O câmbio é o ponto crítico das ambições do novo governo

O plano do governo, como havíamos ressaltado em inúmeros comentários que emitimos a respeito, colocam o preço da moeda americana como fator central.

Joaquim Levy já havia definido uma estratégia aparentemente semelhante e que não obteve o necessário e imprescindível apoio, qual seja de fazer a moeda americana, com seu preço não artificializado, o ponto propulsor de curto prazo da economia.

Atualmente, há presente um contraditório com o governo certamente desejando adotar uma estratégia recuperatória e desenvolvimentista a partir do dólar e seus inúmeros efeitos diretos e indiretos e o mercado desejando um preço de dólar ao nível atual, em torno de R$ 3,50, adequado aos seus posicionamentos e interesses atuais.

O governo já fez alguma manifestação “na passant” pró comércio exterior e isto naturalmente passa pelo preço da moeda americana no nosso mercado, um tanto quanto afastado do que temos considerado compatível com o contexto atual do Brasil, já que consideramos que nesta fase, considerado inúmeros fatores, deveria estar em torno de R$ 4,00.

O preço justo e equilibrado do dólar faria, sem ser uma benesse, mas sim um dado real e com fundamentos, o setor exportador ser mais competitivo, e, ter um poder de contração na concorrência favorecida do produto estrangeiro. Promoveria, portanto, benefícios reais ao setor industrial que tem se revelado cadente e com sérias dificuldades de reversão da tendência de perda de atividade, carreando como consequência movimentos de demissões, perda de renda e consumo.

Ressaltamos mais uma vez que não se trataria de benesse gratuita, mas sim de adequação do preço deste relevante ativo compatibilizando-o com os parâmetros atuais da nossa economia.

O Brasil tem, a custa da sua produção agrícola exportada, obtido bom saldo positivo comercial, para o que contribuiu também o recuo das importações, mas não tem sido suficiente para suplantar o volume de capitais financeiros que deixaram o país no mesmo período.

Se nada for feito será bastante provável que o fluxo cambial líquido negativo se amplie e consolide, na medida em que passe a fase das exportações agrícolas mais intensas.

O dólar ao preço atual, distante da sua realidade, aponta para riscos de comprometimento das projeções favoráveis para o desempenho da balança comercial, pois, como vimos, poderá inibir a competitividade do nosso setor exportador, já sem grande animo, e poderá ainda estimular a que sejam retomadas as importações de insumos e produtos acabados, dos quais muitos concorrentes da produção nacional.

Então, em termos de comércio exterior e atividade industrial promoveria o aumento da competitividade do produto nacional no exterior e daria estimulo a produção nacional também pelo aumento da oferta no nosso mercado na medida em que tende a ocorrer a contenção do ingresso barato do produto estrangeiro.

Na ponta isto daria maior consistência ao saldo comercial da balança comercial.

No âmbito financeiro, embora reconheçamos que o investidor estrangeiro seja mais comedido em relação ao Brasil, a taxa cambial desalinhada com a realidade do país representa um expressivo risco. Aplicar na Bovespa em ações e derivativos ou em renda fixa de papéis de governo ou empresas de primeira linha envolve o risco cambial presente bastante elevado e desta forma bastante inibidor aos possíveis investidores.

Evidentemente que o investidor estrangeiro considera o risco cambial existente entre o preço que seria adequado dado o “status quo” da economia brasileira e o preço que vem sendo praticado pelo mercado.

O governo vai ter que agir sobre o comportamento incompatível com a realidade no mercado de câmbio, se efetivamente desejar fazer do preço do dólar ponto central e mais rápido de fomentar estímulo à retomada de atividade econômica.

O Boletim FOCUS continua gerando projeções que podem estar bastante desalinhadas com a realidade se medidas fortes forem tomadas pelo governo para demonstrar eficácia nestes próximos 180 dias.

A inflação projetada pelo IPCA de 7% é naturalmente consequência da recessão que atravessa o país, havendo pouco ou nenhum efeito decorrente da taxa SELIC vigente. Contudo, se houver um choque na direção de recuperação rápida da atividade econômica possível é muito provável que os preços relativos da economia busquem o realinhamento e assim a inflação poderá ser maior.

A respeito do preço da moeda americana já externamos nossa opinião de que precisará, rapidamente, ser reposta em sua realidade em torno de R$ 4,00 para que possa cumprir efetivamente um desempenho colaborativo e estratégico para a retomada da atividade econômica.

No que diz respeito ao PIB é fundamental que se crie um olhar menos negativo sobre a tendência, ou seja que as projeções negativas sejam menores gradualmente, considerando que ainda restam 7 meses deste ano de 2016.

Acreditamos que se o governo permitir efetivamente que o preço da moeda americana seja reconduzido a sua realidade poderá haver uma expectativa menos negativa da produção industrial.

Dólar com preço ajustado sugere que o desempenho do comércio exterior brasileiro seja menos vulnerável, assegurando boas perspectivas de saldo em transações correntes, ancorada na performance mais firme da balança comercial.

IED´s na acepção da palavra, acreditamos que ainda serão comedidos e cautelosos por parte dos investidores estrangeiros, sendo relevante o programa recuperatório da economia que o governo vier a apresentar, que precisa envolver, naturalmente, o ajuste do preço do dólar à realidade do país.

Enfim, continuamos entendendo que centrando na moeda americana o inicio do seu ajuste estratégico da economia, com preço sem artificialização, o novo governo possa ter respostas no curto prazo.

Naturalmente, a grandeza da dimensão da deterioração da economia não permite soluções mágicas, terá que ser solucionada por partes, sem com foco em organizar a política fiscal.

 

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