Quando o real “cai na real”, o seu preço assume a realidade do Brasil

Para justificar a valorização do real na semana passada foi utilizado o argumento dos dados do “payroll” como se fosse o único e o Brasil estive “navegando por aguas calmas”, sendo que as dúvidas e incertezas estavam no território norte americano.

O “payroll” evidenciou dados da economia americana criando novas 223.000 vagas de emprego em abril e a taxa de desemprego cedeu de 5,5% para 5,4% e foi divulgado na semana passada.

Então estes dados não seriam relevantes a ponto de fomentar a ideia de mudança da política monetária americana no curto prazo, e então, o nosso real repercutiu este fato e se esqueceu de tudo o mais de expectativas incertas existentes internamente no Brasil e se apreciou.

Temos ressaltado que os Estados Unidos de verdade não desejam mudança de juro neste ano, pois precisam afastar riscos de perda de atividade econômica que poderia advir da elevação do juro, ou seja, com a valorização do dólar e o concomitante aumento dos preços dos seus produtos perderia competitividade no comércio exterior e a tendência seria o incremento das importações.

Este estresse que se cria em torno deste assunto foca provocar movimentos no mercado financeiro, com altas e baixas e promovendo volume de negócios.

O real foi valorizado já que o Brasil com a retirada da possibilidade de mudança na política monetária americana no curto prazo tem um alivio em relação a eventual saída de recursos do país.

Os olhares e observações passam à margem das inquietudes internas em torno de uma situação econômica deteriorada que encontra barreiras políticas para aprovação das mesmas, e mais, que emite fortes sinais de que mesmo que aprovadas tende a não obter os retornos almejados pela incapacidade da própria economia, que está em retrocesso e sinaliza que pode intensificar o desemprego, afetando a renda e o consumo, já bastante atingidos pela expressiva inflação que atinge o país.

Hoje o mesmo fator “payroll” manteve o dólar apoiado ante a cesta de moedas principais chegando a se valorizar 0,22% enquanto o real sofria forte e desproporcional depreciação de 2,73%, retomando o seu preço de equilíbrio entre R$ 3,05 a R$ 3,10.

Os problemas do real estão aqui mesmo no Brasil e muito menos no exterior.

Já ocorreu observarmos que a despeito de todo alarido as aplicações de “carry trade”, na Bovespa ou na renda fixa, não tem tido grandes facilidades de ganho. O juro é alto no país e a Bovespa se valorizou em torno de 15% no ano.

Contudo, o dólar se valorizou tanto quanto e coloca a risco o eventual ganho destas aplicações, que agora precisam ser ainda mais de curtíssimo prazo e com o preço da moeda no preço adequado, pois se tiverem que fazer hedge de tudo o custo segrega o lucro.

Então quando ocorrem movimentos abruptos de apreciação não sustentada em fundamentos do real é de se imaginar que possam ser fomentados por investidores estrangeiros detentores de capitais especulativos que estão de saída e precisam de taxa cambial que não negative seus resultados.

Difícil olhar por esta ótica? Claro que não.

Precisam entrar com a taxa cambial mais elevada e sair criando a oportunidade de fazê-la pontualmente mais baixa para que a variação cambial não negative os resultados.

Esta é uma realidade que torna mais volátil o ingresso de capitais especulativos no país.

Por isso, quando se alardeia que em abril houve um fluxo positivo de US$ 13,0 Bi dos quais em torno de US$ 9,0 Bi financeiros não se deve nutrir otimismos, pois podem sair rapidamente do país. Estes são recursos que não vieram para ficar, e agora permanecendo por um período menor.

É preciso que as considerações e observações em torno do câmbio no Brasil mereçam mais rigor.

Afinal, afora todos demais problemas presentes e de difícil superação, o país tem um déficit em transações correntes nos últimos 12 meses de US$ 100,0 Bi; ancora a credibilidade na moeda nacional com US$ 110,0 Bi de contratos de swaps cambiais colocados no mercado; tem os bancos ainda com posições vendidas de US$ 10,0 Bi dando suporte à liquidez no mercado à vista; tem uma balança comercial com tendências inexpressivas; e convive com o risco de não atingir o superávit primário de 1,2% comprometido como meta mínima, o que agrava o risco de perda do grau de investimento, o que seria drástico.

A perspectiva é de que ainda piorará muito antes dos sinais iniciais de melhora, isto se tudo for feito corretamente!

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