Análise do Mercado – 06/12/2012

A razão direta para a flexibilização das “barragens” existentes para o ingresso de recursos externos, via Pagamentos Antecipados de Exportações, que tiveram o prazo ampliado de 360 dias para 1.800 dias, e a redução do prazo mínimo para ingresso de empréstimos com IOF de 6% de 2 anos para 1 ano, não foi exatamente, em primeira instância, nem bondade e nem benesse para com os exportadores ou empresas para captar recursos no exterior, mas claramente a necessidade premente de recompor o fluxo de recursos externos para o país.

 

 

E ainda mais, o momento não seria bom para deixar isto evidente, visto que tivemos na semana passada a divulgação do desapontador PIB do 3º trimestre deste ano, e alguns menos avisados poderiam precipitadamente ligar um fato ao outro.

As medidas tendem a reforçar bem o fluxo de recursos externos para o país e este foi certamente o objetivo primeiro do governo, e, na margem promove incremento de recursos para o setor exportador, em especial agrícola, e para as empresas que poderão com isto superar eventuais retrações do sistema bancário brasileiro na concessão de crédito e acessar recursos a custos até mais competitivos.

O governo naturalmente não assume, nem seria lógico que o fizesse, a efetiva razão primeira das medidas, e, utiliza o mote da consequência segunda para valorizar suas decisões com foco no esforço para que a economia se revitalize e possa evitar que 2013 repita o desapontamento de 2012.

O potencial de aumento de fluxo das medidas é tamanho, que bastou tão somente a perspectiva, antecedente à ocorrência do fato real, para que o preço da moeda retornasse aos parâmetros desejados pelo governo, ou seja, no intervalo entre R$ 2,05 a R$ 2,10. Hoje abriu os negócios abaixo de R$ 2,09.

As medidas adotadas foram perfeitamente adequadas face ao comportamento do mercado de câmbio que sinalizava falta de liquidez, e, que não havia respondido plenamente aos leilões de “swaps cambiais” e não rolagem de posição vincenda na virada do mês de “swaps cambiais reversos”, ambas com efeito “venda” no mercado de derivativo com impactos na formação do preço no mercado à vista, e, além disto, leilão conjugado de venda à vista e compra a prazo.

A opção próxima seria o BC fazer leilão de venda à vista, o que buscou evitar pelas razões que já enunciamos, ou flexibilizar as normas restritivas que foram objeto das mudanças. Optou por esta, viabilizando uma solução de mercado.

Contudo, há que se destacar que o comportamento do mercado de câmbio na formação do preço da moeda americana ao longo do mês de novembro foi absolutamente assimétrico em relação ao saldo positivo divulgado pelo BC do fluxo cambial de novembro de US$ 4,876 Bi.

Este montante foi suficiente para cobrir as posições vendidas dos bancos consequentes do resultado negativo de US$ 3,8 Bi do fluxo cambial de outubro e deixá-los comprados em US$ 914,0 M.

Não encontramos um bom fundamento técnico para esta atipicidade comportamental do mercado evidenciando baixa liquidez, ante o número positivo de fluxo cambial anunciado pela autoridade monetária, visto que até o BC e MF tomaram medidas deixando evidente carência de fluxo de ingressos.

Por outro lado, está evidente que o PIB diminuto do 3º trimestre de 2012 quebrou a linha de excessivo otimismo que vinha prevalecendo por parte do governo, que assim continuou criando estímulos pontuais, na ausência de um planejamento de longo prazo, e anunciou ontem disponibilização de recursos para o PSI, que foi prorrogado, da ordem de R$ 100,0 Bi para 2013 destinados a investimentos em equipamentos, tecnologia e inovação, com prazos mais longos e juros mais baixos, algo como 3% aa no 1º semestre e 3,5% no 2º semestre. Na mesma linha reduziu a TJLP que é utilizada pelo BNDES de 5,5% para 5,0% AA.

O Ministro Mantega continua com sua crença que poderemos crescer 4% em 2013, já não tão vislumbrado pelos analistas do mercado, e um incremento na taxa de investimentos da ordem de 8%. Embora as projeções para crescimento do PIB 2013 tenham se retraído em decorrência do resultado do PIB do 3º trimestre deste ano, que sugere que o pais crescerá tão somente 1% neste 2012, ao governo cabe ser otimista até por dever, mas é preciso sensatez para que não se repita desapontamento como esta acontecendo neste 2012.

Temporariamente acreditamos que o governo conseguiu balizar com as quebras das amarras promovidas as pressões altistas no preço da moeda americana no nosso mercado, e deve permanecer entre R$ 2,05 a R$ 2,10, com um grau menor de intervenções do BC. Agora é acompanhar o comportamento da inflação para verificar se serão possíveis novas mudanças da banda administrada.

Embora muito reivindicada pelo mercado, entendemos que as amarras do mercado de derivativos não devam ser flexionadas, pois poderiam proporcionar desnecessários e desinteressantes movimentos provocativos de volatilidade no comportamento do preço da moeda americana, e, seria meio que incompatível neste período em que todos sabemos que o BC está administrando a taxa cambial, embora, por razões óbvias, negue este fato.

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