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Análise do Mercado – 10/10/2011

O mercado financeiro demonstra algum desconforto com o fato do Banco Central do Brasil não proporcionar formação de expectativas sobre suas decisões em perspectivas, mas nos parece que a direção de que vai ocorrer novo corte da taxa…

O mercado financeiro demonstra algum desconforto com o fato do Banco Central do Brasil não proporcionar formação de expectativas sobre suas decisões em perspectivas, mas nos parece que a direção de que vai ocorrer novo corte da taxa SELIC é inquestionável e que a sua intensidade está condicionada a movimentos concretos de demais fatores correlatos, como preços das “commodities” e taxa de câmbio.

Com as medidas que tomou na virada do mês ofertando liquidez ao mercado de derivativos, o Banco Central do Brasil foi direto ao ponto que havia determinado a forte exacerbação do preço da moeda americana ocorrida em setembro.

Eliminadas as pressões remanescentes pós-IOF decorrentes da falta de liquidez e melhor acomodadas às posições dos “players” do mercado de derivativos, mantido o fechamento dos espaços para movimentos especulativos com a manutenção do IOF, a fragilização do movimento altista foi imediata e forte, revertendo para tendência da apreciação do real.

A partir deste quadro, o mercado de câmbio ficou à mercê da sua característica básica, da qual estava afastado há muito tempo, ou seja, ser flutuante, repercutindo o fluxo de oferta e procura.

Há no mercado de câmbio um passivo comercial a ser resgatado, ou seja, o volume de exportações liquidadas e com os dólares retidos no exterior para ingresso que deverão ingressar no país, depois de muito tempo, ficou menor do que o estoque de importações com produtos já ingressados no país e com seus valores a serem pagos.

Ocorre também, movimento de saída pontual de recursos de investimentos em renda fixa e renda variável, assim como remessas de lucros, dividendos, lucros s/capital, transferência de “caixa”, estas por parte das filiais das multinacionais.

Contudo, como há um viés claro de que o preço da moeda americana é de baixa, naturalmente que os demandadores tenderão a aguardar para, posteriormente, efetivarem suas remessas. As filiais das multinacionais pelo fato de que com o preço mais baixo conseguem remeter mais divisas, enquanto que para os importadores representa pagamento de valor menor em moeda nacional.

Este hiato na demanda tornou-se perceptível pela queda brusca do giro no interbancário do mercado à vista, que na última sexta-feira registrou irrelevantes US$ 1,06 Bi.

Mantido este comportamento, a queda do preço da moeda americana tende a acentuar-se para atingir o R$ 1,70, quando então deverá registrar alguma volatilidade pelo fato de aumentar o volume de negócios no mercado de câmbio.

Tornando-se efetivo este ambiente em que acreditamos, o BC certamente estará confortável para um corte entre 0,75% e 1,0%, caso contrário poderá cautelarmente limitá-lo a 0,5%.

Os preços das “commodities” ainda não cederam como esperávamos, mas nos parece inevitável que venham a ceder, pois entendemos que a Comunidade Europeia esteja insistindo em criar “ilusões” de que possa superar a crise só com aportes financeiros.

O problema estrutural da eurozona é mais grave. A questão do euro passa rigorosamente por sua “reorganização” a partir dos comprometimentos efetivos dos integrantes com princípios de política fiscal, envolvendo intervencionismo do BCE no monitoramento. Esta é uma questão de solução de médio/longo prazo pois implica em impor dura disciplina para os países integrantes do sistema do euro.

Evidente que o processo de reenquadramento dos países com relevantes desequilíbrios fiscais passa por “moratória” organizada dos mais atingidos pelas irresponsabilidades de seus governantes, e, precisará, certamente, de um sistema financeiro em condições de suportar o pesado ônus, o que inexiste no momento na Europa, e nos parece que seja isto que está sendo preparado.

No conjunto, deve passar também a Comunidade Europeia por um período de recessão.

Nos Estados Unidos, o quadro também sugere que deverá ocorrer um período de recessão, sem o que não conseguirá superar a situação atual.

A China acreditamos, gradualmente, deverá evidenciar perda da intensidade da atividade econômica, visto ser muito dependente das exportações, o que determinará retração na sua demanda mundial de insumos, que deverá impactar nos preços da “commodities”. Com isto, conseguirá frear o aquecimento inflacionário, que determinou a necessidade do governo chinês de reduzir o preço dos combustíveis.

E o BRASIL, naturalmente, deverá crescer menos, ainda menos do que projeta o Boletim FOCUS deste final de semana, que aponta 3,50%, já que há indícios que já estamos em ritmo de 2,0% a 2,5%, que pode determinar um crescimento final no ano abaixo de 3%.

A OCDE na apuração do seu ICA Indicador Composto Avançado atribui ao Brasil 94,8 pontos, o que representa que é o com maior intensidade de desaceleração econômica entre 39 países.

A Serasa Experian aponta em nota divulgada que a propensão à tomada de crédito do consumidor está em retração, atribuindo à causa a crise internacional, mas este é um ponto que já ressaltamos com bastante anterioridade, salientando que, a despeito do governo deter recursos para suprir o mercado financeiro para a manutenção do crédito destinado ao consumo, certamente a propensão ao consumo dos brasileiros tenderia a queda, até porque grande parte da demanda reprimida existente já fora atendida.

Nossa percepção indica que é possível que a curva da inadimplência possa ser ascendente.

 

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