Volatilidade no câmbio e heterogeneidade na recuperação das atividades econômicas!

A volatilidade na formação do preço do câmbio é sugestiva de interrupção da redução na taxa SELIC pelo COPOM, pois o “lower bound” sugere ser a efetiva causa.

Embora o BC por seus dirigentes aleguem não ter identificado as causas da intensificação da volatilidade, que é um mal para os negócios no comércio exterior, pois afetam os preços relativos entre os países e dificultam os negócios, em nosso entendimento há uma clara sinergia do fato com o propagado dogma induzido a partir do Ministro da Economia, Paulo Guedes, do “câmbio alto e juro baixo”.

No fundo, as autoridades devem ter percepção assertiva a respeito.

O preço do dólar já chegou a depreciar o real em 50%, estando no momento em torno de 35%, isto porque virou o ano em R$ 4,00 já atingiu R$ 6,00 e agora circunda R$ 5,30.

A colocação do Ministro sugere duas variáveis, juro e preço do câmbio, sendo que o primeiro é bastante presumível quando se correlaciona com a inflação, mas o “câmbio alto” nunca foi insinuado em preço e até um momento ficou num patamar razoável e “controlável” pelo BC, para posteriormente ter sido foco dos especuladores que acreditaram no anseio governamental do câmbio alto e ainda fortemente afetado pela intensificação de saídas de recursos estrangeiros do país, o que exigiu que o BC que “a tudo assistia” se manifestasse por seu Presidente sinalizando a intenção de intervenção, o que veio a acontecer, até repercutindo em excesso chegando a R$ 4,80 para depois se recompor no em torno entre R$ 5,00 a R$ 5,50, que é onde se encontra no momento.

O juro baixo veio dentro das expectativas, mas nunca ficou claro para o mercado qual o conceito de câmbio alto que é um enigma.

A alta de quase 50% neste ano foi extremamente danosa para as empresas e investidores que não estavam cobertos por hedge e deixou perdas e receios, e que, assim, passaram a operar no mercado futuro de dólar em todos os segmentos, inclusive opções.

Com o juro baixo e o dólar incerto a melhor opção era a tranquilidade barata do hedge e desta forma aumentou exponencialmente o trading de menores valores e investidores pequenos, então o número de atores neste mercado aumentou muito e permitiu a introdução de alguns outros mecanismos de influência no preço.

E com nova densidade de atores e alguns mecanismos de disparos automáticos, a volatilidade tornou-se imponderável e tende a ser duradoura enquanto não houver maior convicção sobre a estabilidade do preço da moeda americana dentro de extremos não exacerbados.

A expectativa era de que com o recente RIT divulgado pelo BC revisando o déficit em conta corrente para o ano de US$ 40,0 Bi para US$ 13,0 Bi fosse afastado o receio repetência do preço de R$ 6,00 que causou sérias preocupações, ficando no entorno de R$ 5,00 a R$ 5,50, alternando-se neste intervalo na medida em que os fatores benignos ou adversos preponderassem, até porque abaixo deste piso poderia prejudicar as ambições do governo de tornar o país “barato” e atraente para os seus programas de privatizações e investimentos em infraestrutura.

Entretanto, a pandemia da coronavírus permanece como uma ameaça efetiva à retomada da atividade econômica no Brasil e se tem dúvida em que formato ocorrerá se em V ou em U, e a expressividade da crise fiscal do país fomentam a desconfiança e mantêm firmes as incertezas.

Há no mundo uma heterogeneidade nos sinais de retomada das atividades econômicas e no desempenho da pandemia do coronavírus, com recuos e avanços negativos e preocupantes.

Por isso, a situação do Brasil tem baixa sinergia com os demais países, e é preciso acuidade para não fazer com que os anseios sejam considerados realidade.

Há também anseio forte e intensificação de visão otimista, mas muitos players no mercado de câmbio ainda não estão convencidos deste fato e desta perspectiva mantendo-se céticos quanto ao futuro imediato.

A B3 revela-se em alta muito consequente de um ou outro pico de um ou outro papel e não como consequência da harmoniosa retomada, mesmo que discreta, da atividade econômica do país.

Para analistas especialistas no segmento há uma distância entre a realidade da economia e o desempenho da Bovespa e isto fomenta ambiente de descrença na sustentabilidade de seu desempenho.

Há notoriamente uma expressiva demanda reprimida na economia, mas não menor carência de recursos financeiros e crédito para que a mesma seja atendida, por isso muito dos analistas veem com descrença grandes vendas de varejo, certamente ancoradas em cartões de crédito e que podem gerar grande volume de inadimplência, visto que o fluxo de renda é e será cadente com perspectiva de aumento de desemprego face às novas práticas que serão legadas pela pandemia.

A indústria vem a reboque e tende a encontrar dificuldades também após repor estoques.

O câmbio é um ótimo sensor da percepção do mercado e o aumento substantivo dos contratos de hedge de pequenos valores e investimentos, deixa evidente que há precauções presentes, e o “juro baixo e câmbio alto” prevalece nos receios.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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