Análise do Mercado – 03/02/2011

O fluxo cambial líquido de janeiro, até o dia 28, foi expressivo, atingindo US$ 12,3 Bi, dos quais o BC retirou US$ 7,2 Bi para as reservas cambiais brasileiras, promovendo assim uma redução de US 5,1 Bi nas posições “vendidas” dos bancos, que…

O fluxo cambial líquido de janeiro, até o dia 28, foi expressivo, atingindo US$ 12,3 Bi, dos quais o BC retirou US$ 7,2 Bi para as reservas cambiais brasileiras, promovendo assim uma redução de US 5,1 Bi nas posições “vendidas” dos bancos, que registravam US$ 16,7 Bi ao final do ano e, com base nos dados divulgados, devem ter sido reduzidas para US$ 11,6 Bi.

Na semana de 24 a 28 o aumento líquido foi de US$ 3,2 Bi e o BC intensificou suas compras, indo além do fluxo da semana, retirando US$ 3,3 Bi.

As estimativas do BC, ao baixar norma de depósito compulsório para posições vendidas acima de determinados limites a partir de 4 de abril, se situavam numa perspectiva de redução para algo em torno de US$ 10,0 Bi, o que pode tornar-se efetivo em janeiro mesmo, quando computado o dado do dia 31, com uma antecedência de 60 dias ao prazo.

O mercado já trabalhava com a expectativa de fortes ingressos de captações externas por empresas, estimadas em mais de US$ 10,0 Bi no mês de janeiro.

O custo de carregamento das reservas cambiais, dado já avaliado de forma intensa num passado recente, naturalmente está focado pelo Banco Central do Brasil, por atingir cifras praticamente insustentáveis pelo erário público com a continuidade do crescimento das mesmas, fato praticamente inevitável. E, devemos atentar que além dos números altamente expressivos do montante do custo de carregamento, ocorreu também ao longo dos últimos anos expressiva perda de poder aquisitivo pela moeda reserva básica, que se revela através da perda de variação cambial sobre o estoque.

Por isso, o BC está buscando o leilão de compra a termo, procurando minimizar substantivamente o custo da elevação inevitável das reservas cambiais, além de não deixar exposto esta cifra de custo, mesmo minimizada, já que estará embutido no preço do ativo.

Este é, no nosso entender, o objetivo prioritário destas operações, que acreditamos deverão ser intensificadas pela autoridade monetária, com alongamento dos prazos.

No fundo, o grande problema central é a taxa de juro praticada no país, que afeta o câmbio.

Mas, como reduzi-lo num ambiente em que é tido como o antídoto principal ao controle inflacionário, mesmo quando a inflação advém forte dos alimentos a nível mundial, como destacou a FAO ao divulgar o seu índice, que engloba as variações de preços de cereais, oleaginosas, laticínios, carne e açúcar, que subiu de dezembro, 223,1 pontos, para janeiro, 230,7 pontos. E esta percepção também foi apurada pelo BC com o seu índice para “commodities”, o IC-Br que subiu 5,0% em dezembro e 4,05% em janeiro.

A memória, que recorre sempre ao “juro” como terapia para a inflação, guarda grande semelhança com a memória inflacionária que prevaleceu em nossa economia e que impulsionava a elevação dos preços.

É possível que estejamos recorrendo ao medicamento errado para a patologia, não atingindo a doença e intensificando sua gravidade.

Medidas procurando inibir o fluxo cambial para o país, que impõe custos relevantes ao erário público ao segregá-lo para as reservas, são procedimentos arriscados para um país crescentemente dependente de financiamento externo para suportar déficit crescente nas transações correntes.

Adotá-las poderia trazer desgastes de imagem, salvo se a prática generalizar-se pelos demais países, mas precisamos estar preparados para uma eventual queima de nossas reservas cambiais.

Rigor fiscal intenso e medidas prudenciais atingindo a demanda agregada serão, certamente, alternativas mais válidas, e poderão trazer, adicionalmente, uma tendência de recuperação do preço da moeda americana, e principalmente possibilidade de reduzir o juro e não elevá-lo como se projeta prospectivamente.

Precisamos efetivamente do BC independente, mas realmente independente também dos formadores de tendências, etc., desafiador a ponto de buscar efetivas novas alternativas.

 

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