As análises recentes têm focado muito a recuperação da atividade da indústria e do varejo em maio, identificando no fato a retomada da atividade econômica e considerando que “o fundo do poço” ficou em abril, mas nada tem sido ressaltado sobre o fato de que o governo tem injetado na economia com seus programas emergencial soberbo montante de recursos, que na realidade podem estar ancorando o aumento da demanda no varejo, e que assim, puxa a reposição de estoques pela indústria.
O dado desapontador do serviço regredindo ante expectativa otimista forte demonstrando assimetria entre os comportamentos, sendo que o item serviços representa 70% do PIB naturalmente chama à reflexão se há efetiva retomada da atividade econômica ou simplesmente espasmos repondo estoques consumidos não pela renda da dita retomada mas da generosidade dos programas governamentais.
Parece que houve certo descuido na acuidade do foco de avaliações sobre as efetivas razões da recuperação da produção da indústria e do desempenho do varejo, já que o país ainda está em ritmo bastante lento e envolvido pela crise da pandemia do coronavírus, e não há convicção sobre que estágio estamos de superação da problemática e que esteja afastada efetivamente o risco de uma segunda rodada da crise.
Ainda se questiona muito quando e de que forma a recuperação ocorrerá, sendo propagada pelo Ministro Guedes que será em V, pouco crível, pois a economia antes da crise vinha lenta e os impactos negativos fortes da pandemia certamente sugerem que foram muito relevantes e que a recuperação tende a ocorrer em U ou seja num período mais longo de tempo, que como já salientamos em abordagem anterior poderá comprometer boa parte do mandato restante do Presidente Bolsonaro.
É imperativo que se acentue o foco na atividade econômica do país sem a ajuda dos programas assistenciais do governo, já que é praticamente impossível suas extensões por tempo maior dada a carência de recursos para ancorar esta ação e o país já revelar preocupante quadro de deterioração fiscal, que sugere que este ano o déficit fiscal supere os 100% do PIB.
A busca da antevisão do cenário prospectivo é que deve direcionar com fundamentos a consideração da retomada da atividade econômica, grosseiramente falando “com suas próprias pernas”, e este é o desafio hoje, não perdendo de vista que ocorrerão mudanças consideráveis na infraestrutura da geração do emprego e que haverá impactos na renda, porque a oferta da mão de obra deve se intensificar de forma excedente, com reflexos no consumo.
Pode ser que este olhar cético não convenha ao mercado, pois causaria menos entusiasmo e acentuaria a cautela e posturas defensivas, propagando incertezas e riscos.
Urge, portanto, que o governo reaja com contundência focando a dinamização dos programas de privatizações, abandonando a postura retórica e assumindo efetivas atitudes focando-as com urgência, e da mesma forma, as reformas imprescindíveis.
O governo deve priorizar a reconquista da atratividade dos investidores externos nos pontos de interesse de investimentos em sua infraestrutura.
Nestes investimentos, desde que ancorados em marcos regulatórios bem elaborados, certamente o risco país considerado o déficit fiscal seria menor para os investidores estrangeiros que estão ávidos por boas oportunidades de retorno, mas que já não se interessam pelo nosso mercado de renda fixa e demonstram falta de convicção nos movimentos de alta das ações na B3, muito provavelmente devido considerarem frágeis, até pelas causas que expusemos, os motivos que não representam fundamentos críveis.
No nosso entendimento o movimento de alta na Bovespa decorre da falta de alternativas no mercado de renda fixa para os investidores pessoas físicas nacionais, mas os fundamentos, ancorados em nossa percepção, podem não ser sustentáveis.
O dólar, como não se espera intensificação de fluxos nem positivos e nem negativos, com expectativas bem sustentadas tende a manter-se no intervalo de R$ 5,00 a R$ 5,50, flutuando face às perspectivas mais benignas ou mais adversas, mas não devendo sair destes parâmetros ao longo deste ano.
O fato perturbador do câmbio continua sendo a forte volatilidade e o Banco Central do Brasil deve acentuar o foco no diagnóstico desta ocorrência cotidianamente.
Na questão do juro, embora seja consensual, entendemos que o BC/COPOM não deveria proceder a novo corte residual de 0,25% na taxa SELIC, mantendo-a em 2,25% atual.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO