O câmbio está incomodando as autoridades monetárias e é crescente a percepção de que a curva do fluxo cambial é tendente a consolidar-se negativa adentrando o ano de 2013.
Contudo, inegavelmente sabe que o mercado de câmbio está precisando ser suprido com leilões de divisas à vista e que esta é a opção certa, mas está evitando fazê-los, pois tornaria mais evidente que o fluxo cambial está ruim para o Brasil, que até a bem pouco se via e propagava ser vítima da “guerra cambial” e chegava a ter a perspectiva da ocorrência de “tsunamis” monetários para o Brasil.
A realização de leilão puro e simples de venda de dólares à vista para o mercado criaria um fato que poderia gerar inúmeros ruídos, num momento que já não é favorável face ao desconforto provocado pelo PIBinho do 3º trimestre deste ano, que contrariou todo otimismo exacerbado que havia em torno do mesmo ao atingir 0,6%, tão somente a metade das projeções predominantes.
Relutando em realizar uma atitude operacionalmente objetiva, pelas razões que apontamos acima, busca criar condições para que se acentue o fluxo de recursos para o país.
Ao longo dos dois últimos meses vimos mencionando a necessidade do BC rever parte das “amarras” que havia colocado para neutralizar uma suposta intensificação do fluxo cambial, pois já era clara a tendência à ocorrência de queda dos ingressos de forma sustentável e o aquecimento das saídas, e, este seria um fator impactante de alta na formação do preço da moeda americana, independente da vontade ou não do governo.
Aventamos a necessidade premente de duas medidas por parte do governo. Extensão do prazo para os Pagamentos Antecipados de Exportações que fora limitado a 360 dias, e, redução do prazo dos empréstimos externos sujeitos ao IOF de 6%. E aduzimos o fato do país já não ser mais o “oásis” do ganho fácil; ter perdido atratividade após os 525 pontos de baixa na SELIC e o câmbio vir sendo administrado pelo governo. Portanto, o risco do direcionamento para especulação é baixíssimo.
Ontem, confirmando nossa expectativa, reviu a norma de contingência de prazo para o Pagamentos Antecipados de Exportações elevando-o de 360 dias para até 1.800 dias, 5 anos, e o forte alargamento do prazo diz por si só quanto o governo tem de pressa para dólares fluam para o país por este mecanismo.
Esta é uma medida para a qual o governo espera resposta rápida dos exportadores, a ponto de evitar que tenha que realizar leilões de venda à vista no mercado de câmbio, pelas razões já enunciadas.
Apontamos que esta flexibilização deveria atingir, também, o prazo dos empréstimos externos que deveria ser reduzida de 2 anos para 1 ano ou menos para ser objeto da tributação do IOF de 6%.
E salientamos que esta é uma medida que deveria ser adotada agora, período em que as empresas estão realizando seus planejamentos para 2013.
E foi anunciada hoje a redução de 2 anos para 1 ano nos empréstimos, como preconizávamos.
Tudo indica que o BC e o governo em si serão tolerantes com a manutenção do preço do dólar acima de R$ 2,10 até que a medida adotada relativa aos Pagamentos Antecipados de Exportações e redução do prazo mínimo de empréstimos produzam resultados melhorando o fluxo, evitando assim fazer o leilão de venda de dólares no mercado de câmbio à vista.
Neste momento, não nos parece que o BC deseje a taxa cambial acima de R$ 2,10, pois precisa monitorar o comportamento da inflação e na medida em que esta ceda poderá liberar a alta na taxa cambial.
Gradativamente o preço da moeda americana tende a enquadrar-se dentro da banda de R$ 2,05/R$ 2,10, pois o fluxo cambia vai melhorar com certeza.
Como consequência do decepcionante crescimento do 3º trimestre, o governo voltou a anunciar incentivos pontuais a setores da economia, sempre acompanhado de números dantescos de “perda de arrecadação”, sem considerar que o aumento dos volumes de vendas dos produtos acabam por compensar sobejamente a pressuposta perda. O incentivo do IPI aos automóveis deixa evidente esta verdade.
Esta forma de gestão de curtíssimo prazo, sem nenhum plano de longo prazo, não é algo que agrade aos investidores, em especial os estrangeiros, por isso o resultado dos investimentos tem sido decepcionantes e muito aquém da necessidade da economia brasileira.
Mas, nos parece que é o possível que pode ser feito pelo governo, que fala em política anticíclica, mas não tem recursos poupados para realizá-la efetivamente, pois a necessidade é de desoneração ampla e irrestrita da economia brasileira como um todo, para que seja revitalizada a propensão ao crescimento.