais estabelecidas pelo governo em meados de dezembro do ano passado.
Um corte orçamentário substantivo, dando evidência a um robusto rigor fiscal, agregado a sinais positivos de retração da demanda por crédito, que repercute na demanda, certamente impactarão nas projeções inflacionárias para este ano, e, poderão sancionar ou não a necessidade de uma alta de maior ou menor grandeza na SELIC.
No mercado de câmbio verificou-se ontem um movimento de apreciação do real que praticamente anulou as quatro altas antecedentes, mas este fato é explicável.
Ao operar comprando no mercado físico a termo e considerando um ambiente sem turbulências, é natural que na proximidade dos vencimentos destas operações, os bancos atuem pró-apreciação do real para que possam comprar divisas “spot” a preços mais baixos para promoverem a entrega ao BC das divisas vendidas a termo, abrindo assim o ganho nas operações realizadas com a autoridade monetária.
Hoje é data de vencimento de leilão de compra a termo realizado pelo BC, o que justifica o movimento pontual de apreciação ocorrido ontem, que já não precisa ser sustentado hoje.
Para evitar este movimento volátil pontual, o BC deveria atuar em concomitância aos vencimentos, ou antecipando em um ou dois dias, realizando novos leilões de compra a termo, num movimento contra ciclo ao dos agentes do mercado.
Quando o BC anuncia leilões de compra a termo ou mesmo de “swaps cambiais reversos”, os bancos procuram depreciar o real, elevando a taxa e assim procurando estabelecer um preço futuro mais alto. Posteriormente, quando os vencimentos procuram apreciar o real para maximizar o ganho nas transações.
Portanto, a atuação pontual do BC nestas ocasiões teria efeito neutralizador a este movimento, pois se os bancos apreciarem o real para ganhar nas vincendas, naturalmente, terá um preço futuro menor nas novas.
É preciso fechar os flancos que estas operações vão deixando e que acabam conspirando contra uma eventual melhora de preço da moeda americana, pois criam volatilidade previsível, mas não afastam o preço de forma sustentável do eixo da estabilidade.
Como temos ressaltado, a utilização dos “swaps cambiais reversos” com o objetivo de tirar pressão do mercado de cupom cambial e viabilizar melhor condição para o BC realizar o leilão de compra a termo no mercado físico, vai provocando a formação de um estoque que tende em perspectiva a ser um fator relevante de indução à apreciação do real, na proximidade de seus vencimentos, com os agentes procurando ganhar além do juro, também a variação cambial, tornando-a negativa para o BC.
Em razão disto, ganha coerência quando o Boletim FOCUS indicou em sua edição de 4 passados, como projeção mediana de 100 instituições financeiras para o final do ano, uma redução do dólar de R$ 1,75 para R$ 1,73, a despeito de todo empenho que o BC vem demonstrando operacionalmente e, além disto, a manifesta intenção do Ministro Mantega em ter um apreçamento melhor para a moeda americana.
Se o BC não fizer correções na conduta operacional é possível que esta projeção possa vir a ser reduzida algumas vezes, ficando eventual resistência a esta possibilidade por conta de mudança de perspectivas de fluxos de recursos externos para o país, o que é prematura ainda considerar-se, mas que não pode deixar de ser focado, pois as economias desenvolvidas começam a intensificar a condição de opção concorrente aos países emergentes, que se vêem às voltas com pressões inflacionárias.
No exterior, o fato da China ter elevado o juro num prazo curto demonstra o nível de preocupação com as pressões inflacionárias, e, isto sempre repercute negativamente dada a sua importância econômica, pois pode ser um sinal de que pretende reduzir o ritmo de crescimento, o que afeta inúmeros mercados.
Hoje há expectativa em relação a fala do Presidente do FED americano, Ben Bernanke, que deverá abordar perspectivas econômicas e as políticas fiscal e monetária. Há uma crescente percepção de que os Estados Unidos podem surpreender este ano com um crescimento de 3,5% a 4,0%, e os sinais mais recentes, embora nem sempre alinhados, sugerem que a economia está em ritmo de recuperação um pouco menos lenta.