O mês de maio chega ao final tendo apresentado intenso movimento em torno da taxa cambial do dólar.
A moeda que fechou abril com a PTAX em R$ 5,4270 e atingiu ao meio do mês R$ 5,9372 na quarta-feira última, dia 27, atingiu a mínima de R$ 5,2790, recuperou um pouco ontem por ser véspera da fixação da PTAX e o ambiente politico estar um tanto estressado preço em torno de R$ 5,35.
Mas o rali do dia 19 e os 6 pregões sequentes apresentaram forte depreciação do dólar frente ao real, num comportamento absolutamente atípico tendo em vista que o ambiente prospectivo envolvendo a dicotomia saúde e economia continuam revelando piora acentuada, afora as conturbações políticas revelando acirramento entre os poderes.
Um movimento absolutamente assimétrico “vis-à-vis” a realidade presente.
Muitas análises e ilações foram produzidas em torno do cenário controverso, mas nenhum que conseguisse ter consistência efetiva.
Ontem fizemos um repasse em torno dos fatores que poderiam influenciar e fundamentar o rali ocorrido, mas não identificamos nenhum que indicasse mínima coerência plausível com o ocorrido.
Ruídos do mercado apontavam para “algo” em torno da PTAX, mas sem especificar o que, mas o comportamento era até sugestivo de ocorrência de “chapa branca” no mercado, muito comum no passado quando o governo interferia na formação do preço utilizando alguns agentes do mercado.
Contudo, houve a ocorrência de dois fatos à margem do operacional do mercado que agora passam a ter nossa consideração, visto a ausência de outros fundamentos para o ocorrido.
Quando o preço da moeda americana deu sinais de descontrole sinalizando a possibilidade de atingir a R$ 6,00 foi notório o desconforto do BC, que por seus Presidente e Diretor passaram a enfatizar que “se necessário o BC interviria no mercado, pois dispunha de consideráveis reservas cambiais”.
Na realidade um discurso retórico absolutamente desnecessário porque se tratava de assunto sabido pelo mercado, mas serviu para acentuar a propensão de agir da autoridade. Este sinal freou a intensidade da pressão altista que havia conduzido o preço da moeda americana a R$ 5,9372, a retroagindo a R$ 5,7216 no dia 19, com o BC agindo com ofertas não dantescas mais incisivas nos 3 flancos, mercado à vista e futuro de dólar e linhas de financiamento para os bancos no exterior, preferencial com leilões “depo”.
Neste meio tempo, embora já existisse projeto em tramitação no Congresso para uso do lucro do BC pelo Tesouro para suporte aos gastos com a pandemia, e este assunto passou a ser propagado pelo próprio governo como alternativa de fonte de recursos.
Então, na sequência se viu o preço do dólar “derreter” por seis pregões seguidos, sem que houvesse qualquer fato positivo determinante, ceder do preço de R$ 5,7216 para R$ 5,2790 no limite de baixa do dia 27.
O BC tem reservas cambiais da ordem de US$ 343,986 Bi e swaps cambiais de US$ 56,520 Bi, data base 22.
Estes são os montantes para aplicação da correção cambial e apuração de lucro do mês em moeda do BC, como pode ser observado algo em torno de R$ 0,50/0,60 no preço da moeda representa impacto de algo em torno de R$ 200,0 Bi.
Se o BC permite que o preço do dólar permaneça exacerbado e seja aplicado no ajuste dos reais de final do mês para apuração do lucro, corre o risco que apurar um volume de lucro muito acima do razoável e com alto risco de virar prejuízo nos meses sequentes se o preço da moeda americana ceder.
Se permitir apurar um lucro expandido pela PTAX distorcida haveria o risco de transferir para o Tesouro lucro que poderá se tornar prejuízo quando o dólar sofrer depreciação fundamentada e o Tesouro deveria retornar recursos ao BC num processo não tão confortável.
Acreditamos que a consistente possibilidade de se efetivar a tendência do BC ser levado a transferir para o Tesouro o lucro para ser gasto com dispêndios na pandemia, levou o BC a agir defensivamente focando e agindo na indução da adequação do preço do dólar frente ao real, para não incorrer na apuração de lucro transferível não sustentável adiante, impondo devolução por parte do Tesouro.
É uma hipótese, até certo ponto uma ilação, mas não teria sido a primeira vez embora as circunstâncias tenham sido outras no passado, pois teria que admitir que o BC atuou de forma indireta e sutil na formação do preço da moeda americana no mercado induzindo o rali de apreciação do real, naturalmente a partir do mercado futuro.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO