O preço da moeda americana “derrete” e segue, como já prevíramos há algumas semanas, para os R$ 1,70, mesmo ocorrendo alguma volatilidade, previsível também, pois há uma demanda estocada maior do que a oferta no âmbito comercial que…
O preço da moeda americana “derrete” e segue, como já prevíramos há algumas semanas, para os R$ 1,70, mesmo ocorrendo alguma volatilidade, previsível também, pois há uma demanda estocada maior do que a oferta no âmbito comercial que a provocará. Os fatores “que estavam por aqui e bem próximos” pressionando a alta foram sanados com a geração de liquidez por parte do Banco Central do Brasil, com a oferta realizada de “swaps cambiais”.
Como sempre destacamos no mercado de câmbio nem sempre o que parece efetivamente o é!
O IPCA de setembro divulgado hoje com elevação de 0,53%, acumulando no ano 4.97% e nos últimos 12 meses 7,31%, a maior desde 2005, evidencia o que está bem perceptível nos preços da economia, e, já ocorre uma enxurrada de críticas e considerações sobre as perspectivas da inflação no Brasil, porém notamos que a grande base de fundamentação das críticas se consubstancia em modelos clássicos de política monetária e, acreditamos, não esteja “quantificando” adequadamente os impactos em perspectiva da crise internacional, que tem foco mais acentuado na visão do BC.
Alguns indicadores recentes já sinalizam a desaceleração da produção de veículos e esta queda não pode ser atribuída tão somente à concorrência dos veículos importados, há uma efetiva retração na demanda. Assim, também ocorre em outros bens duráveis.
Desta forma, a queda do preço da moeda americana atenuará as pressões altistas nos preços atribuídas a esta causa, embora já tenha havido alguma contaminação de difícil reversão dada à “cultura” brasileira de não baixar os preços quando os fatores que fomentaram a alta deixam de existir.
Causou-nos certa estranheza, declarações atribuídas ao Diretor de Politica Monetária do BC, de que o IOF em operações de derivativos no mercado futuro é “pouco eficiente” e dá “incentivos errados” e que a decisão sobre a retirada é política.
Considerando o entendimento de que a medida foi prudencial e profilática, mais voltada a conter excessos que o próprio mercado não soube autolimitar e que poderiam exacerbar os riscos presentes, do que arrecadatória, não se pode desmerecer a sua eficácia e pontualidade, tendo atingido integralmente seu objetivo.
Naturalmente, neutralizando a especulação desenfreada paralisou o especulador e a liquidez do mercado de derivativos, o que provocou a pressão altista no preço da moeda americana já que o BC não assumiu de imediato a geração da liquidez, o fazendo, até de certa forma, tardiamente, quando já ocorria uma elevação do preço do dólar que provocava “ruídos” e já contaminava os preços da economia.
Abrir mão deste mecanismo intervencionista, sem que se tenha um quadro melhor definido da situação externa, pode ser temeroso e deixar a formação do preço da moeda americana à mercê, outra vez, do mercado de derivativos e especuladores.
Tempos atípicos tornam aceitáveis medidas atípicas, e, os reclamos do mercado podem ser considerados normais, pois como dizia um antigo corretor “vivemos de giro e não de juros”!
No cenário externo perspectivas de capitalização dos bancos europeus criaram otimismo ontem e dados do emprego nos Estados Unidos em setembro acima das projeções trazem relativo alívio ante perspectiva de recessão econômica.
As notícias de medidas voltadas a fortalecer a capitalização dos bancos europeus deram ânimo aos mercados ontem, mas esta pode ser tão somente uma ação preparatória para que o sistema financeiro esteja fortalecido para suportar em seguida a moratória da Grécia e as dificuldades que poderão afetar Portugal e Irlanda, afora outros.
Particularmente, não afastamos a hipótese de que a fase inicial será a capitalização do sistema financeiro e a segunda à moratória organizada da Grécia.
O fato é que a eurozona não pode permitir que, em especial, Grécia, Portugal e Irlanda corram o risco de irem à moratória de forma desorganizada e com o sistema financeiro europeu fragilizado. Se isto viesse a ocorrer, certamente estes países deixariam a zona do euro e promoveriam uma enorme desvalorização de suas moedas, que seria mais danoso ainda, visto que são países que têm suas receitas mais expressivas do turismo e não da exportação de produtos, e o turismo ficaria fortemente afetado.
Nos Estados Unidos, hoje, foi divulgada a criação de 103 mil novas vagas de emprego em setembro, acima das projeções dos analistas, mas ainda frágil já que se estima que a economia americana precisaria gerar 150 mil novas vagas mensalmente. Desde a crise de 2008 a economia americana conseguiu repor tão somente 1 milhão dos 8,7 milhões de empregos perdidos. O desemprego permaneceu em 9,1%.
Continuamos considerando como quase inevitável a recessão nos Estados Unidos e Europa.