Perspectiva de saída de estrangeiro apoia aposta em mais leilões de linha do BC

“BC se fez tardio e precisa ofertar pelo menos mais US$ 4,0 bi em linhas para atender posições vendidas já consolidadas dos bancos.”

O Banco Central deve continuar realizando leilões de linha (venda de dólares à vista com compromisso de recompra) nas próximas sessões em razão da perspectiva de continuidade das saídas de capitais estrangeiros do País, seja por fatores sazonais ligados a remessas de recursos ao exterior, tensões externas ou por preocupações com o risco fiscal brasileiro, conforme expectativas de profissionais do mercado de câmbio.

Um termômetro de avaliação da necessidade desses leilões é o desempenho da taxa do FRA de cupom – tipo de derivativo cambial ligado aos juros em dólar -, que segue pressionada. Quanto maior a taxa do cupom, mais forte a indicação de que está havendo saída de dólares do País.

Hoje, a taxa do FRA de cupom curto, para fevereiro de 2019, está estável, em 3,87% em relação ao fechamento de ontem, diz o economista Homero Guizzo, da Guide Investimentos. Segundo ele, o pico recente ocorreu em 19 de novembro, quando a taxa desse contrato de cupom atingiu 4,12%.

A desaceleração do juro do cupom cambial hoje pode estar refletindo o ajuste de baixa do dólar ante o real e no exterior. Ainda assim, a moeda americana opera mais perto dos R$ 3,850 do que dos R$ 3,80, que tem sido considerado um piso informal uma vez que o dólar vem fechando acima desse patamar desde 22 de novembro, de acordo com o AE Dados.

Na semana passada, o BC decidiu antecipar o início da realização de leilões de linha e um total de US$ 4,250 bilhões foi vendido, dos quais US$ 3 bilhões representaram oferta nova e US$ 1,250 bilhão foi relativo à rolagem de vencimento de dezembro. Outro US$ 1 bilhão foi negociado ontem e, mesmo assim, o dólar à vista terminou a terça-feira em alta, aos R$ 3,84, pressionado principalmente por temores de recessão nos Estados Unidos após um achatamento da curva de juros dos Treasuries.

Mas o investidor estrangeiro está mais sensível ao risco Brasil, diz o operador Cleber Alessie Machado Neto, da corretora H.Commcor. Ele atribui grande parte das saídas recentes a incertezas principalmente em relação à aprovação no Congresso da reforma da Previdência. “O mercado foi bem otimista com as sinalizações de medidas feitas pelo economista Paulo Guedes e o presidente eleito, Jair Bolsonaro, na esperança do avanço do ajuste fiscal. Porém, como não está vendo atualmente um bom andamento das propostas, sobretudo para Previdência, o estrangeiro vem se antecipando e encerrando parcial ou totalmente suas posições para saída do País”, comenta.

“A iniciativa do futuro governo de fazer a reforma da Previdência fatiada em quatro anos é uma temeridade, porque o presidente eleito e sua equipe geraram expectativas no mercado de que tentariam fazer a reforma ainda no primeiro ano de governo”, diz o economista Homero Guizzo, da Guide Investimentos. “A expectativa era de que o governo apresentasse uma proposta de reforma da Previdência ainda no primeiro semestre ou, no primeiro ano da gestão, mas agora essa previsão foi frustrada e causa ruído nas mesas de operação, deixando o dólar ante o real mais perto de R$ 3,850, mesmo em baixa, do que dos R$ 3,80”, comenta.

No caso da cessão onerosa da Petrobras, a decisão de deixar para 2019 as negociações em torno do projeto de revisão não é vista como um grande problema, porque deverá ajudar o novo governo a cumprir a regra de ouro do Orçamento em 2019, avalia Guizzo.

Os dois profissionais apostam que o BC deve continuar ofertando linha neste mês e não há limites para os leilões. “O BC tem cacife, as reservas internacionais do País somam cerca da US$ 380 bilhões e há um estoque de swap cambial confortável, de cerca de US$ 68,863 bilhões”, afirma Machado Neto, da H.Commcor. Neste caso, quando o BC vende swap cambial ao mercado, assume posição vendida em dólar e comprada em taxa de juros.

Em 2017, o Banco Central colocou US$ 8 bilhões em linhas de dólar só em dezembro, e este ano não dá para estimar qual montante será necessário para atender à demanda, diz o gerente da mesa de câmbio da Tullett Prebon Brasil Italo Abucater.

De acordo com a H.Commcor, em janeiro de 2019 não haverá vencimentos de linha com recompra. Mas em fevereiro há um total de US$ 2,9 bilhões em vencimentos e, em março, mais US$ 1,35 bilhão, por enquanto.

Tradicionalmente, o BC realiza leilões de linha em dezembro, para dar vazão ao aumento das remessas de dólares para outros países. Em alguns anos, como em 2016, a instituição demorou um pouco mais a começar com as operações de linha, porque as remessas estavam contidas.

Mas este ano, ao contrário, o fluxo de saída de recursos para o exterior tem se mostrado mais firme. Em novembro até o dia 23, para ter ideia, o fluxo cambial total no País está negativo em US$ 3,720 bilhões, uma vez que houve saída líquida pela conta financeira no período de US$ 7,705 bilhões, enquanto que a conta comercial teve um resultado positivo de US$ 3,984 bilhões. O segmento financeiro reúne investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações. Hoje, às 12h30, o Banco Central deve atualizar o resultado final do fluxo cambial do mês passado. A Conferir.


Fonte: Broadcast
Publicado: 05 de dezembro de 2018

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