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O fluxo especulativo do 1º trimestre estaria próximo da reversão?

O Brasil teve sua nota de crédito soberana de crédito rebaixada pela agência S&P e, a rigor, sua perspectiva de crescimento econômico não enseja maior atratividade para os IED´s efetivos que precisa como investimento para buscar sair deste marasmo, que tem projeção de crescimento de tão somente 1,63%, com viés de baixa.

A retrospectiva deixa evidente um quadro de deterioração fiscal e política macroeconômica ambígua, que o governo em discurso recente se comprometeu a reordenar, em especial, a questão fiscal, já que a política macroeconômica tem poucas chances de reformulação nesta altura do governo, prestes a nova disputa eleitoral.

Mas o Brasil tem inflação alta. Última projeção do FOCUS é de 6,51% para o final deste ano, tendo, sabidamente, mais algo como 1,50% reprimida nos preços administrados que estão desalinhados.

Por isso, o país precisa manter taxa de juro elevada, o que o torna atraente para o capital especulativo forjado a partir do “carry trade” que busca rentabilidade rápida nos mercados globais com alta taxa de liquidez. O Brasil já proporciona SELIC de 11,0%, o BC emitiu sinais de que pode estar no fim o aperto monetário, mas os dados mais recentes da inflação sugerem o contrário, podendo até haver interrupção, mas dificilmente o encerramento.

Com uma economia fragilizada evidentemente este fato repercute nas ações das principais empresas, com ênfase nas empresas com grande interferência do governo, amplamente prejudicadas pela repressão de margens remuneratórias nos seus negócios com o objetivo de mascarar a realidade inflacionária.

O mercado financeiro demonstrou-se altamente sensibilizado pelas pesquisas eleitorais suscitando perspectivas de mudanças no governo e com isto impulsionaram sobremaneira os preços dos papéis de empresas direta ou indiretamente subordinadas ao governo.

 Para se ter uma ideia em 1 mês, fomentada por pesquisas eleitorais, as ações da Eletrobrás e Petrobrás subiram final da semana passada 56,85% e 36,33% respectivamente e a Bovespa em si 15,89%, e o preço da moeda americana está em patamar extremamente atraente para a retirada do capital com o lucro do país, sendo a 4ª moeda mais valorizada ante o dólar.

Em realidade, não houvesse ocorrido este surto especulativo com recursos externos, o preço da nossa moeda ancorada em expressivo déficit no fluxo cambial teria fechado o 1º trimestre em torno de R$ 2,50, já que o país tem considerável volume de compromissos a saldar este ano, em especial do setor privado que pode não estar propenso à rolagem.

Com este fortuito ingresso especulativo o país pode conter a ampliação do déficit no fluxo cambial, sem, contudo, construir um considerável saldo credor no fluxo, já que no mesmo período ocorreu substantivo volume de saídas de recursos do país, que poderiam ter consolidado a taxa cambial em R$ 2,50 como salientamos, que, contudo, foi amortecido pelo ingresso de recursos especulativos. O Brasil recebeu até o dia 17 US$213,955 Bi Bi e teve US$ 208,522  Bi de saídas, havendo um saldo positivo de US$ 5,433 Bi no ano , contudo insuficiente para cobrir ainda o fluxo negativo oriundo do ano passado, do qual deduzido este montante, ainda restam US$ 10,821 Bi, que estão sendo suportados pelas posições vendidas dos bancos no mercados à vista, ancoradas em linhas externas concedidas pelo BC de US$ 11,701 Bi, equivalentes a 3,10% das reservas cambiais brasileiras.

Se considerarmos somente o fluxo financeiro até 18 de abril temos um saldo de fluxo positivo da ordem de US$ 4,424 Bi em 3 meses e meio, equivalente a 2,99% do montante ingressado, deixando evidente que o movimento de saída foi bastante intenso no período e nem sempre bem observado.

A balança comercial brasileira apresenta desempenho extremamente desapontador, acumulando até a 3ª semana de abril saldo negativo de US$ 5,975 Bi.

O país enfrenta problemas com a situação de parceiros fronteiriços, como a Argentina, que está em situação econômica caótica e o principal parceiro global, a China, dá sinais contraditórios, mas o PMI manufatureiro divulgado confirma que persiste a fraqueza econômica, o que também repercute nas suas demandas ao Brasil.

Afora isto, o país ainda tem um saldo a pagar liquido de comércio exterior da ordem de US$ 10,0 Bi.

Na realidade, o BC vem buscando administrar a taxa cambial de forma que seja contributiva ao combate às pressões inflacionárias, ofertando mais contratos de “swaps cambiais” na forma de novas edições ou rolagens do que necessários. Além da oferta diária de 4.000 contratos, algo próximo de US$ 200,0 M, o BC este mês vem rolando a posição vincenda de US$ 8,733 Bi, da qual já rolou US$ 5,50 Bi.

Como o resultado obtido na BOVESPA foi muito intenso e rápido e com as perspectivas para o país não revelando melhoras, muito pelo contrário, e com a intensificação dos ruídos em torno da Petrobrás, percebe-se que pode estar ocorrendo o desmonte dos investimentos com capitais especulativos em ações, tanto é que ontem a reação observada no pregão já foi diferente das antecedentes quando houve pesquisas eleitorais.

Este é um detalhe a ser observado, tendo em vista que a ocorrência de movimento de reversão do fluxo de capitais especulativos impactará na formação do preço do câmbio, exigindo moeda física e não “swaps cambiais”, e o BC terá que ofertar mais linhas de financiamentos em moeda americana para que os bancos elevem suas posições vendidas ou terá que realizar leilão de venda de dólares à vista para o mercado.

O cenário prospectivo para o setor externo brasileiro continua sendo bastante desfavorável neste ano de 2014 em termos de atração de capitais estrangeiros, tendo sido atenuado pelo fluxo especulativo de recursos externos, que, contudo, normalmente, visam ganho e permanência rápida no país.

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