Expor intenções e não colocá-las em prática imediata no mercado de câmbio provoca movimentos antecipatórios inevitáveis. Parece que estamos vivenciando isto neste momento. O BC e o MF mencionaram possível elevação de tributação sobre…
Expor intenções e não colocá-las em prática imediata no mercado de câmbio provoca movimentos antecipatórios inevitáveis.
Parece que estamos vivenciando isto neste momento. O BC e o MF mencionaram possível elevação de tributação sobre o ingresso de capitais especulativos buscando otimizar rentabilidade no país, hoje, quase único “grande oásis especulativo global” em decorrência de praticar exuberante taxa de juros absolutamente incompatível com o nível de risco atribuído que lhe é atribuído pelo mercado internacional.
Esta sinalização deve estar precipitando fluxo de investimentos especulativos acentuado, a exemplo que já ocorreu num passado recente em circunstâncias idênticas, e os bancos apreciam cada vez mais o real.
Os “players” do mercado não demonstram qualquer preocupação com as menções de que as autoridades monetárias tencionam “comprar mais e mais” ou mesmo utilizar os instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais reversos”, pois tem plena convicção que ambas iniciativas são potencialmente apreciadoras do real e proporcionam enorme oportunidade de ganho financeiro e não motivam, inquestionavelmente, a valorização da moeda estrangeira.
Contudo, sabem que um aumento da tributação com o IOF nos ingressos pode ter potencial para contenção do fluxo cambial, se bem que sabem que existem atalhos que ainda deixa espaço para aproveitar a rentabilidade brasileira, mas o fluxo cambial sofre o impacto redutor provocado pela tributação. Imaginamos que pudesse o IOF ser elevado para 5% flat, bastante para desincentivar os investimentos especulativos até um ano.
Porém, enquanto não vemos fatores burocráticos que dificultem a aplicação da medida tributária, nos parece que a mesma pode provocar constrangimentos políticos, já que haverá repercussão imediata da medida de contenção de ingressos de recursos no país, e este não é um bom momento.
Outra medida viável seria normativa, mas de efeito mais gradual, até porque cabe a autoridade ser prudencial face aos posicionamentos dos “players” com transações envolvendo variação cambial, e a medida mais adequada seria reduzir os limites de exposições às transações desta natureza.
O grande problema do Brasil, que suscitou o “grito de alerta” do Ministro Mantega, é que o Brasil pratica uma mixagem de política cambial com política monetária, inapropriada para um país que utiliza sistema de câmbio flutuante, que o coloca na contramão do que se vê no mercado internacional.
Estamos na contramão das desvalorizações paritárias que vem ocorrendo em várias moedas como consequência da perda de atividade econômica dos países mais importantes, consequentes das medidas de estímulos com reduções substantivas de juros e “injeções” de liquidez pelos governos.
A grande maioria dos países tem mercados internos que já eram frágeis no consumo e agora foram seriamente agravados, e, até os Estados Unidos, cujo PIB era formado pelo consumo interno tem problemas neste momento decorrente do elevado desemprego. Assim, a saída para o desejável “vender mais e comprar menos” entre os próprios fica quase inviável e a equação não fecha como temos salientado.
A China está blindada pela sua intervenção firme no estabelecimento da paridade de sua moeda.
Portanto, o Brasil é a grande janela quase única de oportunidade vislumbrada pelo mundo e está com uma estratégia oposta a dos demais países, pois induz e tem a moeda local excessivamente apreciada para combater a inflação, que por sua vez estimula as importações que ficam extremamente atraentes, e, atrai capital especulativo para seus papéis de renda fixa pela exuberância da rentabilidade.
Esta foi a “luz amarela quase vermelha” vislumbrada pelo Ministro Mantega, acreditamos, decorre desta circunstância que pode pegar o país de “pé trocado”, e isto precisa ser corrigido.
Contudo, o Brasil não tem antídotos específicos para fechar os flancos, exceto o tributário e/ou normativo, tudo o mais será inócuo.
Idealmente, em câmbio nada se pré-anuncia, faz-se, mas como já foi falado, o melhor é tornar efetivo o quanto antes.