Enfim, o governo saiu das intenções e adotou a elevação da taxa do IOF de 2% para 4% flat, sobre os ingressos de recursos externos direcionados para aplicação em renda fixa. Eficaz? Sim, se considerarmos que o foco da medida é o investimento…
Enfim, o governo saiu das intenções e adotou a elevação da taxa do IOF de 2% para 4% flat, sobre os ingressos de recursos externos direcionados para aplicação em renda fixa.
Eficaz? Sim, se considerarmos que o foco da medida é o investimento especulativo que tem o curto prazo como característica, aquele de péssima qualidade oriundo de operações de “carry trade” e outros adjetivos, e que nada contribuem para os interesses do país e que fomentam volatilidade, visto que entram lentamente e deixam o país rapidamente quando qualquer fato relevante afeta o mercado internacional, mesmo que pontual. Blinda o país para este tipo de fluxo de curto prazo puramente especulativo.
O percentual definido torna nulo o rendimento até 139 dias, olhando só a rentabilidade base SELIC sem considerarmos os custos do investidor com o “hedge” para se proteger da variação cambial, e, reduz bruscamente o rendimento em 1 ano. Este parece ser o perfil do investimento que a medida objetiva atingir e nos parece eficaz, a despeito de alguns atalhos que a engenharia financeira sempre deixa aberto.
Entendemos que considerando as projeções inflacionárias para o Brasil equaliza bem a rentabilidade até 1 ano com o cenário internacional. Claramente, o objetivo não é afastar o investidor de médio/longo prazos que contribui para o alongamento da dívida pública interna, por isso avançar em considerações a respeito não nos parece o caso.
Efeitos na formação do preço do câmbio? Acreditamos que baixíssimos ou quase nenhum, visto que não é o fluxo cambial que norteia no nosso país a formação do preço da moeda americana, este tem sido sempre o argumento, mas é um sofisma que não se sustenta quando se levantam os números. O que ocorre é que poucos observam os números e, assim, creditam a causa a crença.
O fato é que o BC compra todo o excedente do fluxo cambial e mais do que isto, o que proporciona que os bancos fiquem com posições “vendidas”, amparando-as em linhas externas que acabam repassadas para a autoridade monetária em troca de reais, e os motiva a atuar apreciando o real. Esta sim é uma das maiores causas da apreciação do real.
Uma queda relativa do fluxo cambial simplesmente poderá refletir em oferta menor para o BC pelos bancos nos seus leilões de compra diários, mas mesmo assim isto poderia não ocorrer se as circunstâncias forem sugestivas aos bancos para aumentar seus posicionamentos “vendidos” e continuarem captando reais a custos irrisórios.
A medida é puramente “profilática” afastando do país recursos que não interessam, mas está distante de ser “curativa” para a apreciação do real.
O MF continua insistindo com a tese do “compra tudo” ou da utilização dos instrumentos financeiros “swaps cambiais reversos”, e isto é tudo que não deve acontecer neste momento, caso contrário provocará derrocada substantiva do preço da moeda americana, indo absolutamente contra o “discurso” de busca da recuperação do preço da moeda americana no nosso mercado. Se o governo tornar esta intenção em realidade veremos a intensificação da apreciação do real.
O BC precisa, isto sim, parar se comprar dólares do mercado à vista além dos volumes excedentes do fluxo, pois este procedimento é que induz fortemente a apreciação do real. Deveria, de imediato, interromper suas atuações no mercado até que as posições “vendidas” dos bancos fossem cobertas, para depois, passar a comprar efetivamente somente o excedente e até deixar os bancos um pouco “comprados”.
É tempo de desfazer o imbróglio criado no mercado de câmbio brasileiro, onde se diz ter um sistema cambial flutuante, algo avançado demais para um país com as nossas fragilidades, e com a prática de mistura de política cambial com política monetária, algo absolutamente incompatível com este regime cambial.
O “nó” em que estamos metidos é que enquanto as economias ditas desenvolvidas e atualmente com sérios agravantes nas suas atividades econômicas têm as suas moedas desvalorizadas, o Brasil, na “contramão” atua induzindo a apreciação da sua moeda local utilizando-a como parte da sua política monetária focada em conter pressões inflacionárias.
Naturalmente, isto faz do Brasil o principal alvo dos exportadores estrangeiros que vão buscar massificar suas vendas para cá, até porque estamos com o mercado interno aquecido, e também, principal destino dos recursos financeiros abundantes no mercado internacional em busca da rentabilidade elevada e segura que é proporcionada pelo país.
De repente a “luz vermelha” foi acesa, estamos vulneráveis! Não temos poupança interna para suportar crescimento das reservas cambiais, que assim submetem o país a um custo de carregamento expressivo; não temos instrumentos operacionais estratégicos para atuar contendo a apreciação da moeda local, e tudo que foi pensado e praticado até então – “comprar tudo” e “swaps cambiais reversos” – só estimulam mais apreciação; cada vez mais cresce a propensão ao aumento das importações e perdemos competitividade para as nossas exportações.
Quando o Acordo de Bretton Woods foi defenestrado pelos Estados Unidos, a regra que passou a valer é o da relação do preço das moedas com a grandeza econômica de cada país. Hoje, as economias mais destacadas estão quase recessivas e adotam medidas para recuperação e isto tem correspondência direta na desvalorização de suas moedas. Falar em “guerra das moedas” é desconhecer a história e as regras que prevalecem no mercado internacional.
O Brasil precisa olhar para dentro, verificar suas fragilidades e vulnerabilidades e, queira ou não, reavaliar seu sistema cambial compatibilizando-o com a nossa realidade presente.
Se não for agressivo e realista no diagnóstico e nas medidas corretivas, pode ficar totalmente exposto.
Precisa atuar normativamente limitando as exposições do sistema financeiro a transações com variação cambial e fechar todos os flancos sem defesa, para que fiquemos blindados e protegidos.
Não deve haver constrangimentos, a derrocada de algumas economias que “estavam pujantes” deixa claro que a possibilidade de perder os avanços pode ser bem mais rápida do que a longa trajetória desenvolvida para alcançá-los.
Afinal precisamos evitar que sejamos a “bola da vez”, visto que a China esta blindada pelo rigor e quase inflexibilidade de sua política cambial focada nos interesses nacionais, e continua absolutamente “surda” aos reclamos globais.