O notório e incontestável insucesso da estratégia de redenção da atividade econômica brasileira com o “milagre” do câmbio alto e juro baixo, tendo em vista a nenhuma aderência do setor produtivo e a nenhuma atratividade recomposta pelo país, criaram um “corner” para os gestores da política econômica que não tem caminho de volta e desta forma devem persistir na rota do insucesso.
Não se conduz a recuperação da letargia da atividade econômica com estímulos como taxa de câmbio elevada “na marra”, visando contornar com o fato os inúmeros fatores negativos opostos presentes estrutural e conjunturalmente no país, como assim visando contorná-los e não corrigi-los dada a ausência de condições fiscais e também do fator tempo, pois esta estratégia de formulação puramente teórica e abrupta não encontra respaldo de confiança na prática e não motiva o setor produtivo, mesmo quando aliada a política de juro baixo favorecida pela própria letargia presente na atividade econômica.
A estratégia “cambio alto juro baixo” para o Brasil é equivalente a “colocar gasolina azul num motor 1.0”, não aumenta o arranque e performance a despeito de poder tão somente aumentar o ronco do motor.
E esta estratégia ensaiada mais intensamente ao início deste ano, quando o dólar registrava preço de R$ 4,01, e já havia sinais de calmaria nas tensões comerciais entre China e USA, já se configurava temerária em seus resultados, acabou por naufragar com a não aderência do setor produtivo ao “apelo” contido no estímulo do “câmbio alto juro baixo”, e nem mesmo tornou o país mais atraente para o investimento externo.
Então, surgiu o dramático problema global do coronavírus, e desta forma hábil e oportunisticamente o Brasil entrou na roda de atribuir todos os seus males a epidemia, que efetivamente afeta o cenário global, mas que no caso brasileiro não é diferente, porém nem tanto, pois já daria errado a despeito do problema epidêmico, pois a economia já “patinava” em areias movediças.
Neste novo contexto o mundo global tende a seguir de forma bem mais lenta, incluindo China e Estados Unidos, e, alguns, como o Brasil, poderão ficar parados ou retroagir.
Não há como dar “meia volta volver” no Brasil, o que está feito está feito e agora é persistir rodando a roda, assim vamos reduzir até com mais agressividade a taxa SELIC e manter o dólar sobre pressão altista, sem que haja benefícios efetivos, mas sim, aumento significativo de riscos de recrudescimento da atividade econômica e retorno da inflação.
Enfim, reduzir a SELIC e elevar o preço do dólar seguirá absolutamente ineficaz, deixando a sensação de que cada vez nos “atolamos” mais na estratégia errática assumida e agora, inquestionavelmente, irreversível, sancionando a máxima de que “o que está ruim pode ficar pior”.
Então é preciso muita atenção, podem ocorrer movimentos díspares, desconexos mesmo, como na nossa Bovespa reagindo a questões puramente “intestinas” do ambiente americano em torno de definição do candidato democrata, ou mesmo medidas que o governo americano adote visando intrinsecamente quadros de defesa de sua própria economia.
É preciso atentar que as reações causa-efeito de antes não mais predominam no cenário atual.
Caso o FED decida impor novo corte no juro americano a ponto de deixá-lo conceitualmente negativo, não se pode esperar que ocorresse direcionamento de recursos para os países emergentes, não mais no contexto atual e sim será uma evidência de que a crise é maior do que a percepção predominante.
Por outro lado, pode não promover a tão desejada desvalorização do dólar frente às demais moedas fortes como deseja o Presidente Trump, porque pode não ensejar fuga dos títulos do tesouro americano, visto que a segurança se sobrepõe à rentabilidade que poderá se revelar negativa.
O cenário prospectivo para os países emergentes é severamente preocupante, com agravante para o Brasil que está envolvido numa estratégia de gestão econômica de governo que se revela errática e sobre a qual se assenta agora os efeitos adicionais da crise do coronavírus.
O fluxo cambial do mês de fevereiro fechou negativo no total de US$ 4,408 Bi e no bimestre está negativo em US$ 4,792 BI, porém merece destaque e atenção que o fluxo financeiro ficou negativo em fevereiro em US$ 9,322 Bi e no bimestre de US$ 10,840 Bi. Os bancos estão com posições vendidas da ordem de US$ 38,912 Bi.
Nesta conturbação presente no mercado de câmbio continua realizando ofertas de swaps cambiais que nesta altura é uma tentativa de “enxugar gelo”, e que sugere que poderá ter que devolver ao mercado na forma de swaps cambiais tradicionais novos o montante que inadvertidamente retirou do mercado com swaps cambiais reversos conjugados com a oferta de dólares à vista, num passado recentíssimo, contendo desta forma o ajuste que teria sido feito com a oferta de câmbio à vista isolada e não permitido a exacerbação da taxa cambial, mas tudo indica que o interesse era ter uma taxa cambial alavancada.
Enfim, pouco a fazer e muito a observar!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO