O Brasil entrou em recessão técnica, o que não chega a ser uma novidade, ao registrar PIB negativo de 0,6% no 2º trimestre, após queda de 0,2% (revisada) no 1º trimestre. Em relação ao mesmo período de 2013 a queda atinge 0,9%.
O principal impacto do lado da oferta foi o resultado da indústria com recuo de 1,5% em relação ao 1º trimestre e 3,4% frente ao mesmo período em 2013.
O setor de serviços, o mais importante, recuou 0,5% frente ao 1º trimestre e um discreto crescimento de 0,2% em relação ao mesmo período em 2013.
A agropecuária até cresceu 0,2% frente ao 1º trimestre, mas muito pouco para compensar a derrocada quase geral.
Do lado da demanda, a FBCF, medida de investimentos, recuou 5,3% em relação ao 1º trimestre, sendo este o pior resultado desde 2009 e o 4º trimestre seguido de retração.
O consumo do governo recuou 0,7% e o das famílias evoluiu 0,3% frente ao 1º trimestre.
Está bem evidente que o país não tem tração para o crescimento, já que depende de forte incremento dos investimentos na indústria para que se torne competitiva, também nas deficiências de infraestrutura, reformas efetivas, havendo total evidência que o modelo de incentivo ao consumo, com farto crédito, que permitiu que tivesse crescimento do PIB sem investimentos, tão somente atendendo demanda reprimida, está totalmente esgotado.
Num quadro decrépito deste é natural que o governo não consiga atingir o cumprimento do superávit primário, salvo se implantar severo programa de cortes de gastos, visto que a retração da arrecadação é inevitável.
Já ocorrem revisões de projeções para o crescimento do PIB brasileiro a partir dos dados deste 2º trimestre. Gestores importantes no mercado internacional já sinalizaram perspectiva de crescimento zero em 2014, devendo ocorrer também manifestações de analistas nacionais reduzindo drasticamente as projeções, que podem ainda não terem sido captadas pelo BOLETIM FOCUS divulgado hoje.
Na realidade parece absolutamente incoerente comparações com desempenhos das economias de países desenvolvidos, nossas autoridades devem ter foco comparativo com as economias emergentes, grupo em que está inserido o Brasil. Não é um argumento válido comparar contextos diferentes, mas sim uma busca de justificar o injustificável.
O dado deste 2º trimestre não suscita mudança substantiva para o 2º semestre, já comprometendo a eufórica estimativa exposta na quinta feira pelo Ministro Mantega vislumbrando crescimento de 3% para o ano de 2015. A carência de investimentos nas deficiências de infraestrutura e no setor produtivo, num ambiente em que ocorre a exaustão do consumo, compromete substantivamente aquela projeção.
E isto tudo passa pelo câmbio e não converge para que o país tenha um ambiente melhor e, como temos ressaltado, distancia muito os anseios presentes que tem levado o mercado financeiro a precificá-los nos ativos em função de pesquisas eleitorais.
Há muito que ser feito até que o câmbio possa voltar a um comportamento minimamente descontaminado de intervenções da autoridade monetária para evitar expressiva apreciação da moeda americana. Um longo trajeto que poderá envolver todo o ano de 2015.
O país, a despeito de possuir reservas cambiais da ordem de US$ 380,0 Bi, está precisando readquirir credibilidade perante investidores estrangeiros, para com isto recuperar fluxos de recursos direcionados para conta capital (setor produtivo) de forma mais intensa e direcionados para setores estratégicos com enormes deficiências.
Resultados como este do 2º trimestre fortalecem as perspectivas que temos colocado de recuo prudencial dos investimentos externos produtivos (IED´s) já a partir deste 2º semestre, com reflexos também em 2015.
Por outro lado os dados da economia americana recentíssimos sugerem que o FED deva alterar a política monetária no curto prazo, o que promoverá a saída de capitais especulativos adentrados forjados em operações de “carry trade” e de capitais não especulativos por opção dos investidores.
O contexto sugere que o Brasil poderá ter forte incremento de saídas e retração de ingressos de recursos externos.
Muito provavelmente ocorrerá a perda de eficácia dos instrumentos utilizados pela autoridade monetária para contenção da tendência natural de alta do preço do dólar, havendo grande possibilidade que o BC seja compelido a ofertar dólares efetivos ao mercado à vista.
Enfim, nada sugere comportamento eufórico com os números dados a conhecer do 2º trimestre, com o país em recessão técnica e um contexto no mercado cambial que sustenta o preço da moeda americana desvalorizada com intensa intervenção da autoridade monetária.
Ao que tudo indicado, o mercado financeiro, a seu juízo, está se amparando no fundamento “esperança”, pois os fundamentos econômicos sugerem cenário bem diferente.