Há forte evidência que a solidez do país na questão cambial tem potencial de imunidade seja quem for o novo Presidente.
Esta percepção é crescente na visão dos especialistas na matéria e tem fundamentos.
E isto, na medida em que se torna evidente conduzirá normalmente o movimento especulativo instalado à fragilização e o preço retornará ao seu ponto de equilíbrio, parâmetro em que já precificou todas as mazelas e influências de impacto que o conduziram de R$ 3,30 a R$ 3,80, que consideramos seja o preço tecnicamente correto, sendo notória a convergência opinativa de especialistas credenciados, também, para este preço que apontamos já há alguns meses.
Vamos repetir o que já temos ressaltado exaustivamente.
O Brasil tem reservas cambiais no montante de US$ 380,0 Bi, o que o diferencia de forma contundente de outros emergentes, e tem um confortável déficit em transações correntes em torno de 0,7% do PIB, balança comercial favorável, tendo o Banco Central do Brasil concedido ao mercado um colchão de proteção cambial com operações de “swaps cambiais” da ordem de US$ 70,0 Bi, o que deixou os investidores estrangeiros e, por que não, também os nacionais com passivos em moedas estrangeiras, adequadamente defendidos contra variação cambial, e, além disto, dispõe de instrumento operacional de financiamento de linhas em moeda estrangeira com recompra para suprir a liquidez dos bancos no mercado de câmbio com recompra, se e quando necessário. Os instrumentos operacionais tem o respaldo da credibilidade do volume expressivo das reservas.
Posição absolutamente confortável e sem riscos de crise cambial no país.
E, que mal poderia representar o novo Presidente que pudesse desarticular esta consistente situação no mercado cambial?
Hipóteses, ideias?
Poderia o novo comandante ter a ideia de vender uns 10% das reservas cambiais e quitar o déficit fiscal total?
Afinal todos sabem que grande parte das reservas cambiais foi construída não com superávits fiscais, mas com o aumento da dívida pública e representa elevado custo de carregamento.
Há uma percepção de que o volume de reservas cambiais detidas pelo país é excessivo, portanto esta não é uma hipótese que se possa descartar dependendo de qual seja o próximo Presidente. Pode parecer algo preocupante, mas se o país mantivesse nível ainda bastante confortável de reservas, se livraria da questão fiscal e certamente poderia representar menor risco aos investidores estrangeiros e até ser mais bem avaliado pelas agências de rating, com as quais poderia dialogar previamente a respeito.
O que mais, poderia se desfazer de mais um pouco das reservas para investir na infraestrutura altamente debilitada do país, com ênfase a estrutura hospitalar pública, rede de educação pública de base e saneamento?
Enfim, estas são colocações provocativas e extremas para reflexão que ainda assim não deteriorariam a solidez das nossas reservas cambiais a ponto de fragilizar a solidez da questão cambial do país.
Então, há procedência ou temor na questão cambial que justifique a especulação que está presente sobre a formação do preço do dólar no mercado brasileiro?
Claramente, NÃO!
O problema do país é a inércia da atividade econômica, a crise fiscal, a necessidade de reformas, a recuperação do emprego, da renda e a melhoria da infraestrutura focada na qualidade de vida dos brasileiros.
Esta é a questão central e o que deve estar no foco sobre a capacidade e competência do novo Presidente e seu governo.
No câmbio, nenhum problema, por isso não é o “sensor” adequado nesta oportunidade.
E, se o novo Presidente não for exatamente como o anseio imediato do mercado financeiro deseja ou que não agrade a vários segmentos da sociedade, quando vamos ao extremo do imaginário vemos que no ambiente cambial seguro poderá o novo principal mandante encontrar respaldo para prover soluções imediatas, ou se nada fizer a questão cambial continuará sólida e segura.
Colocamos estas ilações, até porque nenhum candidato às colocou como propostas, para verificar que no extremo, o risco de quem quer que seja eleito não tem a capacidade de criar perturbações que justifiquem a especulação que se constata no mercado de câmbio brasileiro depreciando o real sem fundamentos.
Se a Bovespa, onde os investidores estão com seus recursos estrangeiros protegidos, vier a acentuar movimento de realização e retirada dos recursos do país, poderá ser considerado comportamento defensivo, pois os receios estarão focados na perspectiva sobre o desempenho da nossa economia no curto/médio prazo que impacta no desempenho das empresas, não sendo, portanto, nada atípico.
Mas, especular no Brasil sobre o preço do dólar, por vezes até criando sinergia entre a situação de 2002 e 2018, é claramente um erro crasso por ignorar as diferentes realidades de cada momento na questão cambial.
O Banco Central do Brasil não deve intervir, deve sim persistir observando e, como temos reiterado, sempre que possível ser enfático pontualmente no fortalecimento da reafirmação da confortável situação do país na questão cambial.
Se intervir “passará recibo” sobre um problema que não existe, se expondo ao risco de validá-lo.
Continuamos afirmando que especular com o dólar com preço acima de R$ 3,80 é altíssimo risco, pois neste ambiente de séria crise presente e em perspectiva já está precificado na pior hipótese em R$ 3,80, e se risco há é o de retroceder o preço pós-eleição.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO