Queda do dólar de R$ 3,87 para R$ 3,70 não é toda efeito Bolsonaro!

O preço da moeda americana no nosso mercado cambial busca um novo patamar, mas ainda há muitas dúvidas e incertezas internas e externas que impactam na formação deste preço, e, assim também houve e há alguns fatores presentes que não permitem que se credite a eventual “efeito Bolsonaro”, a queda do preço em torno de R$ 3,87 ao final do ano para os atuais R$ 3,70 após a primeira semana do novo governo.

Parece-nos sensato admitir que a elevação do preço da moeda americana, projetada para fechar o ano em R$ 3,75, a nível no entorno de R$ 3,87, não se deveu unicamente a forte demanda ocorrida no mercado à vista no mês de dezembro, aliás, já esperada, ou tão somente a atuação retardatária do BC no suprimento adequado de liquidez à vista com ofertas de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

Numa leitura subjetiva é possível admitir-se um movimento ordenado pelos bancos, para o que contribuiu a inércia do BC na oferta da liquidez, de forma estratégica e previdente, buscando, ante um cenário incerto com a posse do novo governo, provocar uma PTax mais elevada para aplicação em seus balanços, assim compreendendo todos os seus posicionamentos no vários segmentos do mercado cambial.

A Ptax de final do ano é um fator determinante para apuração dos lucros, ainda que as posições não tenham sido efetivamente liquidadas, e a prudência ante as incertezas do momento próximo com mudança do governo sugeriam que houvesse alguma proteção cautelar nesta apuração, não a maximizando como ocorreria se a Ptax de final do ano ficasse em torno de R$ 3,75, deixando em aberto um risco de reação contrária do preço que se reverteria em prejuízo na apuração do ano seguinte. Estrategicamente o preço da PTax em torno de R$ 3,87 era defensiva quanto a este risco, ao reduzir a intensidade da apuração de resultados, em especial nas posições vendidas detidas pelos bancos em grande volume no mercado futuro de dólar.

Basta analisar que não houve fatores relevantes para numa semana, a primeira do ano, o preço do dólar ter deixado o patamar de R$ 3,87 e assumido o entorno de R$ 3,70, que ocorreu simplesmente pela mudança de atitude estratégico dos bancos.

Desta forma, não é crédito do “efeito Bolsonaro” a queda, o ajuste, de R$ 3,87 para R$ 3,70, nos parecendo enganosa esta aparente assertiva, de vez que em termos concretos nada ainda mudou que justificasse este movimento.

O cenário favorável existente em torno do novo governo é o mesmo que já prevalecia ao final do ano, devendo ser agregado como fator que pode impactar a sinalização feita pelo Presidente do FED americano de que pode alterar a política delineada se assim for exigido pela mudança dos cenários prospectivos da economia americana e global.

Há muitas incertezas sobre a viabilização das medidas propagadas pelo novo governo brasileiro, o grau de dificuldades pode ser maior do que o esperado e as reformas podem até não serem propostas de forma tão contundente.

Por outro lado, o cenário global recomenda cautela, se o FED der uma guinada nas suas diretrizes mais imediatas pode haver repercussões relevantes, assim como há muita expectativa em torno da liquidez do mercado global, fator muito importante em especial para os países emergentes.

No nosso entendimento é plausível considerar-se que a variação não de R$ 3,87, mas de R$ 3,75 para R$ 3,70 pode ser creditada ao novo contexto com o novo governo, mas ainda com baixa sustentabilidade visto que há muito a ser observado interna e externamente.

O Boletim FOCUS cautelarmente indica projeção para o dólar ao final de 2019 em torno de R$ 3,80, mas devemos considerar este ainda um indicativo frágil, pois há no horizonte vários fatores relevantes indefinidos e que podem influenciar fortemente negativa ou positivamente este quadro.

Nesta fase, é relevante que se mantenha extrema sensatez ao projetar-se este ou aquele preço de ativo ou tendência de mercado, isto naturalmente valendo para todos os segmentos e não só o câmbio.

O Brasil continua com o seu quadro preocupante de crise fiscal e, até pela exiguidade do tempo, ainda não há cenários prospectivos críveis sobre esta ou aquela reforma, decisão ou assemelhados que possam permitir vislumbrar-se solução.

Predominam as intenções, mas há todo um cenário novo político à frente com um novo Congresso a ser empossado e seus comandantes definidos, e desta forma dúvidas e incertezas continuam predominando.

Entendemos que é imprescindível a postura de sensatez, com otimismo, mas sem euforia, visto que de concreto nas linhas de governabilidade nada ainda mudou, havendo expectativas, nem sempre asseguradas.

Tanto no câmbio, até mesmo na Bovespa, o viés é favorável, mas sem sustentabilidade nos movimentos havidos nestes primeiros dias, não se descartando que haja volatilidade.

O momento é de ajustes e para tanto é necessário que haja um quadro melhor definido em termos concretos, tanto aqui como no exterior.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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